quarta-feira, 22 de julho de 2015

CRÔNICAS DO COTIDIANO: "O SEXO DE DEUS."

“A teologia ortodoxa diz que todos os seres humanos são feitos à imagem de Deus, que Deus não tem um gênero. Portanto, quando falamos de Deus só na forma masculina, no final das contas, estamos fazendo uma compreensão deficiente do que é Deus”
(Jody líder do grupo que quer o reconhecimento de Deus como mulher)


Por Jorge Luiz (*)



            Com o propósito de combater o sexismo, um grupo de religiosas ligadas à igreja da Inglaterra, querem que Deus seja reconhecido como mulher, alegando que na Bíblia o tratamento é sempre expresso com o sentido do sexo masculino.
            A visão antropomórfica de Deus, ainda é o grande entrave para uma convivência pacífica entre os indivíduos e as religiões. Fazendo Deus à imagem e semelhança do homem, dão ênfase em Deus a todos os atributos do homem. Não poderia ser diferente quanto à questão da sexualidade. Os atributos de Deus não se confundem com a miséria humana.
            Os Espíritos Reveladores no capítulo I de “O Livro dos Espíritos”, advertem que falta um sentido (grifamos), para se compreender a natureza de Deus. Eles continuam: na medida que nos elevamos sobre a matéria, através do pensamento iremos percebendo melhor a sua natureza.

Em outras palavras: os sentidos do sistema sensorial (visão, olfato, audição, tato e gosto) não oferecem recursos para a compreensão acerca do Criador. Pode-se dizer, portanto, que falta o sentido da religiosidade. Ou, quem sabe, que ele está em desenvolvimento.
Ora, isso é facilmente observável se for estudar a evolução da natureza de Deus através dos tempos.
Em “O Livro dos Espíritos”, capítulo II, na Lei de Adoração, Os Espíritos Reveladores ensinam que esse sentimento é inato e faz parte da lei natural. É através dele que a alma eleva o pensamento e se aproxima de Deus.
            Deus já foi mulher. Quem afirma isso é a eminente socióloga, advogada e ativista social, Riane Eisler, em sua obra “O Calice e a Espada”, quando afirma:
“Negar completamente que o feminino – e, portanto, a mulher – participa da divindade é algo espantoso, principalmente porque boa parte da mitologia hebraica derivou dos mitos mesopotâmicos e cananeus anteriores. Mais espantoso ainda, porque as evidências arqueológicas mostram que, muito depois das invasões hebraicas, o povo de Canaã, incluindo os próprios hebreus, continuou a venerar a Deusa.”
Ela continua:
“...a Deusa parece ter sido adorada originalmente em todas as sociedades agrícolas antigas. Há evidências de divinização da fêmea – que, por sua natureza biológica, dá a luz e sustenta seus filhos, exatamente como a Terra – nos três centros principais que originaram a agricultura: Ásia Menor e Sudeste Europeu, Tailândia e Sudeste Asiático, e mais tarde também na América.”
            Eisler tem razão. Veja o que está escrito em Jeremias 44:17:
“É certo que faremos tudo o que dissemos que faríamos - queimaremos incenso à Rainha dos Céus (grifamos) e derramaremos ofertas de bebidas para ela, tal como fazíamos, nós e nossos antepassados, nossos reis e nossos líderes, nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Naquela época, tínhamos fartura de comida, éramos prósperos e nada sofríamos.”
                        Émile Durkheim, ao estudar o fenômeno religioso em sua festejada obra, “As Formas Elementares da Vida Religiosa”, afirma: “Deus é a expressão figurada da sociedade”.
         Na marcha do seu desenvolvimento anímico o homem começa o processo de racionalização a partir de experiências concretas; não há ainda abstrações, que só irão aparecer no período do pensamento mágico. O ponto de partida, segundo as pesquisas, inicia-se no totemismo, passando pela litolatria, fitolatria e zoolatria. No politeísmo (do grego: polis, Théos, deus: muitos deuses) se encontrará várias divindades dos dois gêneros: masculino e feminino, com habilidades individuais, necessidades, desejos e histórias.
            Mircea Eliade em sua obra O Sagrado e o Profano, acentua que “...os Seres supremos de estrutura celeste têm tendência a desaparecer do culto; “afastam-se” dos homens, retiram-se para o Céu e tornam-se dei otiosi. (deus ocioso).” “Aos poucos, continua ele, o lugar deles é tomado por outras figuras divinas: os Antepassados míticos, as Deusas-Mães, os Deuses fecundadores, etc.”
O homem avança nesse processo alcançado a compreensão de um Deus uno, embora antropomorfizado à imagem e semelhança de si; com virtudes e defeitos, a exemplo de Javé, o deus da tribo de Abraão, muito embora o culto a outras divindades tenha permanecido.
Em um contexto eminentemente patriarcal, Jesus com o seu cântico de amor, designa-O de Pai, para que a Humanidade se sentisse irmanada, louvando-O na oração dominical, “Pai Nosso que estás no céu...”
            “Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos”. O escrito de Nietzsche é o ápice da antropomorfização de Deus. O que caracteriza esse período é uma valorização grandiosa do conhecimento, quando inteligências notáveis apresentam sistemas de ideias que pretendem dar uma solução a todos os problemas humanos e apresentar conceitos finalistas para a história.
Eis, entretanto, que as Vozes dos Imortais, respondendo a Allan Kardec, conceituam Deus como inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, desantropomorfizando-O e elencando seus atributos: eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom.
            Deus é espírito (Jo,4:24). Os Espíritos, criados à imagem e semelhança de Deus (Gn, 1:26-27), como seres inteligentes da criação (Q.76, de O L.E), podem animar corpo de qualquer gênero (Q. 201 de O L.E.), pois não têm sexo. (Q. 200 de O L.E.) 
            A saga evolucionista da compreensão de Deus pelo homem no tempo, prossegue. Guarda sempre correlação com o seu desenvolvimento anímico e foi bem interpretada pelo professor e filósofo José Herculano Pires, em sua obra Concepção Existencial de Deus:
                       
“O homem finito não pode conceber o infinito como uno e absoluto, senão através das experiências do real.”

            O Homem foi criado por Deus por amor e para amar; Deus, portanto, é AMOR. (1 Jo, 4:8).

REFERÊNCIAS:
EISLER. Riane. O cálice e a espada. São Paulo. Palas Athena. 2007;
ELIADE. Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo. Martins Fortes. 2001;
DURKHEIM. Émile. Formas elementares da vida religiosa. São Paulo. Martins Fortes. 2000;
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo. LAKE. 2000;
PIRES, Herculano. Concepção existencial de Deus. São Paulo: Paideia, 1981.
THOMPSON, Frank Charles. A Bíblia Thompson. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 2007.


            (*) blogueiro e expositor espírita.

2 comentários:

  1. Gostei.Tá bem colocado e é por demais oportuno.
    Antes de tornar o homem espírita, devemos fazê-lo espiritualista.
    E a base deve ser bem feita.
    Uma justa compreensão de Deus é a base de um crença sólida e sem jaça.

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  2. Francisco Castro de Sousa24 de julho de 2015 às 10:55

    Deus, para o filósofo inglês Richard Dawkins, é um Delírio e para a Doutrina Espírita Deus é a Causa Primária de tudo que existe, e a Lei de Deus não está escrita, ela se encontra impressa nas nossas consciências, veja-se a Q.621 de O Livro dos Espíritos. Parabéns Jorge, o tema é bastante atual e nos leva à reflexão!

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