Por Orson Carrara
Afirma Kardec, no final do item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos, que as três palavras que usamos como título, “são paixões que nos aproximam da natureza animal”. Nada mais coerente. Cada uma daquelas palavras abre uma perspectiva imensa de análises, reflexões e desdobramentos na vida humana, respondendo pela maioria das tragédias e dramas humanos.
Afinal, em linhas gerais, o egoísmo é indiferente e na maioria das vezes, omisso, mas também gerador de apegos múltiplos; o orgulho cria ilusões variadas de superioridade ou de exagerado autovalor perante o semelhante e a sensualidade é causadora de muitos conflitos interiores e de relacionamentos. É que normalmente criam os grandes apegos à vida material.
Diz o Codificador que esses ensinamentos foram transmitidos pelos Espíritos e acrescenta: “que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual”. Muito oportuno! Esse “desligar da matéria e desprezo das futilidades mundanas” não é sinônimo de negligência com as necessidades da vida material, mas não apego, não escravização às questões materiais. Sabe-se, em primeira mão, que o espírito tem imensa necessidade da vida material para progredir. Vide item 25 do capítulo 4 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no subtítulo Necessidade da encarnação.
É que é exatamente nas existências corpóreas que o espírito se desenvolve no intelecto, na moralidade, no sentimento, aprimorando-se, exercitando-se. E então os Espíritos ensinaram e Kardec coloca ali naquele já citado item da Introdução: “que cada um deve tornar-se útil, de acordo com suas faculdades e os meios que Deus lhes pôs nas mãos para experimentá-lo”.
Notemos, com clareza, que “esse tornar-se útil” é o oposto daquelas paixões que escravizam o espírito durante a experiência carnal. E mais: “que o forte e o poderoso devem amparo e proteção ao fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante.”
Nesse pequeno último trecho transcrito, observando sua atualidade nos quadros em vigor no planeta – influência direta daquelas paixões – vemos a luta que o espírito encarnado se defronta em seu próprio cotidiano.
Tudo isso de vez que, conforme também o trecho em referência: “que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados “. E cite-se: não existem castigos, mas meras consequências, meros desdobramentos de nossas próprias ações.
As citações aqui trazidas são parciais do resumo da Doutrina Espírita, que os Espíritos ensinaram, e que Kardec apresenta naquele item da Introdução de O Livro dos Espíritos.
Será interessante que se busque o item, o de número VI, para leitura integral. Muito se aprenderá na leitura atenta, reflexiva, só sobre aquele item. O acréscimo de raciocínio que forma base para outros, é imenso.
É isso. É a riqueza do conhecimento espírita. Sua lucidez e grandeza estão sempre a nos ensinar, mas é preciso a iniciativa de buscar e estudar.
Se ainda não conseguimos nos libertar daquelas mazelas, pelo menos já vamos exercitando, ainda que mentalmente, para depois viver na prática o dispensar dessas algemas que ainda fazem sofrer, gerando quadros de angústia.
Por oportuno destaco as questões abaixo de O Livro dos Espíritos, diretamente ligadas ao tema:
85. Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal, na ordem das coisas?
“O mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo.”
86. O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita?
“Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem.”
COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA
ResponderExcluirO texto de forma concisa e clara destaca a centralidade da análise kardequiana sobre o egoísmo, o orgulho e a sensualidade como "paixões que nos aproximam da natureza animal", sendo fontes de sofrimento e dramas humanos. O autor enfatiza a importância de "desligar-se da matéria" em termos de apego, não de negligência, para aproximar-se da natureza espiritual, um processo que se desenvolve nas experiências corpóreas. A utilidade ao próximo, a proteção ao fraco e a inevitável transparência no mundo espiritual contrastam com as consequências negativas dessas paixões. O texto finaliza incentivando a leitura integral do item VI da Introdução de "O Livro dos Espíritos" e a reflexão sobre a primazia do mundo espiritual e sua constante interação com o mundo corpóreo. Em suma, o comentário ressalta a atualidade e a profundidade da visão espírita sobre as raízes do sofrimento humano e o caminho para a evolução espiritual.