A vida é um direito inalienável e consagrado
em todas as Constituições. Quando a vida começa? Para os espíritas, entre
outras correntes de pensamento que admitem igual, começa no momento da
fecundação, razão pela qual o pensador desse universo repele o aborto em
qualquer período da gestação, exceto nos casos em que haja riscos importantes
para a mãe, como sendo uma atitude criminosa. A Constituição Federal do Brasil
promulgada em 1988 em seu Art. 5º assim se expressa: “Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”
A
morte em seu conceito principal significa o fim ou o cessar da vida. Esse um
fenômeno presente e inexorável dentro do próprio ciclo da vida, reconhecido
como a única e absoluta certeza em um ciclo existencial, visto que todas as
demais circunstâncias depois do nascer são dependentes de relatividades. Sua
iminência, sem uma data exata para acontecer, tem movido esforços de toda ordem
(científica, filosófica e religiosa) e produzido pesquisas para ampliar a
compreensão a seu respeito, mas também com pretensões de aumentar a longevidade
e com isso postergar ao máximo o tempo de vida. A tese espírita, talvez a
primeira a discutir abertamente a morte, se apodera de instrumentos poderosos
na compreensão do fenômeno trazendo à baila os conceitos exarados pelos estudos
de Allan Kardec publicados a partir de 18/04/1857 quando da publicação de O
Livro dos Espíritos (LE), obra que dá o pontapé inicial a essa discussão em sua
questão 149: “– Em que se transforma a alma no instante da morte? – Volta a ser
Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ela havia deixado
temporariamente”, reforçado o conceito da questão 134, que questiona o que é a
alma e cuja resposta é “um espírito encarnado”.
A
convicção firmada em torno da imortalidade confere ao profitente do Espiritismo
uma condição de encarar a morte com um olhar de maior aceitação, pois a sua
crença não é fundamentada em um dogma, porquanto se apoie nos pilares da
Ciência Espírita que tem na comunicabilidade dos Espíritos, através dos canais
da Mediunidade, a comprovação da existência de esferas espirituais que
interpenetram o nosso mundo de tangibilidades. Antes do advento de tais
possibilidades, a imortalidade se constituía apenas em uma crença derivada das
menções presentes em documentos descritos por emissários de culturas religiosas
e faziam parte do corpo doutrinário de algumas Religiões, na qualidade de
objeto de fé.
Os
espíritas, aliás, têm motivo de sobra para celebrar a vida de uma forma
bastante especial, especialmente por compreenderem que uma vez estando nesse
mundo espiritual (depois da morte), é possível retornar em outra(s)
experiência(s) no corpo. O que é uma informação mais que tranquilizadora porque
remete ao sentimento de deter em suas próprias mãos os destinos de sua própria
jornada. A Reencarnação é uma doutrina que se encontra descrita desde tempos
imemoriais e alcança a contemporaneidade como uma discussão válida que invade
laboratórios e se ainda não é aceita pela Ciência Ortodoxa não tem contra si
nenhuma poderosa argumentação que a torne improvável. A sua admissão à Doutrina
Espírita se dá na questão 166 de O Livro dos Espíritos: “A alma que não atingiu
a perfeição durante a vida corpórea como acaba de depurar-se? – Submetendo-se à
prova de uma nova encarnação”.
Lógico
que havendo encadeamento entre as existências passadas e a nova oportunidade,
estando relacionada com as situações que ficaram pendentes ou inacabadas
anteriormente, que um plano haverá de ser pensado para que agora se alcance o
sucesso pretendido. Daí surge a necessidade de responsabilização com todos os
atos cometidos e os efeitos desses geram um enredo que posiciona o indivíduo
justamente no contexto de suas necessidades, sejam elas de que natureza for
(ampliação ou correcional), onde atuam as leis de causa e efeito. O indivíduo
vai se colocar numa situação de poder experimentar, então das lições ajustadas
aos seus cometimentos. O esquecimento da vigília é contrabalançado pela
consciência que recupera durante o sono. Os dramas que vão acometer a sua
existência estarão diretamente ligados ao tipo de prova (aprendizado novo) ou à
expiação (resgate de erros do passado). A Terra, nosso planeta é de Expiações e
Provas.
