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INTOLERÂNCIA ENTRE CRENÇAS É LIXO DA PIOR ESPÉCIE¹



          




           Jesus havia acabado de resumir os 10 Mandamentos em dois - “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22, 37-39) – quando um doutor da lei lhe lança uma questão de importante valor, afinal só restara incólume um dos itens propostos por Moisés e era essencial saber a quem se dirigia aquele poderoso segundo mandamento. Ele perguntou: quem é o meu próximo? A resposta todos nós conhecemos. Jesus nos conta a Parábola do Bom Samaritano.        

         Desconhecemos exatamente a intenção de quem perguntou. Talvez desejasse que aquela expressão incluísse apenas seus familiares, amigos ou partidários. Quem sabe quisesse que o Mestre iniciasse ali uma agremiação de convivas determinando a formação de um bloco sectário em defesa de suas ideias. Ou simplesmente questionou por querer saber a extensão daquela palavra. O fato é que o grande professor da humanidade desmistificou o conceito da proximidade, até então entendida em dependência da consanguinidade ou de amizade pré-estabelecida.
            Buscou um cidadão que era rejeitado pelo status religioso da época (O Samaritano) e um simples desconhecido como personagens daquele relato. Antes disse que dois elementos de casta religiosa (sacerdote e levita) haviam passado ao largo do homem ferido deitado à beira da calçada, para depois referir que aquele considerado escória espiritual foi o único a prestar-lhe imediato socorro e providenciar proteção e cuidados posteriores.
            Para qualquer pessoa que conheça minimamente esse relato fica claro que Jesus abominava qualquer atitude de discriminação entre os homens. Manter-se nessa atitude em relação aos outros é demonstração tácita de cultura anticristã não importa o arcabouço conceitual que pareça arrazoar tal decisão. Defender as próprias crenças é natural e até digno de aplausos, mas atacar a crença do outro é um lixo mental que precisa ser abolido do mundo civilizado. Nenhum livro sagrado das religiões estimula tal prática. A origem desse cometimento está na ignorância de quem o adota.
Lançado ao desafio de confrontar crenças milenares, a Doutrina Espírita saiu em defesa de um princípio de homogeneidade entre os homens. Ergueu uma bandeira que paira sobre diferenças e querelas fincando a Caridade como condição universal para alcance da pretendida salvação. FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO (E.S.E. capítulo 15).
            O Espiritismo é a Doutrina do acolhimento. Não compete com nenhum outro sistema de crenças, desde que ele esteja alicerçado no bem comum, e se propõe àqueles que ainda não se fixaram em qualquer ideia que lhes dê horizontes espirituais. Aos que já se decidiram em que crer, simplesmente aplaude a escolha. Preconceito de crença é coisa de quem não tem certeza da própria crença e quer exercitar impondo-a aos outros.
            A existência nos encaminha à Unicidade de Deus. A divindade certamente nos enxerga apenas como filhos. Entende que fazemos parte da mesma tribo e fatalmente alcançaremos as mesmas bênçãos, cada um em seu tempo. Lutemos por um mundo sem intolerâncias!

¹ editorial do programa Antena Espírita de 22.01.2017.

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