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JESUS HOJE SERIA ABSOLVIDO?

         

Por Roberto Caldas

            Os fatos que as tradições da Páscoa recontam têm relação com uma condenação que se consumou num período histórico e celebra as circunstâncias em que Jesus foi morto e reapareceu após o terceiro dia de sua morte, considerada a versão cristã secular para tal festividade religiosa. Na tradição judaica, a Páscoa representa o festejo milenar em que os judeus conseguiram se libertar da escravidão no Egito.

            A Doutrina Espírita, que baseia a sua moral espiritual na profundidade da mensagem imorredoura de Jesus, respeita absolutamente as práticas litúrgicas desses grandes segmentos religiosos, conquanto isento dessas práticas, aliás, os ritos não fazem parte de sua rotina.  Não obstante, o bom senso deve aproveitar o momento para lembrar e louvar á figura do Mestre da Galiléia, mesmo divergindo dos aspectos que envolvem crenças e dogmas relativos ao período. Também discorda com veemência ao tratamento dado à memória de Judas.

            Ao Espiritismo importa chamar a atenção á essência espiritual de Jesus, muito especialmente quando posta em juízo ante as adversidades conjunturais da vida em sociedade. Trazer à crítica quanto à falibilidade do julgamento que condenou Jesus e questionar se, nos tempos modernos, com a nossa atitude urbana e pouco civilizada, ainda continua sendo condenado por novos tribunais.  

            A visão espírita entende que a missão do Cristo engloba o apaziguamento das inquietações humanas, numa abrangência pedagógica que pretende através do aprendizado comunitário enaltecer a importância fundamental da presença do outro. Esse outro, ao qual o respeito e a dignidade jamais poderiam ser negados, sob o risco de todo edifício cristão ser demolido e Jesus novamente condenado.

            Há uma proposta diante dessas comemorações de natureza espirituais tendo como homenageados personalidades tão especiais como é o que trata esse momento -  fomentar um clima de reflexão sobre a forma como tais festejos podem gerar novas atitudes diante da repetição de circunstâncias que é a existência humana. Enquanto o objetivo for distribuir ovos de chocolate, chorar diante de programas que exibem o drama da prisão e morte de Jesus, condenar a atitude dos que o julgaram e só, então Ele está de novo sendo condenado.

            Diante dos graves problemas que o mundo exibe, todo empenho e persistência em trazer Jesus ao centro dos debates humanos serão pequenos. Fala-se daquele Jesus interno que mostra a peso de pequenas atitudes de violência, pois as reconhece como sementes das grandes violências que operam o terror; que corrige práticas nocivas em fermentar más notícias, essas geradoras de conflitos extremos; que restaura os germens de desentendimentos evitando que prosperem na direção de desastres na comunicação de massas.Aquele Jesus interno que desarrazoa qualquer discurso de ódio sem importar a direção que apontem. E faz o combate contínuo de sentimentos de cizânia, vingança e perseguição.   

Respeitadas as tradições/rituais como as religiões celebram a Páscoa, aos espíritas que esse momento se converta em ocasião para abrir as portas da alma ao convite que ressoa há mais de 2000 anos: Paz na terra aos homens e mulheres de Boa vontade (Lucas 2:14).

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