Pular para o conteúdo principal

CULPA E SENTIMENTO DE REJEIÇÃO




 
Ante os delitos morais cometidos, há pessoas que introjetam a autorrejeição, implantando na consciência a chaga da culpa. Por efeito disso, sentem-se rejeitadas por todos, ao invés de trabalharem pela reparação do erro. Até porque se não o fizer de imediato arremessará para a encarnação seguinte os conflitos conscienciais incrustados.

Há os que arriscam camuflar os delitos, porém ocultar conflitos culposos não libera a consequência do desacerto, porquanto as desordens íntimas surgirão na forma de enfermidade física, emocional ou psicológica. Por conseguinte, projetarão suspeitas infundadas nos outros, receando serem identificados e desmascarados.


Na atual existência existem diversos casos de autorrejeição dos transgressores das leis divinas da consciência. São aqueles que na juventude, na “calada da noite”, fizeram abortos criminosos e receiam serem descobertos. Há os que cometeram vis adultérios e buscam esconder-se dos outros e sob a chibata da culpa temem ser revelados a qualquer momento. Esses são casos infrequentes, os menos raros são os culpados por crimes esquecidos de reencarnações anteriores. Daqueles que trazem a mácula perante a consciência e como não se superaram nas vidas anteriores, permanecem hoje alimentando culpas.

Mesmo que os demais não descubram seus crimes e os desmascarem, o movimento de autorrejeição delonga a expansão. Quando não se tem consciência desse processo e não há coragem (ação pelo coração) para reparação do erro, o mecanismo de autorrejeição se aprofunda e o culpado cria inimigos em todos os lugares. Guiados pelo imaginário, permanecem em estado de paranoia culposa. Por consequência, conservam os níveis egocêntricos, neuróticos e transformam uma situação imaginária em acontecimento real.

Desse modo, encharcados pelo psiquismo autodefensivo agridem os outros.  Sentem-se sucessivamente invadidos na intimidade e atacam o próximo. Sob o mecanismo psicológico de projeção creem que os outros os julgam, condenam e punem, razão pelo qual vivem se precavendo contra tudo e contra todos.

No estado paranoico da culpa, decorrente dos crimes cometidos no passado, mesmo que esquecidos, o culpado se sente criminoso e entende que a qualquer momento será desmascarado e sob nessa alucinação acredita que os outros o estão perseguindo.

As leis divinas não são punitivas, elas são amorosas, educativas (provacionais) e reeducativas (expiatórias).  Certamente violações às leis morais incidirão na economia espiritual, precisando de reparação dos agravos. Não necessariamente numa reencarnação imediata, até porque, atualmente, muitos poderão estar reparando crimes de dez encarnações anteriores. Ademais, será necessária a dor para reparação dos erros? Cremos que não. O caminho seguro será o desenvolvimento das virtudes do coração, atuando com autoamor e amor ao próximo.

A autoconsciência e o autoperdão são mecanismos que tornam dispostos os infratores para reparação do delito. Sendo que a evolução espiritual ocorre tanto na horizontal como na vertical da vida. A dor é o aguilhão que impele a evolução na horizontal. O transgressor sofre até o limite do cansaço e no esfalfamento observa que não há outra alternativa, senão fazer o BEM, decidindo daí galgar na vertical da vida.

Nos casos em que os conflitos culposos são muito intensos, são necessários tratamentos psicoterápicos para recuperação. Dificilmente o culpado se liberta sozinho das desordens conscienciais, porque a culpa incrustada na mente pesa muito no psiquismo, daí a necessidade terapêutica para que o culpado compreenda a realidade como ela é e não da forma como crê que seja.

O estado de culpa acarreta a obsessão. O processo obsessivo, de modo geral, não começa no obsessor, porém nas matrizes conscienciais do culpado autorejeitado que se movimenta psicologicamente no autojulgamento, autocondenação e autopunição, cunhando aí o plugue mental, quando esbugalha a mente para o complexo obsessivo. Metaforicamente expondo, a culpa é o plugue mental que favorece a obsessão.

Na verdade, muitos processos obsessivos não são evidentes, porém sutis e intensos. A intensidade é a alienação e a sutilidade é a intervenção sorrateira do obsessor sem que o obsedado perceba. Deste modo é hipnotizado e condicionado a práticas malsãs, passando uma existência espiritual e sutilmente perseguido. Muitas vezes só se dá conta da obsessão após a desencarnação.

A melhor terapia para a culpa é o exercício do Evangelho como convite para afastar-se do egocentrismo e centrar-se na essência divina que É. Esse é o caminho para a libertação dos movimentos egocêntricos e egoicos. A prática da leitura edificante, os afazeres da caridade necessariamente para consigo, e em seguida a caridade real com o próximo “sem assistencialismos inócuos”, a participação das atividades do centro espírita, em geral podem promover o espírito imortal e auxiliar todos os envolvidos.

Quando dissemos “sem assistencialismos inócuos” afirmamos que a maior caridade não é a material, mas a espiritual que precisa ser exercida sob o símbolo da benevolência para com todos, indulgência para com as faltas alheias e perdão das ofensas. Que são exercícios práticos para que as pessoas se desvencilhem da monoideia da culpa. Nesse movimento de exercícios espíritas cristãos, a mente não mais permite a introdução das ideias dos obsessores e a pessoa realiza as ações práticas, que são bastante trabalhosas, mas impulsionam a evolução na vertical da vida. É como ascender numa escada aprumada e muito íngreme, mas poucos são aqueles que se dispõem a elevar-se , a maioria permanece rezingando dizendo que a vida é “madrasta” sem fazer esforços reais para a ascensão.

Com as práticas cristãs as pessoas realizam ações concretas consigo mesmas e com o próximo, trabalhando não mais no movimento paranoico da culpa, porém no movimento harmonizador de si mesmas e dos outros,,porém isso não se consegue por promessas labiais, mas por ações efetivas. A medida que vamos amadurando a consciência, priorizamos o que é essencial e colocamos o ego a serviço do eu espírito imortal.

Nas condições humanas ainda temos uma estrutura egoica, todavia somos essência divina. Contudo, acreditamos que somos o ego, mas não somos. Quando expandimos a consciência percebemos que temos um ego, mas somos essência divina. Ter o chamado ego não é problema. Embora ele ainda traga a sua ignorância, porquanto moureja na dimensão do não saber, do não sentir e do não vivenciar as leis divinas, o ego precisa ser iluminado pela essência divina que somos.

A autorrejeição comumente não surge de forma evidente, porém veladamente. Surge muitas vezes na condição de complexos de inferioridade ou de superioridade. Aparece com a tendência de solidão, de rejeição ou por inveja dos outros.

O culpado rejeita todos os que trabalham pela autorrenovação. Porque estes estão dando exemplo para ele. Identifica nos outros um “espelho” retratando o comportamento que deveria ter, mas que não se dispõe a tal. Em face disso, rejeita e repudia o “espelho” , arremessa-lhe pedra para fragmentá-lo, para não ver a imagem da renovação que deveria buscar. Deste modo, mantém-se preguiçoso e acovardado para a autorrenovação moral. O “espelho” saindo da sua vista não ficará todo momento recomendando e cobrando o que deve fazer.

Em síntese, é urgente que afastemo-nos da chaga chamada culpa e utilizemos a razão para o equilíbrio íntimo, a fim de que possamos reparar o mal que fizemos no passado. Trabalhemos com penhor e segurança pelo progresso individual e coletivo, até porque a culpa nos transforma em pesos mortos na economia ativa da sociedade e não conseguiremos realizar nada de bem, belo e bom para ninguém sob o guante da culpa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...