terça-feira, 31 de maio de 2016

A ALQUIMIA DA MUDANÇA¹



            O MUNDO EXIGE MUDANÇAS. As pessoas se encontram em rota de colisão num ritmo em que todas as propensões, desde as mais embrutecidas até as mais elevadas, dividem o mesmo espaço de criação. Barbárie se mistura com o senso de defesa da vida e gera uma confusão de conceitos que torna a sociedade um colchão de pólvora prestes a explodir. O termômetro das redes sociais mostra alta temperatura e nunca foi tão explícita a insatisfação de lado a lado. Aqueles que desejam o “quanto melhor pior” incrementam as suas práticas e a ala comprometida com a melhoria da vida não consegue manter a serenidade e se lança numa luta de agressões que torna o caldo da sociedade tão quente que às vezes parece insustentável. Essa uma possível fotografia desses nossos tempos.
            Permanecemos esquecidos de que enquanto interpomos razões, o diálogo perde para a quebra de braços. Inexiste espaço para o entendimento sempre que a vaidade e a volúpia em derrotar o outro pelo cansaço enaltece todo tipo de comportamento e se deixa de fazer a “mea-culpa”. Sem confissão, não há troca de atitude e a vida tende a mostrar os mesmos resultados que entediam, aborrecem, transtornam... sem solução, energia gasta apenas.

      Atentemos, porém que esse cenário não caiu de paraquedas nessa paisagem social. Apenas sofisticamos os argumentos e armas, atidos às mesmas motivações dominadoras antes pela posse do ouro, da terra, do petróleo, da mente do outro. Mudaram os contextos, mas a usura e a cobiça ainda dão as cartas.
         Nesse turbilhão vale a pena pararmos um pouco para aprender com o exemplo da água. Foi a principal responsável pelo resfriamento do solo planetário, antes incompatível com a vida orgânica. Apresenta-se em diferentes estados sem perder a natureza. Deixa-se contaminar e logo ressurge restaurada ao evaporar e descer como chuva. Diante de obstáculos sabe que um dia vai vencê-lo, mesmo que muitas vezes precise driblá-lo passando por cima, por baixo, pelos lados. Sofre grandes quedas e dá lugar aos potenciais de eletricidade que movem o progresso. Adapta-se a quaisquer recipientes aparentemente tomando-lhes a forma, enquanto mantém a sua capacidade de nutrir a quem se aproxime mitigando-lhe a sede. Jamais se corrompe, apesar de todos os apelos que sofre em sua jornada em direção ao mar.
            À pergunta de Allan Kardec, “Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela poderia produzir? – LE 792”, os mentores da Codificação não se intimidam; “Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a obter este bem (grifo meu).” Entendemos a razão de tantas controvérsias. Enquanto não houver a real intenção de mudança e a disposição for débil movimento de constrangida insatisfação quando as temáticas que defendemos são aviltadas, sem a universalização de todas as necessidades humanas sob um mesmo princípio de defesa incondicional da vida, não passaremos de grupos desconectados que lutam por suas razões.
            A Alquimia da Mudança é um movimento que se propõe garantir a vida do embrião ao idoso, das plantas e dos animais, além de banir do planeta as práticas desonestas a partir dos pequenos delitos aparentemente sem consequências. Significa reler as ideologias e práticas para a construção de um mundo melhor à vida de todos que habitam a Terra, em síntese o aprendermos a viver sem muros emocionais, abertos para a Regeneração da humanidade.

¹ editorial do programa Atena Espírita de 29.05.2016.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

sábado, 28 de maio de 2016

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita




“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” (Arthur Conan Doyle)


Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita, de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão.

A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao encaminhar fascículo do jornal espírita “O Eco de Além-Túmulo” a Pierre Gaëtan-Leymarie, então diretor da Revista Espírita, mereceu deste, observação crítica publicada na edição de novembro de 1869: “Para nós o Espiritismo não deve tender para nenhuma forma religiosa determinada. Ele é e deve continuar como uma filosofia tolerante e progressiva, abrindo seus braços a todos os deserdados, seja qual for a nacionalidade e a convicção a que pertença.” 

Karl Marx (1818-1883), intelectual e revolucionário alemão fundou o Socialismo, circunscrito em análise exclusivamente materialista. Allan Kardec com o Espiritismo, o Socialismo considerando o princípio espiritual; o socialismo cristão. Para a Doutrina Espírita a evolução espiritual dá-se em um processo dialético entre o elemento espiritual e o material.

