quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A BASE RELIGIOSA DA HUMANIDADE

 


Por Doris Gandres

O homem tem o sentimento inato da divindade – é uma lei natural. Desde que o espírito chega ao estado hominal, mesmo ainda muito primitivo e selvagem, traz a intuição de algo superior a ele...

Essa religiosidade inata deu origem a inúmeras formas de religião no decorrer do tempo – inicialmente, simples e ignorantes, assustávamo-nos com os fenômenos da natureza: os raios, os trovões, as grandes tempestades, os fortes ventos... passamos então a adorar tais fenômenos, cujo feito atribuíamos a seres extrafísicos, criando para eles nomes próprios, rituais específicos, como homenagem visando abrandar sua fúria...

Também enquanto ainda primitivos, instintivamente já pressentíamos a existência de seres transcendentes, que alguns visualizavam e descreviam de acordo com suas impressões. Ernesto Bozzano, escritor e pesquisador dos fenômenos psíquicos, declara que “a crença nos espíritos sempre existiu, sempre foi testemunhada e tem sido a base das religiões primitivas” (1).

De um modo geral, a forma sob a qual as verdades religiosas são transmitidas aos encarnados é a revelação = uma mensagem divina transmitida aos homens por intermédio de um homem (médium). Esses reveladores ficaram conhecidos no passado como profetas – a Bíblia está repleta deles: Isaías, Jeremias, Malaquias, Zacarias e outros...

E de há muitos e muitos séculos, podemos ainda citar alguns: na Índia, Brama, com o Bramanismo e seu conhecido Bhagavad-Gita onde se recomenda limpeza de vida, intrepidez, austeridade, retidão, autodomínio, firmeza na sabedoria, inofensividade, ausência de cólera, placidez, compaixão para com todos os seres vivos, ausência de cobiça, brandura, modéstia, constância no bem. Ainda na Índia, Buda, (Sidarta Sakia Muni Gautama) fundou o Budismo; combatia as superstições e os sacrifícios e explicava a “roda das reencarnações” e os sofrimentos e misérias como fruto de nossas ambições egoísticas.

Na Pérsia, Zoroastro e Zaratustra: a religião que fundaram, com o livro Zend-Avesta, ensinava a conservar a palavra, a ação e o pensamento puros – devia conservar-se o corpo e a alma limpos; tinha leis morais de extraordinária elevação, relatam os historiadores e mitólogos.

Na China, Lao-Tseu, Confúcio e Mencio: Deus era a pedra angular de tudo que existe – seu livro maior foi o Tao-Te-King, o livro da razão suprema e da virtude.

Allan Kardec afirma (2): “se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, ele pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais que são um dos elementos essenciais do progresso. Todas as religiões têm tido seus reveladores, e todos eles, embora longe do conhecimento total da verdade, tinham sua razão de ser providencial; porque eles foram apropriados ao tempo e ao meio em que viveram, ao gênio particular dos povos a que falavam e aos quais eram superiores. Apesar dos erros de suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos, e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso que mais tarde deviam alastrar-se, como se alastraram, um dia, ao sol do Cristianismo. Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo – Moisés revelou o Deus único; o Cristo, o amor incondicional como chave do progresso espiritual”.

Mais adiante, e em conformidade com o avanço de cada grupo de espíritos encarnados, essa religiosidade foi encontrando outras formas de se exteriorizar e expandir-se.

Em muitas ocasiões, os homens serviram-se mal da religião, deturpando-a e usando-a para a conquista de poder sobre as criaturas. Mas, conforme esclarece José Herculano Pires: “Não obstante, o sentimento religioso do homem não foi aniquilado (...) a concepção nova de Deus, que nasce dos escombros da concepção antropomórfica do passado, é a de uma Inteligência Cósmica, que preside a toda realidade possível (...) o homem se liberta dos seus temores, da ilusão de sua fragilidade existencial, do confinamento planetário, do embuste e da hipocrisia, para viver a vida como ela é, na plenitude das suas potencialidades corporais e espirituais. O homem se emancipa e toma consciência da sua natureza cósmica. Diante dele está o futuro sem limite, a imortalidade dinâmica e demonstrável, que se opõe ao conceito limitado da imortalidade estática e hipotética. Sua herança não é o pecado nem a morte, mas a vida em nova dimensão”.

E coube ao Espiritismo, doutrina moral, filosófica e científica, com base nas leis naturais, ou seja, divinas, nos descortinar essa nova concepção; estabelece sua face religiosa n’O Livro dos Espíritos, na primeira parte, quando fala de Deus, e na terceira parte – nas Leis Morais; e mais ainda, n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, onde Kardec condensa a quinta parte dos evangelhos reconhecidos, a parte moral dos ensinamentos do Cristo Jesus (4), que a doutrina nos revelou como Mestre e Irmão Maior, modelo e guia, despindo-o do mito e do endeusamento; aquele que uma boa parte da humanidade reverencia no Natal.

 

Fontes bibliográficas:

   Agonia das Religiões, J. Herculano Pires

    A Gênese, capítulo I, Kardec Allan

    Agonia das Religiões, J. Herculano Pires

    O Evangelho Segundo o Espiritismo – Introdução, K. Allan

 

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