Diante do autor que autografava seu livro numa
exposição, apresentou-se uma senhora mulata com o exemplar adquirido. Ele a
cumprimentou, sorridente, e pediu seu nome.
–
Iracema.
Passou,
então, a escrever a dedicatória.
Em
dado momento, ela o interrompeu:
–
Por que o senhor escreveu meu nome com inicial minúscula?
–
Desculpe, mas é assim que grafo o i maiúsculo. Pode notar que é maior do que as
demais letras de seu nome.
–
Não é nada disso! – respondeu ela, irritada.
E,
tomando-lhe a caneta das mãos, rasurou seu nome na dedicatória, escrevendo por
cima o que ela considerava a inicial correta. Livro debaixo do braço,
afastou-se pisando duro, deixando aturdido o autor, bem como outras pessoas que
aguardavam na fila.
***
Sabemos
que o preconceito envolve vários segmentos da sociedade, nos aspectos cultural,
espiritual, racial, religioso, algo que a reencarnação elimina.
Segundo
a lei de causa e efeito, que sempre nos devolve o que fazemos ao próximo, não
tenhamos dúvida de que o preconceituoso de hoje provavelmente estará amanhã, em
futura experiência reencarnatória, vivenciando a condição daqueles que
discriminou.
Lembro-me
da revelação de um Espírito, em reunião mediúnica. Após ter sido cruel senhor
de engenho no Brasil colonial, a judiar de seus escravos, reencarnou duas vezes
no seio da raça negra, escravo também, para vencer o orgulhoso preconceito. E
dizia:
–
Foi uma bênção. Aprendi muito, principalmente a não discriminar as pessoas,
independentemente de sua condição social, raça ou cor.
Nada
melhor para nos ensinar a respeitar as pessoas do que a experiência de colher o
desrespeito que semeamos.
No
caso citado temos o preconceito invertido. Parte de alguém que fantasia
atitudes discriminatórias do próximo a seu respeito, sempre com um pé atrás, procurando penugem em ovo.
Impossível
ser feliz com semelhante comportamento. O problema é o orgulho. Se conjugarmos
o verbo de nossas ações na primeira pessoa do singular, sempre cogitando de
nossos interesses, estaremos propensos a cultivar preconceitos.
Podem
vir de cima para baixo, das maiorias.
São
aqueles que se julgam melhores que os outros, em face de sua etnia, da cor de
sua pele, da posição social, da cultura, da profissão, da religião, do partido
político…
Podem
vir de baixo para cima, das minorias.
São
pessoas que adotam postura de vítima, julgando-se perseguidas, injuriadas,
incompreendidas, desprezadas... Tendem ao perturbador isolamento, imaginando
que todos estão contra elas, sem perceber que, na realidade, elas estão contra
todos.
O
móvel das ações humanas é a felicidade.
Em última instância, seria nos sentirmos bem, alegres, em paz, em
qualquer situação. Elementar que se trata de uma conquista interior. Por isso
Jesus enfatizava que o Reino de Deus está dentro de nós.
Há
um passo inicial, indispensável, enunciado pelo Mestre (Mateus, 5:3): Bem-aventurados os humildes, porque deles é
o reino dos céus.
A
humildade é indispensável, a fim de que não nos imobilizemos no orgulho, que
gera todos os preconceitos.
Se
tenho consciência de minhas limitações, jamais me julgarei melhor do que
ninguém, nem cultivarei a discriminação invertida que me leve a ficar ofendido
porque alguém escreveu meu nome com inicial minúscula.
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