Pular para o conteúdo principal

ESPIRITISMO À BRASILEIRA: REVISTA "REFORMADOR"

 


          Apesar de ser o veículo de comunicação oficial da Federação Espírita Brasileira, ele foi fundado pelo fotógrafo português radicado no Rio de Janeiro, Augusto Elias da Silva, em 21 de janeiro de 1883, e por Antônio Pinheiro Guedes e Afonso Angeli Torteroli. Todo o maquinário tipográfico foi cedido por Pinheiro Guedes e Torteroli. A revista Reformador passou a ser o veículo oficial de todo o movimento espírita da época, publicando em suas páginas os artigos de todos os grupos abrigados na Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade.

Elias foi um entusiasta das obras de Allan Kardec e traduziu esse entusiasmo e sua vontade de servir à causa, tornando-se membro ativo da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus Cristo e Caridade. Logo em seguida fundou o “Grupo Espírita Menezes”. Esta sociedade espalhou muitos benefícios, e, em 1885, fundiu-se à Federação Espírita Brasileira, para a qual se transferiram os seus sócios. Entretanto, Elias acalentava outro empreendimento de maior vulto em seu íntimo, que era fundar e conservar um órgão de propaganda espírita na Corte do Brasil; isto era, naquela época, a forma de fortificar os espíritas mais resolutos. Todas as baterias do Catolicismo estavam assestadas contra o Espiritismo.

            Elias, entretanto, para realizar o empreendimento contou com o apoio doméstico de duas almas bondosas e valorosas: sua sogra D. Maria Balbina da Conceição Batista e sua esposa D. Matilde Elias da Silva, de quem teve um filho chamado Augusto. A esposa e a sogra eram espíritas convictas. Elias lançou a revista Reformador em 21 de janeiro de 1883, com os recursos tirados do seu próprio bolso, situando a redação e as oficinas em seu atelier fotográfico à então Rua da Carioca (ex-Francisco de Assis) nº 120, 2º andar, onde também residia com sua família.

            O entusiasta primeiro da divulgação espírita no Brasil apresentou-se à revista Reformador como mais um “batalhador da paz”, armado da tolerância e da fraternidade. O artigo de fundo do primeiro número traçava as diretrizes de paz e progresso e empunhava a bandeira de Ismael.

            Apesar das dificuldades compreensíveis ao contexto espírita do momento, o periódico dele sobressaiu-se perante os outros materiais espíritas. Os obstáculos na divulgação da Doutrina Espírita exigiam uma orientação mais firme e perseverante, em que a renúncia e a abnegação constituiriam fatores decisivos para se alimentar uma tiragem irrisória, que não cobriria as despesas de confecção, em vista de perfazerem os assinantes um número reduzido, de cem a duzentos, sendo o excedente de exemplares geralmente o dobro, distribuído gratuitamente.

            Elias tinha a certeza de que não podia faltar aos espiritistas brasileiros um órgão disseminador das novas ideias e, ao mesmo tempo, de comunhão entre eles mesmos.

            Suas tiragens eram em formato de jornal com limitadíssima tiragem, com quatro páginas de texto, feição que o conservou até dezembro de 1902. A periodicidade inicial estabelecida era de quinze em quinze dias, notando-se que uma boa quantidade de exemplares era remetida para Lisboa, concorrendo assim a revista Reformador para a propaganda do Espiritismo entre os irmãos portugueses.

         Desde seus primórdios, a obra Reformador se posicionou contra o reacionarismo então dominante, batendo de frente pela emancipação dos escravos e pela autonomia do Distrito Federal, afirmando, várias vezes, não ser digno do nome de espírita quem  possuísse criaturas humanas sob o regime de escravidão.

            Em 31.03.1883, a revista Reformador teve sua edição em papel couché, dedicada a Allan Kardec, que “simboliza o alicerce do edifício moral e social que será erguido pela confraternização humana”.

         Em 1º de fevereiro de 1888, a obra Reformador, por necessidade de mais espaço, teve sua secretaria transferida para o prédio nº 17 da então Rua do Clube Ginástico, para onde também se transferiu a sede da Federação Espírita Brasileira.

         Abaixo segue a cronologia da revista Reformador, realizada pela Federação Espírita Brasileira - FEB:

 

1898 – Começa a publicar Os Quatro Evangelhos, de Roustaing.