Allan Kardec através de questionamentos pontuais quando da elaboração de “O Livro dos Espíritos” e no contexto de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” critica o Capitalismo e dialoga com o chamado Socialismo utópico, designação de Marx para as ideias de Charles Fourier, Saint-Simon e Robert Owen. Reencarnacionistas, estes, acreditavam na perspectiva evolucionista da sociedade, regida pelo ideal de fraternidade, atingindo-se a paz pela reforma moral do homem.

A verdade, no entanto, é que houve diálogo, influências e confluências entre o Espiritismo e o Socialismo. Léon Denis (1846-1927) foi o pioneiro na abordagem da temática em sua obra Socialismo e Espiritismo, um clássico da literatura social espírita. Registre-se o fato de que, à época de Denis, ainda não haviam ocorrido distorções de conceito e mesmo de conteúdo.
Assim ele se pronuncia: “Para nós, o Socialismo é o estudo, a pesquisa e a aplicação de leis e meios susceptíveis de melhorar a situação material, intelectual e moral da Humanidade. Nessas condições são numerosas as nuanças, as variedades de opiniões, de sistemas, desde o Socialismo Cristão até o Comunismo, e todo homem cuidadoso da sorte de seus semelhantes pode se dizer socialista, quaisquer que sejam, aliás, suas predileções.”

Na América Latina os principais nomes foram os argentinos Humberto Mariotti (1905-1982), Cosme Mariño (1847-1927) e Manuel S. Porteiro (1881-1936).
Para Mariotti, “Karl Marx e Allan Kardec encarnam, nos tempos atuais, as duas grandes inquietudes do pensamento: o fenômeno social e o fenômeno espiritual. Marx traçou uma imagem do Homem em desacordo com a realidade espiritual. Entretanto, no campo social, expressou verdades que, postas em prática, dariam solução à mais renhida luta de classes que, atualmente, em seu conjunto, chamamos Capitalismo e Comunismo.” Já Cosme Mariño afirma que “o Socialismo é um capítulo do Espiritismo.”

Não se pode esquecer, no Brasil, J. Herculano Pires, autor das obras Espiritismo Dialético e o Reino. Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão deve seguir., diz Herculano Pires.

Benoit Mure (1809-1858) médico francês que desembarcara no Rio de Janeiro em 1840 foi introdutor da homeopatia no Brasil. Visionário socialista, discípulo de Fourier, fundou em Santa Catarina uma colônia societária falansteriana, denominada colônia de Sai. O falanstério (1) de Mure recebe entre 1842 e 1843 um total de 217 franceses pertencentes a todas as profissões. Não sobrevivendo às dissenções, Mure abandona o projeto em 1844. É considerado um dos precursores do Espiritismo no Brasil, pelas práticas da homeopatia e do fourierismo (2). Adotava o slogan “Deus, Cristo e Caridade”.

Outro nome foi Ney Lobo, que desencarnou recentemente, em suas obras Filosofia Social Espírita e O Plano Social de Deus e as classes sociais. Cleide Colombo (1937-1997), mãe da confreira Dora Incontri, com a sua tese de mestrado publicada sob o título Ideias Sociais Espíritas.

Segundo Dora Incontri, o pesquisador francês François Gaudin descobriu recentemente documentos inéditos que revelam a parceria de Kardec com o amigo Maurice Lachâtre (1814-1900), conhecido socialista de tendência anarquista e editor das obras de Marx, em fascículos populares. Segundo Gaudin, ambos tiveram projeto de fundação de um banco popular.

Para Incontri, sendo o Espiritismo uma doutrina eminentemente pedagógica, fundada por um educador, a militância social através da educação tem sido uma constante, desde Kardec. Léon Denis que a seu turno fundou a Liga de Ensino. No Brasil tivemos Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco e Ney Lobo.

A dialética espírita cria uma consciência cidadã ativa e não-conformista. A partir dessa consciência, surge o Ser revolucionário, não violento; político, não partidarista, assemelhando-se aos socialistas-utópicos. Ao espírita cabe contestar a voracidade do capitalismo vigente e o neoliberalismo que assume contornos globais, aprofundando cada vez mais as desigualdades sociais.