Tal
raciocínio nos conduz a uma constatação. A origem do Espírito, tão logo adquire
a condição humana e assume o Livre Arbítrio, instrumento que falta aos animais,
a sua condição é de simplicidade e ignorância (LE – q. 115). A sua viagem tempo
afora trará os desafios que formatam o seu conhecimento e aprende
paulatinamente, pelo próprio esforço, como escalar os desvãos evolutivos. A
forma como interage e os caminhos escolhidos é que determinam a velocidade com
que reúne experiências positivas ou negativas, condicionado a ter de volta o
resultado da semeadura. Essa seria exatamente a lógica da meritocracia espiritual,
quando todos saídos de uma mesma condição e plataforma, cada um decide as
estratégias e percorre o trajeto com liberdade e responsabilidade. Isso
significa que, ao encarnar, os acontecimentos que margeiam a existência têm
direta vinculação com o merecimento individual. Nada mais justo e de acordo com
as leis naturais.
A
propósito do que considera a Lei de Causas e Efeitos, e sendo a Terra um
planeta de Expiações e Provas, fica um tanto quanto explicado o porquê de
vermos ocorrerem em nosso habitat humano um sem número de problemas
relacionados com os egos inflados e despreparo emocional. Apesar de ser um
planeta de exuberante beleza natural e ainda jovem, talvez por essa razão
abrigue uma população de seres em condição de graves complicações e delitos,
motivo principal de tamanhas desavenças testemunhadas em tantos ciclos de
história humana. Pode-se considerar que foram vencidos os cenários de Mundo
Primitivo com suas dificuldades peculiares e, com todos os reveses, vive-se
melhor do que já se viveu. Compomos uma humanidade que beira os 8 bilhões de
pessoas, de diferentes etnias e sujeitas a relações geopolíticas que interpõe
grandes avanços tecnológicos à degradação dos meios de vida. As pessoas que
nascem no planeta têm relação com os seus enredos, do contrário nasceriam em
outro mundo mais adaptado ao que lhes importasse. Aí começam os problemas de
interpretação. Qual a postura a ser adotada pelos que apreciam as enormes
lacunas e disputas que torna a sociedade tão perversa e pestilenta para a maioria
dos seus habitantes? Apesar de haver uma justiça e uma meritocracia, observadas
as leis universais, é possível extrapolar esses conceitos para as demandas e os
desmandos político/sociais sem uma atenta discussão fundamentada nos princípios
humanísticos do Espiritismo?
Importa
que se faça uma avaliação mais profunda dos fundamentos éticos e humanísticos
do espiritismo para entender qual o entendimento que os seus seguidores
precisam discutir quanto à importância da discussão social que deve nortear o espírita
em sua inserção na sociedade. Frise-se que o espaço denominado Centro Espírita
é local de discussões doutrinárias com base exclusiva nas obras Codificação de
Allan Kardec e estudos que visem a ampliação dos temas ali expostos. Ainda
assim é essencial que o cidadão investido da condição de espírita saiba
exatamente quais os seus alicerces doutrinários para pensar as questões que
envolvem o ser humano e nos convidam a dialogar a respeito dos problemas
sociais e econômicos que afetam a população, sem que isso indique que necessite
ser alguém versado em Política ou Economia, mas exige um posicionamento
coerente para que se possa exibir a sua face de “espírita no mundo”. Sem essa
de um discurso dentro da casa espírita e outro quando estiver fora. Reproduzo
abaixo texto (do autor) que dispõe as influências sofridas pelo Espiritismo na
construção de sua visão de sociedade e foi publicado na página
www.canteiroideias.com.br em 14/04/19:
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