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EVOLUIR É UMA ROTINA¹





 Por Roberto Caldas (*)



A rotina das pessoas, como o nome o indica é um desenrolar de situações que se repetem à exaustão. Não há como fugir de suas premissas seja qual for a vocação ou a direção que tenha sido escolhida para percorrer. Não importa que a escolha resvale numa atividade conservadora ou numa grande sucessão de aventuras. Piscou, a rotina logo se estabelece.  Esse fato é uma grande armadilha para aquela pessoa que tem a pretensão de viver de forma completamente livre e original, por maior que seja a sua genialidade, acaba por se transformar em alguém que teve muitas ideias e boas intenções, mas não terá conseguido produzir nada de importante para si nem para o mundo, decorridos os dias de sua existência. O conquistador de qualquer monta, da arte, do esporte, da ciência é alguém que se submeteu aos exercícios diários de construção com todos os cansaços que isso provoca.
A repetição é a lei que o Universo escalou para toda realização que alcançou a sua completa finalização. São minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios de dedicação para que se alcance uma conclusão. O objetivo do que se quer é que determina o tempo suficiente para se alcançar o controle final. Até lá a estrada será uma sucessão de exigências e disciplinas, sem as quais um refluxo de recomeços leva o candidato a um eterno trilhar de primeiros passos, até que se curve à necessidade de aceitar a rotina.

A regra se aplica necessariamente à existência do Espírito imortal. É sabido que uma única existência sobre a Terra nem de perto é suficiente para que se tenha domínio do caudaloso manancial de conhecimentos que o planeta oferece ao aprendizado, nem que se vivesse por 150 anos no corpo. Tampouco os aprendizados de convivência e entendimento interpessoal poderiam ser apreendidos por quem quer que seja numa única e longa existência. O Livro dos Espíritos, na questão 166, inquire o que se há de fazer quando se encerra uma encarnação e não se atingiu ainda a pretendida perfeição, ao que respondem os Espíritos Orientadores da Codificação: “submetendo-se à prova de uma nova existência”, simples assim. Reencarnar é rotina na vida de um Espírito, nenhum de nós foge à regra, não importa espernear, dizer que não aceita, mostrar-se indiferente. É lei. Ponto.
É tão lógico o princípio dos renascimentos que aqueles que se interpõem a ele são de uma fragilidade de raciocínio tamanha que dá pena, pois somente operam em duas direções: a condenação ao céu/inferno ou à condenação ao fim. Ir para o céu ou o inferno ETERNAMENTE por uma existência de alguns anos, mesmo que seja de mais de 100 anos é injusto pela aplicação da proporcionalidade de tempo, respeitado até pela frágil lei humana avaliemos a Lei de Deus e faria da divindade uma instituição INJUSTA, enquanto a condenação ao fim por mais que seduza não tem o menor respaldo da razão, como podemos ver em Vinicius & Toquinho (Quotidiano nº2): “Às vezes quero crer mas não consigo. É tudo uma total insensatez. Aí pergunto a Deus, escute amigo: Se foi pra desfazer, porque é que fez?”.
O Universo é feito de rotina. Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a lei. Essa a rotina que Allan Kardec nos trouxe. Aproveitemos o dia de hoje para fazermos o melhor que possamos, apesar das nossas limitações.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 29.09.2013.
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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