A ineficiência e ineficácia de muitos órgãos federativos têm sido fator determinante para que a maioria das instituições espíritas tenda ao isolacionismo. Surge daí, o espírita com comportamento de caramujo. De maneira preponderante, o centro espírita funciona como uma carapaça transformando-se em redutos fantasiosos. Prioriza-se a terapêutica, o assistencialismo e a fenomenologia mediúnica em detrimento da sua filosofia social-libertadora. Os espíritas renunciam assim às suas responsabilidades de militante da dimensão do social.

O engajamento do espírita desse processo não se dá no engajamento ideológico ou político, mas sim de Ser que detém uma compreensão da ação do homem-mortal, bem como do imortal, portanto, não considera apenas o presente mais o futuro. Enxerga em cada ação social a necessidade da vivência da fraternidade, em favor ao mesmo tempo de vítimas e algozes, uma vez que são escravos da miséria o pobre explorado e o rico explorador.

No conjunto daquilo que denominei aqui nesse blog de Ecologia Espiritista, faz-se necessário resgatar o idealismo socialista do Espiritismo, que remonta desde Pestalozzi, concretizando-se em Allan Kardec e seus próximos discípulos franceses e no Brasil, senão, como nos versos de Drummond, seremos atores de um movimento espírita caduco.
           
(1)      era a denominação das comunidades intencionais idealizadas pelo filósofo francês Charles Fourier. Consistiam em grandes construções comunais que refletiriam uma organização harmônica e descentralizada onde cada um trabalharia nos conformes de suas paixões e vocações.
(2)      teoria de organização social de Charles Fourier, filósofo e sociólogo francês.

(*) Professional & Personal Coach, expositor espírita, livre-pensador, e voluntário do Instituto de Cultura Espírita – ICE.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

À MUSA ESTUPRADA


"O Rapto das Sabinas", pintura de Nicolas Poussin


          Há indignações tão profundas, que só podem ser expressas em poesia, pelo menos para mim. Nos últimos meses, no meio do espetáculo constrangedor e bizarro em que o país mergulhou, a mulher brasileira foi alvo das mais absurdas violências: uma presidenta que não cometeu nenhum crime afastada do poder por um bando de criminosos, depois de ter sido xingada por uma parte da população, com as maiores baixarias e depois de ter sido ofendida por um Bolsonaro, que invocou seu torturador, num gesto de fascismo e supremo desrespeito humano; a primeira dama do presidente golpista posta como modelo de “beleza, do lar e recato”; um ministério inteiro só de homens (a maioria envolvidos com corrupção); um fundamentalismo religioso avançando no Estado, ameaçando os direitos da mulher; a visita de um ator machista, de filmes pornô, que nada tem a ver com Educação e que se ufana de ter estuprado uma mulher, no ministério da Educação e, por fim, esse estupro coletivo de uma menina de 16 anos, com direito a espetáculo e aplausos na internet! Onde estamos? Retrocedemos séculos? Ou essas camadas obscuras, nauseantes da sociedade não estavam tão visíveis?

          Se uma brasileira é estuprada a cada 11 minutos, isso está aí há muito tempo. Mas de repente, com a ascensão política de uma grande maioria de homens que representam justamente esse tipo de macho cafajeste, opressor e sem respeito pelas mulheres (veja-se o que fizeram com a presidenta, que pode ter os defeitos que tiver como política, mas é um ser humano, uma mulher, mãe, avó), temos todos esses homens medievais saindo das cavernas, para mostrar suas caras.

          Para eles e para todos os homens que não são como eles (graças a Deus, há muitos); para as mulheres, as que lutam por dias melhores e para aquelas que assumem o discurso do opressor (infelizmente, há muitas), dedico a poesia abaixo:

À MUSA ESTUPRADA
(VERSOS SÁFICOS)



Na favela, ou presidenta,
No congresso, ou no lar...
Há uma ferida nojenta
Há uma mulher a sangrar!

A mulher torturada,
Depois impedida.
A mulher estuprada,
Depois esquecida.
 
A mulher excluída,
Se não for recatada.
A mulher ofendida,
Se não for calada.

A mulher minha mãe,
A mulher minha irmã,
A mulher é culpada
Porque ela se expõe.

A mulher sufocada
De vestido na igreja,
De saia cumprida,
Na burca escondida.

A mulher violentada,
Estendida na rua,
Porque é despudorada
Porque é puta e está nua!

É sempre a culpada,
É sempre a acusada,
É sempre a julgada,
É sempre a safada!

É sempre a piranha,
Que não se acanha
Nunca é culpa do senhor,
Do macho predador!

Do poder, exilada,
Se honesta, impedida.
Se esbofeteada,
Porque merecida.

