sexta-feira, 24 de abril de 2020

OLHOS CEGOS, OUVIDOS SURDOS



             Vemos? Ouvimos? A resposta é muito relativa diante dessas perguntas tão simples. Jesus fala a respeito dos que têm olhos e ouvidos, mas não veem nem ouvem (Mateus 13:13). Aí o Mestre se volta à cegueira da compreensão, resultado do pensamento embotado que se congela em suas posições sectárias e se torna campo estéril ao florescimento de ideias renovadoras. E essa é uma das formas peculiares que induzem à pobreza dos debates em diversos setores da vida social. A discussão baseada na louvação e sacralidade de um dos lados ou de ambos nem deveria ser chamada de discussão, sim de doutrinação.
            A construção do diálogo é um produto de difícil aquisição e não há como ser fácil, pois depende de deporem-se armas e manter-se aberto ao ato de ouvir para conseguir ver o outro. Baseia-se na capacidade de possuir-se um projeto que sabidamente é mais importante que qualquer posição de notabilidade pessoal, daí a extrema dificuldade de ser alcançado. Pior é que fora do diálogo nada prospera, mesmo que pareça acontecer. Na construção coletiva, por mais complicado que possa ser, é desejável que se leve em conta a história da humanidade, pois é fato notório que vivemos uma reedição de situações que em alguma época já aconteceram. Ou será que não somos nós os protagonistas de ontem que estamos retornados ao corpo para a solução dos problemas, quem sabe até para torná-los malogradamente mais graves? Natural que, de novo, tenhamos que debater as lacunas que foram ficando em nossa civilização. Certamente fomos cegos e surdos o suficiente para precisarmos repisar os terrenos movediços que geramos no passado. Apenas a lei da ação e reação.
            Ver e ouvir são verbos que exigem virtudes extras que infelizmente faltam à maioria dos que estamos no planeta, às vezes somos discos arranhados que repetimos o que nem vimos ou não ouvimos. A realidade é um espelho de duas faces, uma opaca a outra refletora. A opaca se define por si mesma. A refletora mostra as mil faces de quem se lhe disponha à frente. Qual delas é a escolha? O plural da personalidade exige coerência entre as tantas noções que se avolumam na formação do caráter. Crenças, práticas e vivências ao se desconectarem de princípios em comum exibem uma colcha de retalhos que transformam a individualidade num espetáculo pouco apreciado para ser visto.  
            As duas condições remetem ao contato com o mundo. Como nos comprometemos com os conteúdos que o mundo nos apresenta. Uma leitura interna do que se passa fora, mas justamente responsável pela forma como cada um vive as próprias experiências. Experiências essas que ilustram os aprendizados que firmamos durante a encarnação.
            Os olhos e os ouvidos são os órgãos que alicerçam o ser espiritual ao mundo dos encarnados. Certamente a ausência de um deles ou ambos não anula a vitória no mundo, pois há muitos companheiros que nascem destituídos dessas faculdades e conseguem superar tais limitações. Lamentável que falte a quase generalidade das pessoas a maturidade para utilizar tais sentidos na qualidade de merecedores de tais faculdades.
            Jesus certamente continuará conclamando para que vejam e ouçam aqueles que tenham olhos e ouvidos.   

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