“Caro e venerado Mestre, estais aqui presente,
conquanto invisível
para nós. Desde a vossa
partida tendes sido
para todos um protetor a mais,
uma luz segura, e as
falanges do espaço
foram acrescidas de
um trabalhador infatigável.”
(Trecho do discurso
de abertura da Sessão Anual
Comemorativa aos
Mortos de novembro 1869 –
Revista Espírita –
dez/1869)
O discurso de Allan Kardec,
proferido na sessão anual da Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas - SPEE, comemorativa aos mortos, em 1º de novembro de
1868, "O Espiritismo é uma Religião?"(leia aqui) - Revista Espírita, novembro de
1868 - contêm 3.881 palavras. Nele, Kardec discorre sobre a comunhão de
pensamentos, as dimensões da caridade, o verdadeiro sentido de religião e sobre
a crença espírita.
Foi seu último discurso,
pois cinco meses depois ocorre a sua desencarnação. Soa, portanto, como as
últimas instruções aos espíritas, da mesma forma que Jesus as realizou aos seus
discípulos, como relata o evangelista João (16:1-33), quando anuncia a
necessidade da vinda do Espírito da Verdade, para guiar em todas as verdades e
anunciar o que há de vir, que se realiza com o lançamento de O Livro dos Espíritos, em 18.04.1857.
É notória a preocupação de
Allan Kardec para que o Espiritismo não se tornasse mais uma religião. Isso é
fato.
É interessante notar que a
Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, em 1869, (Comemoração Especial do Sr. Allan Kardec), - Revista Espírita – dez/1869 –(leia aqui) presidida por Allan Kardec da
espiritualidade, foi aberta com a leitura do mesmo discurso da sessão de novembro de 1868, reforçando o apelo de
um Espiritismo não religioso.
Pierre-Gaetan Leymarie |
Digno de nota, ainda, está
inserido na Revista Espírita –
novembro/1869 Pierre-Gaetan Leymarie, que assume as funções na direção da Revista Espírita após a desencarnação de
Allan Kardec, e recebe a primeira edição do jornal brasileiro, O Eco de Além-Túmulo, editado na Bahia pelo
jornalista Luiz Olympio Telles de Menezes. Após apresentar felicitações,
Leymarie faz as seguintes reflexões críticas:
Para
nós, o Espiritismo não deve tender para nenhuma forma religiosa determinada.
Ele é e deve continuar como uma filosofia tolerante e progressiva, abrindo
braços a todos os deserdados, seja qual for a nacionalidade e a convicção a que
pertençam.
Luiz Olympio T. de Menezes |
Não era para menos. No
extrato que Leymarie publicou, leia-se o que escreveu Olímpio Telles:
(...)
maravilhosa faculdade (mediunidade) que, aos olhos espantados da Humanidade,
prova de maneira indubitável a onipotência, a bondade infinita e a misericórdia
de Deus-Trino,
(Santíssima Trindade) (grifo e parêntese meus) supremo criador de todas as coisas.
Indiscutivelmente, o móvel
da introdução do discurso de Kardec na comemoração do Dia de Finados de 1868,
na de 1869, foram as notícias do movimento espírita brasileiro através do
jornal O Eco de Além-Túmulo. Se por
intuição do Espírito Allan Kardec, ou iniciativa do presidente da SPEE Sr.
Melet, ou de Leymarie, jamais se saberá.
Do discurso de Kardec,
muitos espíritas se utilizam frequentemente de apenas 60 das 3.881 palavras para
justificar o viés religioso adotado pelo movimento espírita brasileiro:
Se
assim é, perguntarão: então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida,
senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos
glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os laços da fraternidade e
da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais
sólidas bases: as próprias leis da Natureza.
Esquece-se
da sequência do raciocínio de Kardec, que é encerrada com as 41 palavras
seguintes, conclusivas e bem mais importantes:
Não
tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do
vocábulo, não podia nem devia
enfeitar-se com um título sobre cujo valor as pessoas inevitavelmente
ter-se-iam equivocado.
(grifo meu). Eis porque simplesmente se
diz: doutrina filosófica e moral.
Assim
sendo, o título do artigo bem que poderia ser:
“Últimas Instruções de Allan
Kardec aos Espíritas Brasileiros”.
REFERÊNCIAS
KARDEC,
Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2004.
____________. Revista espírita. São
Paulo: Edicel, novembro de 1868.
____________.____________. São Paulo: Edicel, novembro de 1869.
____________.____________. São Paulo: Edicel, dezembro de 1869.
MENEZES, Luiz Olímpio Telles de. Jornal Espírita O eco de além-túmulo. FEB: Bahia, 1869.
Prezado Jorge, esse texto foi publicado ano passado, no dia do meu aniversário. Agradeço sobejamente que tenha me remetido ao último discurso de Kardec, pois pude reviver os conceitos maravilhosos com que o Codificador enlaçou a minha mente e coração à Doutrina Espírita. senti pena e tristeza por mim e pelos milhares de espíritas que ainda não conseguimos alcançar o ápice da grandiosidade que os mentores espirituais nos trouxeram e estão devidamente traduzidos nos textos da Codificação.
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