Pular para o conteúdo principal

NOSSAS CICATRIZES







Segundo a Doutrina Espírita nós, criaturas humanas, somos seres espirituais vivendo, momentaneamente, experiências carnais. Partindo dessa constatação, nós já tivemos muitas existências antes desta e ainda teremos outras tantas após a que estamos agora experimentando.
Ao longo das nossas existências físicas, desfrutamos relações de afeto, mas também experimentamos relações traumáticas e que nos causam feridas, muitas delas bastante profundas. Sejam no âmbito familiar, nas relações amorosas, profissionais e até ocasionais.
Algumas dessas feridas cicatrizam mais rapidamente, às vezes até sem deixar marcas, outras, porém, além de demorarem bastante tempo para cicatrizar, deixam marcas profundas, são aquelas que afetam, mais diretamente, o nosso lado emocional, são exemplos, as traições de natureza amorosa, familiar, de simples amizade, ou profissionais e comerciais, capazes de levar alguém à falência ou coisa semelhante, por exemplo.

Quando o Espírito reencarna, traz consigo, muitas vezes, feridas ainda em aberto, que precisam passar pelo processo de cicatrização através de compromissos que foram assumidos no plano espiritual com tal finalidade. Outras são apenas marcas, causadas pelas mágoas, pelos desenganos, pelas traições e outras de uma natureza qualquer.
Ao reencarnamos, Deus, nosso Pai e Criador, favorece o espírito com o providencial esquecimento do passado, para que possa, assim, exercitar a oportunidade do reencontro e para que, através da proximidade, muitas vezes em uma mesma família, serem construídas novas bases relacionais e de afeto, capazes de fazer com que tais feridas cicatrizem, e passem por um processo cirúrgico total, capaz de apagar cicatrizes, e até certas deformações.
Durante a existência física, embora difícil, nos é possível identificar se as dores que enfrentamos derivam de fatos e atos ocorridos na atual experiência física, ou se trazem algum tipo de relação com existências das quais temos pouca ou quase nenhuma lembrança. Temos, no entanto, um mecanismo lógico que nos permite aventar onde se encontra a causa que agora nos traz tal desconforto.
Se fizermos um acurado exame, com plena consciência e isenção, de que nenhuma das nossas atitudes pretéritas, mas ainda dessa atual existência, possa ter sido a causa da atual situação que nos causa desconforto relacional, teremos aí, com certo grau de certeza, que a causa do problema que enfrentamos se encontra em outra existência.
Se, porém, encontrarmos um pequeno liame que seja, com alguma atitude de nossa parte, ainda que involuntária, fica assim mais fácil compreendermos que a causa de tal situação aflitiva encontra sua origem nessa atual existência. É o caso, por exemplo, se permitimos aos nossos filhos todo tipo de liberalidades e facilidades para lhes satisfazer, materialmente, todas as vontades, chegará um dia em que, não será mais possível recuar e só nos restará enfrentarmos, com humildade, as consequências pela nossa liberalidade excessiva e falta de cuidados.
Esse tipo de raciocínio pode ser aplicado tanto nas relações familiares e amorosas, como nas relações profissionais e comerciais. Diz um velho adágio que o saco se fecha é pela boca e que se arranca o mal é pela raiz, e, às vezes, a raiz se encontra tão profunda, que não mais é possível arrancá-la, portanto só nos restará tentar amenizar seus efeitos, através de uma mudança de atitude, a fim de evitar o cometimento de novos erros, e fazer tudo que estiver ao nosso alcance para suavizar os efeitos e consequências de nossas atitudes passadas.
Entretanto, nem sempre o processo de identificação é tão simples assim, pois as causas são mais profundas, por se encontrarem em outras existências, mas que a mesma lógica anterior pode ser aplicada a fim de identificarmos o que causa tanto sofrimento, se nada fizemos nessa vida atual que possa ter originado tal situação, mas a principal delas reside na Justiça Divina, que não nos obrigará a pagar uma conta com juros, se não estivermos devendo o principal.

De uma coisa estejamos certos, nunca faltará a bondade do Pai, que é Deus, nem a sua Justiça poderá ser avaliada por nenhum dos parâmetros utilizados por nós para julgarmos as nossas atitudes e de nossos semelhantes: Deus é Justiça! Assim, nossas cicatrizes são, não só justas, mas também necessárias!

(*) escritor espírita, membro da AMLEF, voluntário do C.E. Grão de Mostarda e integrante da equipe do programa Antena Espírita.

Comentários

  1. Caro amigo Castro, quantas oportunidades perdemos dias afora sem que a percepção correta dos próprios erros consiga nos impedir a queda no julgamento do outro, enquanto permanecemos na mesma prática inconsciente que nos trouxe ao desvão do conflito?
    Excelente a sua reflexão. Caiu como um flash em mim. Roberto Caldas

    ResponderExcluir
  2. Francisco Castro de Sousa5 de julho de 2015 às 16:30

    Caro Roberto, e a falta dessa percepção sobre os nossos erros deixam marcas, em nós e nos outros. A essas marcas foi que eu chamei de: "As nossas cicatrizes"! Obrigado pelo seu comentário.

    ResponderExcluir
  3. Quem de nós não traz essas cicatrizes, ora provenientes desta vida, ora do passado?!
    O artigo é esclarecedor e consolador, como a Doutrina Espírita que o inspira.
    Que venham outros bons textos como este!