É sempre a vadia,
É sempre a que traía!
Mas onde o traidor?
Onde o estuprador?

A mulher que trabalha,
Que sempre batalha,
Que raro se ausenta,
Dos seus que amamenta...

É a mulher que sustenta
Que tudo já aguenta
Por ela que a vida
Se faz e se alenta.

Ó terna guerreira,
Eterna na lida,
Não mais quero à beira,
Calada, escondida!

Não mais de olhos roxos
Não mais ensanguentada
Não mais enlameada
Não mais acuada.

Homens, sois filhos
Sois pais, sois irmãos
Por que não limpais
Enfim vossas mãos?

Por que não partilhais
Iguais condições?
Por que não espalhais
Honestos corações!

Mulheres, não rompamos
Nossas mãos unidas
E sempre as estendamos
Às irmãs mais feridas!

Homens e mulheres,
Um mundo mais igual
O respeito natural
E a liberdade afinal!

(*) Jornalista, educadora e escritora. Suas áreas de atuação são Educação, Filosofia, Espiritualidade, Artes, Espiritismo. Tem mestrado, doutorado e pós-doutorado em Filosofia da Educação pela USP. É sócia-diretora da Editora Comenius e coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Coordenadora geral da Universidade Livre Pampédia.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

E POR FALAR EM QUEBRA DE DECORO...¹


     Especialistas da língua portuguesa, em importante momento da vida nacional, vêm em nosso auxílio para esclarecer que o termo “DECORO”, quando aplicado em uma frase na função de SUBSTANTIVO corresponde a decência, vergonha, dignidade.
         Esses valores que expressam claramente a sua significação são largamente conhecidos e prescindem de dicionário até mesmo ao menos letrado. Aliás, o menos letrado compreende muitas vezes mais profundamente tais conceitos que muitos doutorados das grandes academias, porque na simplicidade de sua vida aprendeu que o caráter de uma pessoa é o seu maior patrimônio em seguida ao existir.

          A criança só cresce de forma saudável se o seu aprendizado for alicerçado na confiança, uma vez que a sua fragilidade exige exemplos e sustentação para que a sua formação se consolide. Também o adolescente e o adulto, em suas especificidades etárias, são reféns da autoridade da palavra a fim de concretizarem as suas plataformas de decisões. Sem confiar não há como se desenvolver qualquer engrenagem de natureza coletiva, pois quando a condição de honestidade é posta em dúvida, nada mais pode ser considerado viável, seja lá de que ordem for. A honestidade de princípios é exigência absoluta para a fabricação de qualquer projeto, desde os mais simples ao mais sofisticado e complexo.
           
          Jesus chamou a isso de Verdade e vaticinou que apenas esse expediente, uma vez conhecida e reconhecida nos levaria ao que chamou de salvação. Ora se apenas a Verdade, com todas essas significações correlatas é caminho para uma meta salvadora, o que dizer de suas contraditas, entre elas a “falta de decoro”? Fatalmente não há ordem nem progresso onde a verdade é condição escondida abaixo dos tapetes vermelhos de vergonha pela desfaçatez e a truculência.

            Nada há que sustente investidas de mudança, em qualquer nível de realização, que deixem de se respaldar, independente de justificativas e artifícios, na mais límpida fonte da honestidade, sinônimo de verdade no vocabulário de Jesus. Desejos, ensejos, planos, projetos, proposições e práticas que se afastem dessa norma hão de sucumbir como os castelos de areia diante da maré por mais plácida, porque lhes faltam o maior dos alicerces, a dignidade, sabendo-se que o comprometimento com o futuro exige essa solda fundamental para a manutenção da construção pretendida. 

            Ganhar o mundo ou perder a alma é a balança que Jesus (Marcos VIII; 16) coloca a nossa disposição quando estivermos diante da hesitação sobre qual destinação escolher, quando a opção envolva ética, cujo desafio seja manter os princípios da honestidade. O Cristal da confiança é tesouro que mantém a pessoa em conexão com a sua imagem interior. Deve ser triste a qualquer um, poder disfarçar e parecer altaneiro diante dos outros enquanto não consegue se confessar a si mesmo, despedaçada a sua auto-imagem.

