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PERSCRUTANDO A MEDIUNIDADE NA IGREJA CATÓLICA

 


Embora o Catolicismo negue o fenômeno da mediunidade, é possível através de pesquisa bibliográfica observar que o intercâmbio entre vivos e mortos também pode acontecer em seus arraiais.

O saudoso amigo Aureliano Alves, erudito espírita de Caruaru, Pernambuco, deixou-nos alguns apontamentos, resultantes de cotidiana consulta em sua vasta livraria, desde que ele tinha muito apreço pela leitura, dedicando-se com afinco aos livros. Pois bem, esse estimado “rato de biblioteca”, prefaciador de alguns livros de minha lavra, revela um fato mediúnico, envolvendo o espírito de Pio X, aparecendo ao então cardeal Pacelli, com o propósito de prepará-lo para se assentar na Cadeira Papal, substituindo Pio XI.

Aureliano relata, igualmente, que Pio X, em pleno exercício do papado, se revelou portador da mediunidade intuitiva, em três situações, a seguir enumeradas: 1-Em uma cerimônia religiosa, de súbito, ordena que fosse apagada uma das velas do altar. Posteriormente, foi verificada a existência de um artefato explosivo naquele elemento litúrgico, composto de cera, pavio e fogo; 2- Outro fato paranormal aconteceu quando uma criança surda e muda foi levada à presença do pontífice, o qual se recusou a recebê-la, argumentando não haver mais necessidade pois que a menina já estava curada. Esse acontecimento foi inteiramente comprovado por algumas pessoas; 3- Em outra oportunidade, Pio X cancela uma audiência programada, alertando ao seu secretário que a senhora acabara de falecer na sala de espera, o que foi confirmado em seguida (1).

Em um de seus valiosos livros, O Apóstolo do Espiritismo, Léon Denis, dá a lume dois importantes casos mediúnicos ocorridos no Vaticano. O primeiro, retirado de “Safônius, capítulo CXLVII, versa a respeito de uma carta célebre escrita pelo papa São Leão, a respeito da heresia dos sacerdotes Eutíquio e Nestório, endereçada a Flaviano, bispo de Constantinopla. Antes da expedição do documento, o pontífice colocou a missiva no túmulo de S. Pedro, que fizera previamente abrir e ao pé do qual se conservou, em jejum e oração, durante quatro dias, conjurando o príncipe dos apóstolos a corrigir pessoalmente o que à sua fraqueza e prudência tivesse escapado em contrário à fé e aos interesses de sua Igreja. Pois bem, ao fim dos quatro dias lhe apareceu o discípulo e lhe disse: “Li e corrigi”. O papa fez de novo abrir o túmulo e encontrou o escrito efetivamente retificado (2).

Ainda Léon Denis, igualmente denominado de “Filósofo do Espiritismo”, citando Gregório de Cesareia e Nicéforo, aborda outro fenômeno de ordem mediúnica, acontecido também no Vaticano, quando em uma reunião de bispos, presidida pelo papa, houve evocação de espíritos. Assim se expressou Denis: “Ao tempo em que o concílio ainda efetuava suas sessões, e antes que os padres tivessem podido assinar as decisões, dois piedosos bispos, Crisântus e Misônius, faleceram. O concílio, depois de haver lavrado o termo, lastimando vivamente não ter podido juntar seus votos aos de todos os outros, compareceu incorporado ao túmulo dos dois bispos e um dos padres, tomando a palavra disse: ‘Santíssimos pastores, terminamos juntos a nossa tarefa e combatemos os combates do Senhor. Se a obra lhe agrada, dignai-vos no-lo fazer saber, apondo-lhe vossa assinatura’.

“Em seguida foi a decisão lacrada e deposta no túmulo, sobre o qual foi também aposto o selo do concílio. Depois de terem passado toda a noite em oração, no dia seguinte, ao amanhecer, quebraram os selos e encontraram, por baixo do manuscrito, as seguintes linhas autenticadas com as rubricas e assinaturas dos defuntos consultados: ‘Nós, Crisântus e Misônius, que havemos assentido, com todos os padres, ao Primeiro e Santo Concílio Ecumênico, posto que presentemente despojados de nossos corpos, subscrevemos, entretanto, do nosso punho a sua decisão’. A Igreja- acrescenta Nicéforo- considerou essa manifestação como um notável e positivo triunfo sobre seus inimigos” (3).

Certamente, estamos tomando conhecimento de um fato mediúnico, estudado na Doutrina Espírita como Pneumatografia (do grego pneuma - sopro ou espírito + graphein - escrever), exatamente o termo cunhado por Allan Kardec para denominar um tipo de fenômeno em que um ser extrafísico se comunica por via escrita sem o auxílio de um médium psicógrafo. É, por isso, também chamado de escrita direta.

O magnânimo codificador, na “Revista Espírita”, aborda o tema, transmitindo importantes ensinamentos: “Num médium escrevente a mão é um instrumento, mas a sua alma, o Espírito nele encarnado, é o intermediário, o agente ou intérprete do Espírito estranho que se comunica.

Na Pneumatografia é o próprio Espírito estranho que escreve diretamente, sem intermediário (...) Obtém-se a escrita direta, como em geral a maior parte das manifestações espíritas não espontâneas, pelo recolhimento, pela prece e pela evocação. Muitas vezes foram obtidas nas igrejas, junto aos túmulos, ao pé de estátuas ou das imagens de pessoas que eram chamadas. É, porém, evidente que o lugar não tem outra influência senão a de provocar melhor recolhimento e melhor concentração do pensamento, pois está provado que elas são também obtidas sem esses acessórios e nos lugares mais comuns, como sobre um simples móvel doméstico, desde que nos encontremos nas condições morais requeridas e que gozemos da faculdade mediúnica necessária (...)

Nessa escrita, o Espírito não se serve nem das nossas substâncias, nem dos nossos instrumentos. Ele mesmo cria as substâncias e os instrumentos necessários, tirando seus materiais do elemento primitivo universal que, por ação de sua vontade, sofre as modificações necessárias ao efeito que quer produzir. Ele pode, portanto, produzir tanto a tinta de impressão e a tinta comum como o grafite do lápis, e mesmo caracteres tipográficos bastante resistentes para dar relevo à impressão (...)

Se encarássemos a escrita quanto às vantagens que ela pode oferecer, diríamos que até o momento sua principal utilidade foi levar-nos à constatação material de um fato importante: a intervenção de um poder oculto, que nela encontra um novo meio de se manifestar. Mas as comunicações obtidas por esse processo raramente são extensas. Em geral são espontâneas, limitadas a algumas palavras, a sentenças, às vezes a sinais ininteligíveis. Têm sido obtidas em várias línguas, como grego, latim, siríaco, etc., ou em caracteres hieroglíficos, mas ainda não se prestaram a conversações contínuas e rápidas, como permite a psicografia ou escrita manual dos médiuns” (4).

Se os leitores apreciam bem o assunto, recomendo-lhes, igualmente, a leitura da obra Mediunidade dos Santos, publicada pelo Instituto de Difusão Espírita. Na próxima edição do jornal, apresentaremos mais citações de fenômenos mediúnicos ocorridos no seio da Igreja, inclusive com alusões ao excelente livro citado acima.

 

Bibliografia:

Alves, Aureliano Netto, O Espiritismo Explica, Edicel;

Denis, Léon, Cristianismo e Espiritismo, FEB, página 279;

Ibidem, página 280;

Kardec, Allan, Revista Espírita de agosto de 1859.

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