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ESCULTURANDO O COMPORTAMENTO¹





 Por Roberto Caldas (*)



Estamos na Terra por uma condução exitosa da lei dos nascimentos. Significa que os nossos pais, dificuldades à parte, deixaram que a conjunção biológica de suas vidas evoluísse além do embrião alcançando a maturidade gestacional e finalmente eclodisse na pessoa que nos tornamos nos dias atuais. Frutos dessa comunhão sexual retratamos o mundo cultural e emocional muito mais ampliado que, naturalmente estabeleceram os padrões de educação e o ambiente familiar que norteou os primeiros anos de nossa atual existência. Os valores que definem as características que gritam em nossa mente no primeiro momento em que nos vemos diante de uma situação nova provavelmente foram incutidos pela repetição de diálogos, que ficaram registrados nos contatos com os indivíduos que marcaram a nossa infância, especialmente aqueles que detinham autoridade sobre os nossos atos. Essa natural evolução sociológica da família vai conseguir influenciar todo o processo de convivência que estabeleçamos no decorrer dos anos.
            Compete-nos como adultos a reavaliação de tais influências. É comum escutarmos algumas histórias que tendem a perpetuar frequências emocionais de desequilíbrio sob a justificativa do que fora testemunhado no passado e que apesar de extremamente desagradáveis são repetidas, como se fosse inexorável. Outras tantas que expressam medo, ansiedade, baixa autoestima, raiva. Felizmente que a grande maioria de nossas reverberações retratam orientações éticas adequadas e ajudam a definir a solidez de nossas escolhas.

            É importante que consideremos, no entanto que a mente espiritual que nos define se encontra muito além do cérebro que nos serve de instrumento de trabalho nessa encarnação. Apesar do esquecimento parcial de muitas das experiências da infância e da inconsciência total dos fatos de outras existências temos um roteiro de ajustes que se encontra fortemente implantado em nossa memória essencial, embora em parte desconhecido. A forte influência do corpo não é suficiente para obscurecer os elementos espirituais dos processos de nossa encarnação e as falhas de comportamento, que expressamos como resultante do aprendizado, não passa de sintonia vibracional antes de qualquer explicação que se busque na Genética. Afinal de contas, conforme expressa a opinião dos Espíritos da Codificação questionados (p. 361) a respeito da origem das boas e más qualidades morais exibidas pelo encarnado: “São do Espírito encarnado nele; quanto mais o Espírito for puro, mais o homem é levado ao bem”.
            O fato é que precisamos anistiar em nossos julgamentos as pessoas que, de forma acidental ou premeditada, patrocinaram momentos que nos marcaram de maneira a ferir os nossos sentimentos. Certamente elas mesmas haverão de alcançarem um espaço de reflexão que lhes realinhe a conduta. Quanto a nós é fundamental não carreguemos em nossas costas o peso de uma ação que não produzimos. A eliminação dos traços de angústia e medo não é uma tarefa fácil, mas é sem sombra de dúvidas um passo necessário, sem o qual tardaremos muito na conquista de nossa liberdade espiritual. Preciso refletir no espelho da alma e daí para os olhos do corpo toda a força que habita em nós.  

¹ editorial do programa Antena Espírita de 27.10.2013.

(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
  

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