sexta-feira, 13 de julho de 2012

A SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO ESPÍRITA (II)

Por Jorge Luiz

    Dando sequência ao tema em questão, inicialmente abordado no “canteiro” de 24 de junho último, comentarei as três etapas criadas por Peter Drucker (1909-2005), com o propósito de responder as cinco clássicas perguntas: Qual a nossa missão? Quem é o nosso cliente? O que o nosso cliente valoriza? Quais são nossos resultados? e Qual é o nosso plano? Esse processo de autoavaliação foi desenvolvido por Drucker para as empresas do Terceiro Setor, no qual se inserem as Instituições Espíritas.
      O método parte do princípio que há mentes e corações envolvidos, portanto é uma aventura intelectual e emocional, e estabelece através do diálogo, uma discussão sobre o futuro e sobre como uma organização irá moldá-lo: é uma jornada para o futuro. Naturalmente que não tenho a intenção de abordar de forma detalhada todo o processo, mas pelo menos apresentar um esboço das etapas que compõem essa ferramenta.


            1ª Etapa – Preparando-se para a Autoavaliação:

            As providências dessa etapa são determinantes para a construção do processo bem-sucedido de autoavaliação. O principal Dirigente da Casa Espírita assumirá o compromisso com todos os passos que os delineia, desde as reuniões iniciais até a aprovação do Plano. Assim se constituirá essa etapa:


  • Passo 1: Obter o compromisso da Diretoria;
  • Passo 2: Escolher os participantes e definir o plano do processo;
  • Passo 3: Formar a equipe de avaliação;
  • Passo 4: Selecionar um facilitador e um redator;
  • Passo 5: Anunciar o processo, convidar os participantes e confirmar as datas principais;
  • Passo 6: Realizar uma sondagem ambiental e coletar os dados internos.
            É importante frisar que nessa etapa as abordagens dos membros da diretoria e dos colaboradores apresentaram os mais diversos graus de compreensão, entusiasmo e preocupação. O ideal, no entanto, é que todos os que forem chamados a participar apoiem incondicionalmente o desafio da autoavaliação.

            2ª Etapa – Conduzindo o processo de Autoavaliação:

            Nessa etapa a autoavaliação é levada para dentro da organização, tornando-a parte do dia-a-dia de muitos participantes, e para fora da organização, em busca do que seus frequentadores valorizam. Nessa fase as entrevistas e as discussões facilitadas orientam os participantes a responder às Cinco Perguntas e gerará um relatório de forma sintética com as conclusões dessa jornada. Vejam os passos:
  • Passo 1: Orientar os participantes; distribuir os formulários de pesquisa e um resumo da sondagem ambiental;
  • Passo 2: Conduzir uma discussão em grupo sobre as três perguntas primeiras perguntas;
  • Passo 3: Realizar pesquisa de opinião e entrevistas intensivas com os frequentadores;
  • Passo 4: Conduzir uma discussão em grupo sobre a quarta e a quinta perguntas;
  • Passo 5: Preparar e distribuir o relatório final.
 3ª Etapa – Concluindo o Plano

           Essa etapa é dedicada a finalizar a missão da Instituição e elaborar o plano. Termina com a oportunidade de avaliar como o processo intensificou seu senso de propósito, ajudou a esclarecer suas metas e provou ser uma aventura de autodescoberta organizacional.
São os seguintes os cinco passos dessa etapa:
  • Passo 1: Revisar a missão (caso necessário); confirmar metas e resultados;
  • Passo 2: Desenvolver os objetivos, os passos das ações e o orçamento (administração);
  • Passo 3: Preparar o plano para apresentar à Diretoria;
  • Passo 4: Apresentar a missão, as metas e o orçamento para aprovação da diretoria;
  • Passo 5: Distribuir o plano, confirmar as responsabilidade e as datas para a avaliação inicial.
            O que pretendo com isso? Pretendo demonstrar que ao longo do tempo as dificuldades inerentes à governança das Casas Espíritas forma estudadas, analisadas e avaliadas de forma pontual. Isso não quer dizer, no entanto, que a metodologia não trouxe resultados. Claro que trazem resultados.
             As reflexões com a teoria druckeriana abre a possibilidade que teremos de autoavaliar as Instituições Espíritas de uma forma integral, ouvindo todos os seus atores, na busca de se encontrar a Sustentabilidade de Gestão, não só econômico-financeira, mas organizacional, participativa, motivacional, mas acima de tudo Doutrinária.
            Repito, a administração espírita existe e busca uma identidade. O seu modelo ainda é baseado em um empirismo incompatível com a contemporaneidade e com os desafios que ela enfrenta.
            A administração dessas organizações pode ser feita por voluntários e profissionais contratados para tal fim que serão responsáveis pelos objetivos e pelo desempenho. Allan Kardec já contempla essa necessidade no item IX, das Vias e Meios, na Constituição do Espiritismo em “Obras Póstumas.” Leiam:

“... se não dispuserem de tempo, não poderão consagrá-lo àquelas funções. Importa, pois, que sejam retribuídos, assim como o pessoal administrativo. A Doutrina com isso ganhará em força, em estabilidade, em pontualidade, do mesmo passo que constituirá um meio de prestar serviços a pessoas que dela necessite.”

            Seguindo a linha de raciocínio de Kardec, Drucker atesta que a sustentabilidade financeira das Instituições do Terceiro Setor, ponto nevrálgico das nossas Instituições, tem que ser fomentada pelos seus clientes. No contexto espírita, os frequentadores, o que concordo, embora sabendo da polêmica que essa afirmativa possa gerar.
            Polêmica desnecessária. No Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, inserido no capítulo XXX em “O Livro dos Médiuns”, artigo 15, lê-se: “Para prover às despesas da Sociedade será cobrada uma cota anual de 24 francos dos titulares e de 20 francos dos sócios livres. Os membros titulares pagarão também uma joia de 10 francos quando de sua admissão. A cota é paga integralmente para o ano em curso.”
            Nos últimos anos a manutenção financeira de um expressivo número das Casas Espíritas passou a depender da campanha do Governo do Estado do Ceará “Sua Nota Vale Dinheiro”. Soube recentemente que a Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará está em via de mudar o procedimento dessa campanha. O CPF ou CNPJ será impostado pelo próprio contribuinte no momento da compra como já acontece em outros Estados. Um exemplo é o Distrito Federal onde os valores acumulados são compensados em Impostos do próprio contribuinte. No Sul do Estado quando ocorreu mudança na sistemática foi um “Deus nos acuda” para os Centros Espíritas.
            Como será em nossa realidade? Só o tempo dirá!
            Allan Kardec já advertia a esse respeito em Obras Póstumas, no capítulo já citado: “Assentar despesas permanentes e regulares sobre recursos eventuais, implicaria falta de previdência, que mais tarde haveria de deplorar.”
            Para um melhor entendimento sobre essas ideias sugiro a leitura da obra “Terceiro Setor – Ferramenta de Autoavaliação para empresas”, de Peter Drucker, editora Futura, bem como todo capítulo “Constituição do Espiritismo”, inserido em Obras Póstumas.

Um comentário:

  1. Excelente artigo! Principalmente no que diz respeito a questão da contribuição financeira dentro da Casa Espírita, assunto sempre polêmico e de dificil discussão.
    Parabéns pela escolha do tema!

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