    ResponderExcluir
  4. Excelente reflexão, Castro! Ao longo das nossas existências vamos nos construindo. Lembrei me da linda composição "Tocando em frente" que diz assim: "Cada um de nós compõe a sua história, e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser feliz..."(Almir Sater e R. Teixeira).
    Excelente texto!

    ResponderExcluir
  5. CARO ROBERTO, MUITO BOA E COERENTE A SUA REFLEXÃO, DURANTE A NOSSA EXISTENCIA AQUI NA TERRA, ENFRENTAMOS MUITAS COISAS, SÃO PESSOAS AS VEZES DA PRÓPRIA FAMILIA, E QUE AMAMOS NA MAIOR PARTE DO RELACIONAMENTO IMPLICAM , NÃO ACEITAM A NOSSA OPINIÃO, A NOSSA DOUTRINA ESPIRITA, É ESCLARECEDORA, E FAZ COM QUE A GENTE PENSE EM NOSSAS CICATRIZES, EXISTE TAMBÉM A REGRESSÃO, QUE VAI NOS LEVAR A COMPREENDER O QUE SE PASSA COM A GENTE, E O QUE A GENTE TEM MEDO, POR EXEMPLO DO FOGO.O ASSUNTO É MUITO VASTO E IMPORTANTE, SÓ NOS RESTA REFLETIR E TENTAR COMPREENDER SE AS NOSSAS CICATRIZES, SÃO DESTA EXISTENCIA , SE FOR DEVEMOS PROCURAR CURAR PRA NÃO PASSAR DESTA ENCARNAÇÃO PRA AS FUTURAS.


    BRUNO FILHO

    SOCIEDADE ESPIRITA DOUTOR ANTONIO JUSTA- FORT- CE

    ResponderExcluir
  6. Verinha!
    Colocaste a moldura na pintura do Castro!
    Parabéns aos dois!

    ResponderExcluir
  7. Francisco Castro de Sousa7 de julho de 2015 às 11:46

    Que bom que esse texto tenha inspirado tantos comentários, cada um tentando mostrar a sua maneira de interpretar o que foi escrito e que, de alguma maneira, toca de forma bastante significativa o viver de todos nós. Quero fazer um registro, retirei essa ideia de um diálogo que meus dois filhos mais novos, o rapaz e a moça, mantiveram pelo WhatsApp sobre situações vividas por eles enquanto residiam juntos, tendo como início uma música recorrente no quarto de um deles, quando, ao final, um deles disse: Que seria de nós sem as nossas cicatrizes! Pois é, parece que todos nós as temos, uns mais, outros menos! Obrigado por externarem as suas opiniões, é muito bom para quem escreve saber como o que escreveu toca os leitores!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Castro,
      Além de tudo, o artigo é o primeiro no Top 10 do Canteiro. (coluna à esquerda). Nesse exato momento, já alcançou a marca de 100 acessos.
      Parabéns!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC E A DOUTRINA ESPÍRITA

  Por Doris Gandres Deolindo Amorim, ilustre espírita, profundo estudioso e divulgador da Codificação Espírita, fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, em dado momento, em seu livro Allan Kardec (1), pergunta qual o objetivo do estudo de uma biografia do codificador, ao que responde: “Naturalmente um objetivo didático: tirar a lição de que necessitamos aprender com ele, através de sua vida e de sua obra, aplicando essa lição às diversas circunstâncias da vida”.

PUREZA ENGESSADA

  Por Marcelo Teixeira Era o ano de 2010, a Cia. de teatro da qual Luís Estêvão faz parte iria apresentar, na capital de seu Estado, uma peça teatral que estava sendo muito elogiada. Várias cidades de dois Estados já haviam assistido e aplaudido a comovente história de perdão e redenção à luz dos ensinamentos espíritas. A peça estreara dez anos antes. Desde então, teatros lotados. Gente espírita e não espírita aplaudindo e se emocionando. E com a aprovação de gente conhecida no movimento espírita! Pessoas com anos de estrada que, inclusive, deram depoimento elogiando o trabalho da Cia. teatral.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

A CULPA É DA JUVENTUDE?

    Por Ana Cláudia Laurindo Para os jovens deste tempo as expectativas de sucesso individual são consideradas remotas, mas não são para todos os jovens. A camada privilegiada segue assessorada por benefícios familiares, de nome, de casta, de herança política mantenedora de antigos ricos e geradora de novos ricos, no Brasil.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

O MOVIMENTO ESPÍRITA MUNDIAL É HOJE MAIS AMPLO E COMPLEXO, MAS NÃO É UM MUNDO CAÓTICO DE UMA DOUTRINA DESPEDAÇADA*

    Por Wilson Garcia Vivemos, sem dúvida, a fase do aperfeiçoamento do Espiritismo. Após sua aurora no século XIX e do esforço de sistematização realizado por Allan Kardec, coube às gerações seguintes não apenas preservar a herança recebida, mas também ampliá-la, revendo equívocos e incorporando novos horizontes de reflexão. Nosso tempo é marcado pela aceleração do conhecimento humano e pela expansão dos meios de comunicação. Nesse cenário, o Espiritismo encontra uma dupla tarefa: de um lado, retornar às fontes genuínas do pensamento kardequiano, revendo interpretações imprecisas e sedimentações religiosas que se afastaram de seu caráter filosófico-científico; de outro, abrir-se à interlocução com as descobertas contemporâneas da ciência e com os debates atuais da filosofia e da espiritualidade, como o fez com as fontes que geraram as obras clássicas do espiritismo, no pós-Kardec.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.