            Nada casual que em O Livro dos Espíritos (q.918 - IV Caracteres do Homem de Bem) não há referências a credos ou status para definir o Homem de Bem, senão a sentença de que se colocam nessa classe aqueles que cumprem as leis de Deus... e nada mais.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 22/05/2016.
(*) escritor espírita, editorialista do programa radiofônico Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

terça-feira, 24 de maio de 2016

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA DOUTRINA PARA O CENTRO ESPÍRITA

O ARTIGO "A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA PARA O CENTRO ESPÍRITA", DE AUTORIA DO CONFRADE FRANCISCO CASTRO, É O 5º NO RANKING DOS MAIS ACESSADOS - 1.062 ACESSOS -, NO BLOG "CANTEIRO DE IDEIAS" DESDE A SUA CRIAÇÃO, EM 13.05.2012.




Muitos pensam que a atividade principal de uma Casa Espírita é o intercâmbio com o mundo espiritual, por isso, nada tem de redundante tratar-se desse tema.
Sobre essa questão, Allan Kardec nos esclarece de forma cristalina quando diz, no item XVII da Introdução de “O Livro dos Espíritos”, que “A verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíritos deram, e os conhecimentos que esse ensino comporta são por demais profundos e extensos para serem adquiridos de qualquer modo, que não por um estudo perseverante, feito no silêncio e no recolhimento. (...) Esperamos que (O estudo de O Livro dos Espíritos) dará outro resultado, o de guiar os homens que desejem esclarecer-se, mostrando-lhes, nesses estudos, um fim grandioso e sublime: o do progresso individual e social e o de lhes indicar o caminho que conduz a esse fim.” (A nota entre parêntese e os grifos são meus).

O Codificador tanto se preocupava com o estudo da Doutrina que, em “O Livro dos Médiuns” publicado no ano de 1861, dedica o capítulo III a sugerir um Método de Estudo, e no livro “Viagens Espíritas em 1862” chega a apresentar um projeto de Regulamento para uso de Grupos e Pequenas Sociedades Espíritas, onde, no artigo primeiro daquele projeto, o Codificador leciona: “O objetivo da Sociedade é o estudo da ciência espírita, principalmente no que concerne à sua aplicação à moral e ao conhecimento do mundo invisível.”

No livro “Obras Póstumas”, no capítulo dedicado ao Projeto 1868, encontra-se mais uma preocupação do Mestre Lionês, não só com o estudo da Doutrina mas, também, com a sua Divulgação.
Assim, com base no pensamento de Allan Kardec, pode-se dizer que o Centro Espírita tem como objetivo principal promover o Estudo, a Divulgação e a Prática da Doutrina Espírita, o que também é recomendado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB e pelo CEI – Conselho Espírita Internacional.

Consoante as recomendações do Codificador expostas acima, podemos entender o seguinte: a) para se conhecer a Doutrina Espírita será necessário estudá-la de forma sistemática, permanente; b) que esse estudo deve ser prioridade no Centro Espírita; c) que a base desse estudo é “O Livro dos Espíritos”; d) que a finalidade do estudo da Doutrina será guiar os homens no caminho do progresso individual; e, e) que esse progresso individual terá como conseqüência a melhoria de todo o tecido social.

A essa altura pode-se perguntar: Será que todos os dirigentes e trabalhadores já compreenderam o verdadeiro objetivo do Centro Espírita, como sugere o Codificador?
Como muitos Centros Espíritas ainda não implantaram o estudo da Doutrina Espírita, a título de ajuda àqueles que colocam alguma dificuldade no método e na falta de trabalhadores, pode-se dizer que o método de estudo a ser empregado, depende do porte do Centro Espírita e do seu tempo de existência.

        Para um pequeno grupo, ainda nos seus passos iniciais, que ainda não conta com muitos obreiros, recomenda-se iniciar como sugere Kardec no capítulo III de “O Livro Dos Médiuns”, pelo estudo do livro “O Que É O Espiritismo”, que é um livro para iniciantes, em seguida iniciar o estudo de “O Livro Dos Espíritos”, ao terminar uma turma começa-se outra e assim sucessivamente; um Centro Espírita maior e mais antigo, tanto pode usar o ESDE – Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, como o CBE - Curso Básico de Espiritismo, que são métodos que utilizam dinâmica de grupo.

Para aqueles que não tiveram oportunidade de se alfabetizar, Allan Kardec, nas instruções particulares Nº X (in Viagens Espíritas  em 1862), sugere os denominados grupos de ensino em que: (...) Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo um certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades da leitura ou do estudo.” (Grifei)

Lembremos que o estudo da Doutrina Espírita também deve ser dirigido às crianças e aos jovens, especialmente os filhos dos espíritas, utilizando conteúdos e métodos adequados às suas necessidades e faixas etárias.

