Pular para o conteúdo principal

AMOR SEM FIM


      


       O amor de Deus é incomensurável. O Novo Testamento testifica que O Pai Amado é a própria essência do amor (1-João 4:8). Portanto, toda a criação é amada por Deus. À medida que a humanidade espiritual cresce interiormente, despertando o amor em potencial dentro de si, aproxima-se cada vez mais de seu excelso Criador, porquanto é o amor a alavanca a impulsionar as criaturas e despertá-las para a verdadeira felicidade, em perfeita comunhão com o Pai.

     Mais uma vez vêm as Escrituras afirmar a grandiosidade da afeição divina, ensinando: "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus" ( I João 4:7).


     O discípulo Paulo, escrevendo aos cristãos de Coríntios, disse: "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei." (1- Co. 13:2). O Mestre Jesus afirmou que toda a lei está contida nessa máxima: "Amar ao próximo como a si mesmo". Igualmente o Cristo pediu para que a humanidade se ame na mesma proporção que ele assim procedeu e ensinou; que se deve fazer ao outro o que se quer receber. Com muita propriedade, o insigne codificador do Espiritismo, Allan Kardec, traz a lume a máxima vinda do Plano Espiritual: "Fora da caridade não há salvação" ("O ESE" 15:8).

     A prática da caridade, que é o amor em ação, é despertada a partir do desenvolvimento do senso de justiça. O ser, então, adianta-se mais na escala espiritual, pelo fluir espontâneo dos valores morais.

     Em "O LE" (questão 812), é ensinado que os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça e na questão 648 de "O LE" é dito que a mais importante das leis naturais é a de justiça, de amor e de caridade, visto que resume todas as outras. Enfatizou Kardec, em "Obras Póstumas", abordando as expiações coletivas, que "o reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos e o reino da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças.

     Ali se chegará? Duvidar disso seria negar o progresso". Em verdade, o homem é herdeiro de si mesmo, porquanto a lei de Deus está escrita em sua própria consciência (Q.621 DE "O LE") - "O reino de Deus não está aqui nem acolá, mas dentro de cada criatura"- e o que vigora hoje representa o resultado de conquista anterior e o amanhã será consequência do que se constrói atualmente.

     A trilha a ser percorrida pelo viajor terrestre poderá ser iluminada pelas estrelas ou obscurecida por nevoeiro espesso, de acordo com o seu proceder diante da vida.

     Aquele que caminha, cultuando o otimismo; pregando e vivenciando a paz; interessando-se pelo próximo; dirigindo palavras de bom ânimo e consolo; ajudando sem pensar em gratidão ou retorno; sabendo silenciar para que outros falem; esforçando para que a bondade, a renúncia, a solidariedade, a tolerância, a paciência e a humildade sejam cada vez mais exercitadas e praticadas, já consegue perceber o Amor Divino frutificando dentro de si, constatando que realmente alberga o "Reino de Deus", tão bem apontado por Jesus.

     O Cristo asseverou, com ênfase: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial" (Mateus, 5:44, 46 a 48). No Antigo Testamento, no Livro de Gênesis 17:1: "Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito".

     Segundo o ensinamento espírita, como a humanidade não pode se igualar a Deus, o que seria inadmissível, a perfeição a ser conquistada não seria absoluta, e sim relativa. Na questão 776, de "O LE", há a instrução de que fomos criados por Deus como seres potencialmente perfeitos ("Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento"). Assim sendo, durante a evolução do Espírito, o destino maior é o despertamento de todas as potencialidades divinas adquiridas no momento de sua fecundação cósmica ou concepção na Eternidade.

     Sem a da Doutrina da Reencarnação não teria sentido os ensinamentos do Cristo, exortando a amar até os inimigos e tentar uma possível perfeição, em uma só existência, o que se tornaria impossível. Ao mesmo tempo, o dogmatismo das religiões tradicionais, não sintonizado com o amor inexorável do Pai Amado e baseando-se em uma só vivência física, permanece pregando o chamado suplício eterno ou o famigerado "inferno de fogo", destinado aos que não perceberam a chama da divindade dentro de si e feriram sobremaneira a Lei Divina, sem possibilidade de absolvição e resgate.

     Como Deus ama intensamente a todos os seus filhos, com certeza não condena ninguém a penas eternas, proporcionando a todos, independente da religião de cada um, a oportunidade de reparação dos seus erros, através de inúmeras oportunidades reencarnatórias, acompanhando os desafetos e rivais, onde tudo será tentado para uma possível reconciliação e a obtenção da paz desejada.

     O Mestre Jesus frisou bem que ninguém sairá da prisão enquanto não pagar o último centavo (Mateus 5:26). De imediato, surge a esperança: o inferno não é eterno, porquanto existe a possibilidade da libertação, pagando a fiança, simbolicamente descrita como a probabilidade de reajuste diante da Lei Divina, com a chance misericordiosa de resgate dos seus débitos junto com os seus opositores, com as benesses do renascimento no berço físico.

     O "Inferno Eterno" é citado de forma emblemática no Evangelho como uma figura forte, revelando o remorso vivenciado nos dois planos da vida, tanto o físico quanto o espiritual, como algo que consome como uma fogueira, destruindo com suas labaredas a fortaleza do interior do ser. Por sinal, quando se sente dor, quando se vivencia uma intensa aflição, a impressão que fica é a de que o infortúnio nunca terá fim. Na dimensão espiritual, sem a limitação do aparato físico, o sofrimento se apresenta como algo com a aparência de eterno, de tempo indeterminado, podendo perdurar até por séculos.

     Jesus, realmente, tranquiliza, dizendo que o resgate é possível, assim como a liberdade, o alívio para o mal que afligia o espirito, quando a reconciliação se concretizar: "E, indignado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão" (Mateus 18:34-35).

     O Mestre, após sua desencarnação, "visitou e pregou aos espíritos em prisão" (1- Pedro 3:19). Claro o texto, porque Jesus só foi lá pela possibilidade da absolvição de uma punição transitória, a qual se verifica na intimidade da consciência. Se a prisão fosse sem fim, o Cristo estaria sendo sádico, já que estava sentindo prazer, humilhando os presos punidos com uma "pena eterna"? Afinal, para que, então, foi pregar? A romancista e ensaísta francesa, Madame Stael, em seu romance "Corinne", diz que "O amor é o símbolo da eternidade. Apaga a memória de um começo e todo o temor de um fim".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...