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UMA CRISTANDADE EXTREMADA, SEM " O CRISTO"

 

Por Jorge Luiz

O Censo brasileiro de 2022 apresentou dados caóticos quando pensamos em questões religiosas: o Brasil tem mais igrejas que escolas e hospitais. Isso já era previsível. Em 2019, segundo dados estatísticos, o evangelismo criou, em média, 17 igrejas por dia. As denominações são as mais variadas. As práticas, as curas e os rituais são os mais exóticos e bizarros que se possam imaginar. Os que se “arrotam” a pregar a “palavra de Deus” pouco sabem da hermenêutica e da exegese da Boa Nova, o que é caótico nisso tudo. O carnaval deste ano foi marcado por algumas dessas bizarrices.

Em nome da laicidade do Estado, as “seitas” se multiplicam. Esse caos assinala o declínio das religiões. Como ocorreu em outras épocas, agora se repete.

Qualquer indivíduo funda uma seita evangélica. Não há necessidade de formação teológica para o exercício das funções de pastor. E a massa de fiéis que as seitas agregam ficam à mercê de idiotizações de todas as espécies que fomentam o fanatismo e o sectarismo religioso, com danos sérios à vida em sociedade. Nada disso está vinculado aos princípios de religiosidades por isso, geram repulsas da sociedade.

Sem bases no Vaticano e sim nos Estados Unidos, o pentecostalismo e o neo pentecostalismo são fincados na Teologia da Prosperidade ou Evangelho da Prosperidade, doutrinas que se afirmam cristãs, exaltam os privilégios da riqueza e o do dinheiro, apresentando-os como “retribuição de Deus” aos fiéis que seguem sua doutrina, substituindo a fé e a devoção divinas por “prósperos empreendimentos”. Na realidade, a Teologia da Prosperidade é prenhe da ideologia do capital. Vemos sua pregação com valores medievais, com filtros do capitalismo de agora. Aqui, está o entendimento da ostentação financeira que os principais líderes brasileiros dessas igrejas fazem questão de apresentar, para demonstrar aos seus fiéis que a riqueza é possível. Se isso não acontecer, fácil: “Deus não gosta dele.” A cobrança do dízimo é a principal âncora da Teologia da Prosperidade e o que torna o Antigo Testamento (A.T.), a doutrina principal das igrejas ditas evangélicas.

Serventuários de Mamon, os evangélicos possuem uma bancada no Congresso Nacional para lutar pelos interesses dos lideres religiosos e não dos seus fiéis. A peleja agora iniciada é contra a revogação da isenção do Imposto de Renda outorgada pelo governo anterior, como barganha de campanha nas eleições presidenciais. Importante notar que a isenção alcançava os profissionais religiosos. Por outro lado, a redução da carga tributária já diminuta sobre as instituições religiosas.

Frente a tantos escândalos que se multiplicam no meio evangélico, a sociedade reage e reagem os membros de sua bancada. Neologismos são criados para sensibilizar a massa ignara dos valores do Nazireu e seguem os apelos farisaicos. O líder dessa frente parlamentar afirma-se perseguido - os evangélicos -, alegando que o Brasil vive uma fase de “bibliofobia”, em referência a uma suposta “perseguição” a religiosos.... Ele continua: “Agora parece que estão criando a figura da sacerdotefobia”. Aditou ainda, “igrejafobia”. Sempre pautado pelo medo e pela perseguição, o cristianismo desses tempos é uma heresia à mensagem de Jesus.

           

            Nova Aliança

         Quando Jesus, por ocasião da ceia da última Páscoa celebra a nova aliança, como está bem claro no Evangelho de Lucas, 22:20: “Semelhantemente tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado por vós”. Em Hebreus, carta supostamente escrita por Paulo, – 8, 1:13 – fica bem entendido quando Jesus de Nazaré é citado como mediador da nova Aliança: “Dizendo nova aliança, ele tornou antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, perto está de desaparecer.”

            O apóstolo Tiago, 2:8-9, considera essa aliança o apostolado da lei régia, quando ele proíbe o favoritismo e assevera: “Todavia, se cumprirdes a lei real na Escritura” “Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores.”

