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MORRER É RETORNAR PARA CASA¹



              

 Por Roberto Caldas (*)


Cena do filme "Nosso Lar"
             Pensemos no mundo como um enorme aeroporto! Todos que estamos lá temos a nítida certeza de que temos algo a realizar momentaneamente e logo haveremos de retornar aos compromissos da rotina. De outra forma, só estamos lá enquanto esperamos que alguém chegue ou para ver a quem parte. Ali é um lugar de encontros e despedidas, uma instância de emoções de alegrias e saudades a depender se é momento de chegada ou de partida. Além daquele espaço, a vida continua para todos, apesar de estarmos vivendo cada um a sua própria realidade. Talvez seja o espaço que mais represente o nascer e o morrer na Terra.
            Afinal, o nosso belo planeta azul é uma pátria passageira aos nossos intentos de evolução contínua, um repouso e escola, uma querida instância de aprendizados. Temos uma programação que pertence a cada um, sem sabermos exatamente a hora de partir em viagem que nos permita a reentrada no mundo invisível, aquele que abraça a todos que nos dão o adeus e partem através da morte.

            É apropriado que as saudades dos que nos deixaram tragam lacunas aos nossos corações, pois a falta que nos fazem aos olhos, acostumados à presença física, denunciam que alguém está ausente do nosso convívio. Natural que os busquemos nos lugares e horas que a nossa lembrança manifesta sempre que a memória escuta uma música, um odor, um sabor, um momento que tenhamos experimentado juntos. Porém, se pudermos pensar que saudades não significam tristeza, pois só a experimentamos em relação às experiências prazerosas e é importante que não tisnemos aquela magia do passado com sensações pesarosas, então teremos a companhia das saudades porque elas são os grandes tesouros que despontam dos amores que se foram.
            Igualmente ao que sucede nos aeroportos, quando acompanhamos os passos do outro que vai se esgueirando corredores afora até sumir da nossa visão, a despedida de quem viaja para o mundo espiritual também pode ser vista apenas como uma separação temporária, depois da qual poderemos fruir outras possibilidades, quando chegada a nossa hora de despedida. O lugar que simboliza o amor que nos vincula é o coração, onde guardamos os altos valores que “as traças não corroem e os ladrões não roubam”.
            Ah imortalidade! Quão bem nos fazes! Aproveitemos a existência que passa nos dias ensolarados dessa casa que nos hospeda, cientes de que a vida mantém a sua pujança muito além das formas que nos esculpe o corpo físico e a morte se constitui na passagem para uma liberdade inexoravelmente nos alcança sem hora marcada.
            Não há como deixarmos de agradecer à Doutrina Espírita o presente valioso da certeza de que a vida não cessa jamais, pelo prêmio de saber que podemos continuar juntos com aqueles que nos antecederam à pátria espiritual e que quando chegar a nossa hora de transpormos os corredores daquele aeroporto, quem vai estar nos esperando? Acertou quem respondeu: todos os que amamos e nos amaram de verdade. Sim, os amigos de caminhada sempre se encontram depois de vencida a morte. 


¹ editorial do programa Antena Espírita de 02.11.2014.

(*) editorialista do programa Antena Espírita, auto da obra recém lançada Antena de Luz, copilação dos principais editoriais do programa, e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
              

Comentários

  1. Linda forma de falar sobre a "morte"! A analogia feita com o aeroporto....foi tão singelo!!!
    Que possamos sempre e mais e mais entender o sentimento da partida!
    Muita Luz para todos!

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