Pular para o conteúdo principal

POR QUE AMAR?







            

             O amor é a sutilização dos sentimentos, a transformação dos instintos, o desabrochar do divino na criatura.
      Todo o cosmo, toda a natureza, toda a harmonia e toda a perfeição existentes expressam-se e conjugam-se pelo amor.
            O Espírito é, mesmo quando não sabe, dirigido e regido por este sentimento, atraído de forma irrecusável por ele e impelido para desenvolver-lhe no íntimo o gérmen que dormita e bruxuleia em ações.
            Na deambulação evolutiva pelas estradas palingenésicas, o princípio inteligente vai aprendendo a utilizar seus pendores instintivos da autoconservação e da perpetuação da espécie, sem nem mesmo desconfiar serem os mesmos os primeiros indícios daquele sentimento maior. Instintos que se aperfeiçoam e se automatizam ganham foros de sensações que, de sua parte, se transformam em sentimentos a se sublimarem de tal maneira a resplender o vero amor, o mesmo que Jesus de Nazaré exercitou e exemplificou entre nós em sua encarnação terrena.
            O amor, portanto, vai assumindo, com o progresso anímico, gradações diversas desde a sua forma mais elementar à mais complexa, desde a mais grosseira à mais transcendental na tendência infinita do Amor de Deus.

            O Amor de Deus! Em sua grandiosidade inconcebível, somente pode se traduzido, para seres bestiais como nós, através da Sua Misericórdia, da Sua Justiça, da Sua Providência. É bastante, para concebê-lo dentro das nossas possibilidades, mirar a natureza, serva paciente do homem. Quanta beleza a nos encher as retinas da alma em poesia não se lhe excede! Quanta paz não nos infunde a visão do céu estrelado e a brisa da manhã! Quanta lição de sabedoria na Engenharia Divina em que o homem apenas se inicia no terreno de imitar-lhe alguns poucos espécimes! Quanto sentimento de busca e aconchego não nos proporciona a chuva que cai de mansinho em ritmada coreografia, sob o influxo de sua doce balada! Ah! Quão imenso é o amor do Criador por Suas criaturas! E como somos ainda tão ignorantes disso!
            Mas, dizia eu, o ser evolutivo vai galgando posições. Primeiro vai desenvolvendo o amor por ele mesmo, estranho que se acha de si próprio, ignorante da sua individualidade. Aos poucos ele sente todo o universo como se fora seu e feito para si. Tudo gira em torno de si – o egocentrismo. Mais alguns passos e, por necessidade, é guindado à valorização do clã – ensaios do antropocentrismo. A natureza, porém, é-lhe vital ao que ele considera como o seu maior bem – a vida orgânica –e, por isso mesmo, o seu sentimento se direciona para ela. Todos esses passos devem conduzir-lhe ao ponto máximo do exercício amoroso, capaz de infundir-lhe tamanho grau de felicidade que viver passas a ser, sob quaisquer condições, um eterno gozo, resultado de sua sintonia com a Divindade.
            No entanto, os caminhos não se fazem em linha reta – embora sem perda do que aprendeu em pretéritas experiências -, mas em espiral, como visto, faz-se sob multip0licadas formas. Amor próprio, amor carnal, amor sentimental, amor tribal, amor fraternal, amor filial, amor paternal, amor maternal...
            O amor de um homem por uma mulher e vice-versa tem, a princípio, o forte apelo animal que tenderá, com o domínio e administração dos instintos, a uma relação cada vez mais pautada na necessidade de ampara e auxiliar o outro, fruto da verticalização do amor.
            O amor filial, embora às vezes se vincule a uniões esponsalícias ou maritais pretéritas, põe o ser sob a tutela do outro, permitindo-lhe desenvolver a estima desinteressada e o respeito incondicional; enquanto os amores paternal e maternal favorecem o desenvolvimento da abnegação e do sacrifício em favor do rebento.
            Essas etapas podem ser trabalhadas individualmente, mas comumente os ensaios se processam em diversas direções e a família, instituição relativamente recente, fruto do progresso espiritual da criatura humana, é o cadinho permissor e depurador dessas variedades múltiplas, pois em uma só encarnação possibilita ao ser o exercício continuado e sob múltiplas condições daquelas etapas assinaladas.
            Amar é conhecer-se tão profundamente, ao ponto de se identificar sem receios com todo o gênero humano e mesmo com todas as criaturas e com toda a criação. É dispor-se à doação tão completamente que quem ama com tamanha magnitude é transportado à condição maior de co-criador com o Pai Celestial. É comprometer-se com a infinitude dessa criação e da vida palpitante em todo o Universo.
            A Doutrina espírita, por conter as respostas aos questionamentos da existência e definir os rumos da alma em sua romagem terrena e do Espírito em sua peregrinação evolucional, fomenta o desenvolvimento mais firme do amor, porque faz-nos entendê-lo no seu como e no seu porquê. Com ela bem compreendida e incorporada aos valores próprios, não se ama por imposição, mas por compreensão, mas por consideração; não se ama com presunção, mas com humildade; não se ama sob condições, mas incondicionalmente; não se ama unicamente o particular, mas o geral.
            A\Caridade, consequência natural da consciência amorosa, não dispensa o conhecimento, ao contrário busca-o e necessita-o para a sua sustentação. Pois quanto mais se conhece o porquê, mas se ama e quanto mais se ama, mais se deseja ir ao encontro do objeto desse amor, para somar possibilidades, multiplicar emoções, dividir as necessidades e contrabalançar as asperezas que lhe curem os caminhos.
            O “amai-vos e instruí-vos”, prescrito pelo Espírito da Verdade, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, não propõe ações separadas, mas concomitantemente; não preconiza etapas estanques, mas o estágio próprio do Espiritismo que associa o conhecimento que liberta ao amor que felicita; a razão que lubrifica a mente ao amor que odoriza a alma.
            “Amai-vos e instruí-vos” é, portanto o ponto intermediário da passagem do amor compulsório que até agora em nós vem desenvolvendo para o amor bem compreendido e consentido e procurado e trabalhado e burilado pela vontade própria.
            “Toda a Lei e os Profetas se resumem no bem amar”, porque o amor em plenitude constitui-se na felicidade tão acalentada e almejada por todos.
            O amor é a sutilização dos sentimentos, a transformação dos instintos, o desabrochar do divino em nós.



Comentários

  1. Great subject! :)
    This is one of the most beautiful feelings ever!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Belíssimo conteúdo!!!!
      Ele é a lapidação de toda a ignorância .
      Tudo um dia será transformado em luz,porque por todos nós ele foi atingido.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…