1903 – Mudança de formato: passa a ter um maior número de páginas e ganha feição

de revista.

1916 – Inaugura uma “sessão de correspondências”, através da presença de um diretor, por meio da qual presta esclarecimento a dúvidas suciadas pelos leitores.

1919 – Começa a publicar vários artigos dirigidos aos grupos espíritas, enfatizando a necessidade de “ordem e disciplina” em suas atividades.

1925 – É concedida maior liberdade através da Assembleia Deliberativa, ou seja, concede-se maior autonomia  à revista Reformador.

1935 – Os exemplares de cada número da revista Reformador são assim distribuídos: 1.812 assinantes; 1.020 grupos espíritas; 964 para fins de propaganda e 255 para fins de permuta e acervos de bibliotecas.

1939 – A periodicidade, que antes era por quinzena, passa a ser mensal.

 

Há quase um século e meio a revista Reformador vem doutrinando e consolando as massas brasileiras. Assim, milhares de seres humanos vêm se beneficiando com a “água viva” que continua a fluir de suas páginas, das nascentes desse caudaloso afluente que é a Doutrina Espírita.

 

Referências:

GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

WANTUIL, Zeus. Grandes espíritas do Brasil. Brasília: FEB, 2002.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

PUREZA ENGESSADA

  Por Marcelo Teixeira Era o ano de 2010, a Cia. de teatro da qual Luís Estêvão faz parte iria apresentar, na capital de seu Estado, uma peça teatral que estava sendo muito elogiada. Várias cidades de dois Estados já haviam assistido e aplaudido a comovente história de perdão e redenção à luz dos ensinamentos espíritas. A peça estreara dez anos antes. Desde então, teatros lotados. Gente espírita e não espírita aplaudindo e se emocionando. E com a aprovação de gente conhecida no movimento espírita! Pessoas com anos de estrada que, inclusive, deram depoimento elogiando o trabalho da Cia. teatral.

SOBRE A INSISTÊNCIA EM QUERER CONTROLAR AS MULHERES

  Gravura da série O Conto da Aia, disponível na Netflix Por Maurício Zanolini Mulheres precisam se casar com homens intelectualmente e financeiramente superiores a elas ou o casamento não vai durar. Para o homem, a esposa substitui a mãe nos cuidados que ele precisa receber (e isso inclui cozinhar, lavar, passar e limpar a casa). Ao homem, cabe o papel de prover para que nada falte no lar. O marido é portanto a cabeça do casal, enquanto a mulher é o corpo. Como corpo, a mulher deve ser virtuosa e doce, bela e recatada, sem nunca ansiar por independência. E para que o lar tenha uma atmosfera agradável, é importante que a mulher sempre cuide de sua aparência e sorria.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ALLAN KARDEC E A DOUTRINA ESPÍRITA

  Por Doris Gandres Deolindo Amorim, ilustre espírita, profundo estudioso e divulgador da Codificação Espírita, fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, em dado momento, em seu livro Allan Kardec (1), pergunta qual o objetivo do estudo de uma biografia do codificador, ao que responde: “Naturalmente um objetivo didático: tirar a lição de que necessitamos aprender com ele, através de sua vida e de sua obra, aplicando essa lição às diversas circunstâncias da vida”.

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

O DÓLMEN DE KARDEC

31 de março de 1869  A llan Kardec ultimava as providências de mudança de endereço. A partir de 01 de abril de 1869, o escritório de expedição e assinatura da Revista Espírita seria transferido para a sede da Livraria Espírita, à rua de Lille, nº 7 , onde também, provisoriamente, funcionaria a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Na mesma data, os escritórios da redação e o domicílio pessoal de Allan Kardec seriam transferidos para a Avenue et Vila Ségur, nº 39, onde Kardec tinha casa de sua propriedade desde 1860. Entremeando onze e doze horas, quando atendia um caixeiro de livraria, caiu pesadamente ao solo, fulminado pela ruptura de um aneurisma. Aos 65 anos incompletos, desencarnava em Paris, Allan Kardec.             Sr. Muller, amigo de Kardec, um dos primeiros a chegar à sua residência, assim descreve em trecho de telegrama enviado: “Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento d...