            A dogmática do neopentecostalismo, centrada no A.T., particularizada na Teologia da propriedade, foge dos compromissos da nova Aliança. A mensagem do Nazareno subverte a ordem dos costumes da sociedade judaica. É uma mensagem revolucionária. Dom Pedro Casadáglia (1928-2020), bispo católico naturalizado brasileiro, em uma entrevista a um canal de TV brasileiro (vide abaixo), ao se expressar sobre os tempos violentos da ditadura militar, adverte em sua prelazia alguns livros considerados subversivos. Dom Pedro, no entanto, ofereceu, ao chefe da Polícia Federal, um exemplar do Novo Testamento (N.T.) com a seguinte dedicatória: vocês esqueceram o livro mais subversivo que temos em nossa biblioteca. Leiam Mateus, capítulo 25.


Neste capítulo estão: “A parábola das dez virgens”, “A parábola dos Talentos” e a da “Vida Eterna e o castigo eterno”. Está em destaque a seguinte citação (Mateus, 25:44-45) 

“Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou preso, e não te servimos”, em verdade vos digo que, todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que o deixaste de fazer.”

            Vede, pois, um brado político-revolucionário contra as iniquidades terrenas, dentro do Império de César, quando Jesus implanta o reino de Deus, denunciando a riqueza e as desigualdades sociais.

Todos nós as conhecemos! Citamo-las! Vivê-las é sofrer as consequências dessa revolução, como Jesus as sofreu. De perto, mirem-se no exemplo do Padre Júlio Lancelotti. Eis o comunista, dizem!

            O Evangelho de Mateus foi o que sofreu as maiores alterações com o propósito do Novo Testamento ser aceito pelas classes ricas e instruídas, quando se tornou religião oficial do Império Romano. Karl Kautsky (1854-1938), filósofo tcheco-austríaco, jornalista e teórico marxista e um dos fundadores da ideologia socialdemocrata, faz a seguinte citação:

“O caráter audacioso e revolucionário do primitivo entusiasmo e socialismo cristão havia sido transformado em medíocre oportunismo eclesiástico que já não parecia uma ameaça à existência de uma igreja organizada e em paz com a sociedade humana.”

            Kautsky explicita bem o caráter de indigência em que se situa a cristandade em nossos dias.

 

            Antiga Aliança – Projeto de Poder

         Por volta do ano 398 a.C. preocupado com a frouxidão moral que imperava no Golah, a (diáspora judaica), o rei da Pérsia, que revia os sistemas legais de seus súditos, enviou Esdras, seu ministro para assuntos judaicos, a Jerusalém com o propósito de impingir a Torá de Moisés como lei da terra. A Torah é um rosário de narrativas de diversas alianças, até se tornar Escrituras Sagradas.

            Esdras, escreve Karen Armstrong (britânica, é autora especialista em temas de religião, em particular sobre judaísmo, cristianismo e islamismo), horrorizado com o que encontrou, escreve:

 

“formulara um modus vivendi satisfatório entre a lei mosaica e a jurisprudência persa. (...). No dia da passagem do ano, Esdras levou a Torá para a frente em frente à porta d’Água. (...) A lei que Esdras leu era claramente desconhecida pelo povo que chorou de medo ao ouvi-la pela primeira vez. Quando expôs o texto, o exegeta não reproduzia a Torah original dada a Moisés no passado distante, mas criava algo novo e inesperado.”

 

            Dessacralizado o Antigo Testamento (A.T.); dessacralizada a Bíblia. “Devemos concluir, então, que a Bíblia é um erro? Não, mas que os homens se enganam na sua interpretação.”, adverte Allan Kardec em seus comentários sobre a questão nº 59 em O Livro dos Espíritos.