Para aqueles que já terminaram a etapa de estudo da Doutrina, tal como se encontra em “O Livro Dos Espíritos”, se desejarem, podem formar turmas para o estudo de “O Livro dos Médiuns”.

Com relação à divulgação da Doutrina Espírita, da mesma forma que ao estudo, deve-se consagrar um dia da semana para que sejam proferidas palestras doutrinárias, onde os temas programados serão explanados à luz da Doutrina Espírita.

Lembremo-nos que, a maior caridade que se pode fazer às pessoas que procuram o Centro Espírita é dar-lhes a oportunidade de se esclarecerem acerca da realidade espiritual pelo estudo da Doutrina Espírita, através do qual podem compreender que as dificuldades atuais, são reflexos do passado de cada um, e que somente uma mudança profunda em relação à vida presente pode assegurar um futuro com menos sofrimento.

Para finalizar, lembramos que não se pode praticar aquilo de que não se tem conhecimento, e que a Instituição Espírita para cumprir seu principal objetivo deve: promover o estudo, a divulgação e a prática da Doutrina Espírita, tal como foi revelada pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec

(*) Trabalhador do Centro Espírita Grão de Mostarda

domingo, 22 de maio de 2016

SOMOS DEUSES?






                A escalada da tecnologia é algo que jamais pode nem deve ser detida. É uma conquista do pensamento humano e sinal inequívoco da evolução da inteligência proporcionada pela espiral das encarnações e as transmigrações de Espíritos entre os mundos solidários (Evg 2do o Esp cap. 03, item 05), fatores que elevam a capacidade de observação e refina a condição de gerar soluções diante dos problemas enfrentados. A sucessão de renascimentos dos habitantes autóctones, aliado a movimentação universal patrocinada pelos deslocamentos de indivíduos que vêm de outros mundos, gera avanços na captação de conhecimentos que fazem aumentar a condição evolucionai de um planeta, nesse caso a Terra.

            A espécie humana desponta, entre todas as outras, como a única com a possibilidade de modificar conscientemente o ambiente em que sobrevive, apesar do contributo importante, em nível inconsciente das demais espécies, pois tais espécies contribuem para a transformação em prazo multi milenar enquanto os homens apresentam soluções que em poucas gerações surtem efeitos em forma de mudanças extraordinariamente palpáveis. Haja vista que todas as predições que são projetadas no início de cada novo século se mostram completamente defasadas ao final deste.

            A evolução, no entanto para efetivar-se no cenário do verdadeiro desgarrar da inferioridade requisita muito mais que a amplificação das ferramentas tecnológicas que as possibilidades intelectivas dispõem a serviço do atendimento das necessidades do próximo. Necessária que a compreensão ética intermedeie os avanços científicos, a fim de conter a debandada de nossa consciência inferior na utilização dos nobres valores da ciência em prol da humanidade. Infelizmente o que vemos acontecer é uma coleção de decisões voltadas para a mercantilização dos resultados de pesquisas com a adoção de medidas que desviam do seu real objetivo que é a manutenção da vida e a sua qualidade.

            A conquista da genética nos envia para um viés de eugenia, com a finalidade de permitir apenas o nascimento de seres plenamente saudáveis e a sua aplicação na agricultura só repercute para aumentar os lucros em detrimento à desfiguração dos alimentos pela introdução dos transgênicos e com eles o lucro crescente. A cirurgia que evita a mortalidade de mães diante do parto que exija a intervenção se transformou nas mãos dos profissionais da saúde em meio de maior remuneração com menor tempo de dedicação. A internet sofre assalto constante de mentes doentes que se jogam contra os valores da sociedade e o direito legítimo de propriedade.

         Somos deuses? Sim. Podemos transformar os recursos naturais na eternidade daquele mitológico sétimo dia que sucedeu àqueles em que Deus expandiu a Natureza e nos incluiu dentro dela. Sendo deuses, não somos Deus. Representamos pelo vértice da evolução a destinação divina da semelhança. Pela base da evolução ainda estamos enraizados na imperfeição dos propósitos que nos movem... ainda animais.

            Podemos sim nos próximos séculos temperar a Ciência que nos leva ao progresso à ética que haverá de nos obrigar à sentença de Jesus (Mateus VII; 12): “façam aos outros o que querem que eles lhes façam”.   

¹ editorial do programa Antena Espírita de 15.05.2016
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.