             

            O Espiritismo e Jesus

         Três originalidades se impõem sobre esse caótico universo neopentecostal, assinala Joseph Doré, bispo e teólogo católico francês membro da companhia dos padres de Saint-Sulpice: a primeira, é que sua mensagem não guarda nenhuma característica nacionalista, ou seja, o reino de Deus está aberto a todos e não é reservado à esperança judaica, entre a sorte de Israel e a das outras nações, e nem tampouco aos filhos de Abraão. A segunda originalidade é que Jesus não compartilha nenhuma expectativa apocalíptica, muito pelo contrário, em nenhum ponto a doutrina de Jesus é pessimista.

            A terceira originalidade e a mais fundamental consiste que o reino de Deus para Jesus deve doravante conjugar-se com o presente e não apenas sonhada para o futuro. Ele inaugura o reino de Deus e deixa claro que ele não surgirá através de fatos observáveis; ele afirma que está entre e em vós, como narra o evangelista Lucas (17:20-21): “O reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! ou Ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” Vê-se, pois, que é uma transformação individual para uma vivência comunitária: para a igualdade e a fraternidade. O reino de Deus descarta qualquer possibilidade de um poder religioso invocado por uma nação ou uma comunidade cristã, o que “põe por terra” a Teologia da Prosperidade e a Teologia do Domínio, os quais algumas lideranças religiosas, inclusive brasileiras, querem impor, baseada no A.T., que prega os seguintes princípios: a família seria somente aquela que cabe no conceito tradicional defendido: pai homem, mãe mulher e filhos. A religião é somente as igrejas de matriz evangélica. A educação não laica. A mídia e as empresas jornalísticas ligadas a esses valores e produzindo esses conteúdos. Lazer, o que incorpore tais ideais religiosos. Negócios feitos por fiéis que possam financiar a estratégia. E governo, o que se identifique com tudo isso: criação de partidos, eleição de bancadas e de governantes que ou professem a fé ou aceitem ser ferramentas dela para se atingir tal propósito. Vejam só, essas são as prerrogativas para que Jesus possa voltar.

            Escudados pelos princípios constitucionais da tolerância religiosa e a laicidade do Estado, as seitas por si só são sectárias e geram o fundamentalismo religioso, com discursos de ódio, preconceito e discriminação. Cooptados pela extrema-direita através de líderes inescrupulosos, disseminaram com vigor a xenofobia, homofobia, racismo, sexismo e outras formas de intolerância, que dialogam com o fascismo.  

            Encontrar no meio espírita adeptos que se coadune com esses tipos de particularidades é inadmissível. Essas temáticas têm que ser discutidas nas instituições espíritas, naturalmente sem ânimo partidário, afinal, o próprio Nazireu afirmou que não se pode servir a dois senhores.

            Humberto Maiottti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita portenho, utiliza o termo espiritismo militante, como ciência da alma, perfeita sincronização entre o corpo e o espírito, para exigir dos espíritas, a partir dessa compreensão, uma militância espírita, de uma forma que a filosofia espírita possa penetrar nos fenômenos sociais com sua extraordinária sociologia, a qual constitui uma verdadeira revolução, no que respeita ao conhecimento do espírito encarnado e de suas relações com as leis de sociedade.

            A questão é que a excessiva e inadequada ideia do Espiritismo como religião pelos espíritas brasileiros, impedem essa visão.

            Entretanto, a sociedade pode perecer ante o crescimento desses valores na vida de relação, através dessas instituições.

            Pensemos nisso!

 

Referências:

AMSTRONG; Karen. A Bíblia. Uma biografia. ZAHAR. Rio de Janeiro. 2007;

DORÉ. Josseph. Jesus. A enciclopédia. EDITORA VOZES. Rio de Janeiro. 2017;

KARDEC. Allan. O Livro dos espíritos. LAKE. São Paulo. 2010;

KAUTSKY. Karl. A Origem do cristianismo. CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA. Rio de Janeiro. 2010;

MARIOTTI, Humberto. O Homem e a sociedade numa nova civilização. EDICEL. São Paulo. 2009.

 

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/teologia-do-dominio-entenda-o-que-e-e-o-papel-de-michelle-na-campanha/

https://www.respondi.com.br/2005/06/o-que-teologia-do-domnio.html

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