Pular para o conteúdo principal

HÁ MÉDIUNS ... e médiuns¹

         Allan Kardec foi buscado para que explicasse a mediunidade através de minúscula cartilha que trouxesse objetivas orientações para a normatização da prática de tal modalidade de comunicação. Negou-se a fazê-lo conforme relata na introdução de O Livro dos Médiuns porque queria evitar que aquela prática, em se tornando muito popular, sofresse com a falta de conhecimento mais profundo entre os seus praticantes. Para fundamentar o alcance de sua visão quanto ao que sucederia à mediunidade, se exercida sem os devidos cuidados, nessa mesma publicação afirma que “A prática espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir” e segue com uma constatação: “A ignorância e a leviandade de certos médiuns têm causado maiores prejuízos do   que se pensa na opinião de muita gente”.
          No capítulo XIV de O Livro dos Médiuns aponta dessa forma quem poderia se considerar dotado de condição mediúnica: “Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium”. Acrescenta que há variações na intensidade da aptidão sendo essa uma condição inerente ao ser humano. Chama a atenção, no entanto que o papel de médium é aplicado às pessoas que apresentam uma dotação em maior grau de determinadas características de sensibilidade explícita desse contato com o mundo dos desencarnados.
          Grandes médiuns irrompem raramente no planeta e geralmente deixam a sua história de iluminação aos que lidamos com as obras que a posteridade reconhece. É como se fossem uma espécie de instrumento diferenciado de sintonia com o mundo superior, onde os irmãos de humanidade transitam depois de profícua existência na Terra. Assim se mostra o grande exemplo de vida iluminada e trabalho incansável no campo da mediunidade que nos deixa o inesquecível Francisco cândido Xavier. Apartado da vida no corpo físico, depois de dezenas de anos e centenas de obras escritas, em 30/06/2002, completando 15 anos de ausência entre nós.
          Homem de poucas letras na existência que findou, certamente deve somar grandes conhecimentos espirituais que lhe permitiu tamanha abertura às orientações expressivas que capturou do mundo invisível, pois o médium não é apenas uma “caixa de ressonância”, é alguém que empresta o seu inconsciente para servir de laboratório que exprime a opinião daqueles que se encontram sem a organização física.
          Essa talvez a maior das razões para se aplaudir a passagem entre nós desse homem que se despiu de suas capacidades a fim de que eclodisse a sabedoria de toda a gama de Espíritos que puderam expressar, cada um a seu modo, um tipo de conhecimento que faria daquele médium um dos maiores gênios da humanidade, caso tais conhecimentos emergissem de sua condição pessoal. A reconhecida humildade daquele médium delegou aos autores do mundo espiritual simplesmente o que lhes pertencia, sem jamais deixar lhe subisse à cabeça a vaidade nem a cobiça. Pela consideração de Allan Kardec a mediunidade é inerente a todos, mas o grau de intensidade e a forma séria e profunda de exercício fazem com que existam Médiuns... e médiuns. Chico Xavier foi Médium com M maiúsculo. 


¹ editorial do programa Antena Espírita de 02.07.2017.

Comentários

  1. Texto muito inspirador, dando-nos a conhecer as nuanças que diferenciam Médiuns de 'médiuns'. Há uma certa impaciência pessoal nesses últimos em afirmarem-se com tal condição, sem que incursionem pelos caminhos da Disciplina, Disciplina, Disciplina (com D maiúsculo) pela qual primou o nobre tarefeiro que se tornou a maior antena mediúnica entre nós. Francisco Cândido Xavier, como todos que aqui estão, espíritos que voltam para novas experiências no manto físico, trazia seu cabedal de conhecimento acumulado em existências pretéritas. Não obstante, seu empenho e, notadamente, a humildade em colocar-se como instrumento de divulgação do conhecimento vindo dos Espíritos para iluminação da humanidade, sem tomar para si qualquer terço de mérito por esse desiderato, fê-lo com justeza tornar-se o Médium com M maiúsculo, como o conhecemos por tantas décadas, em convivência corpo a corpo no exercício de sua mediunidade ‘missionária’, podemos afirmar assim. Por outro lado, como diz a sabedoria popular: Não se chega a general por obra do acaso. Ainda que considerando, a priori, o que dizem os Espíritos, de que a mediunidade é solicitada no planejamento reencarnatório e que seu grau de manifestação é proporcional ao peso de débitos a quitar (o que seria suficiente para despojar os médiuns de qualquer vaidade), Chico Xavier exerceu sua mediunidade com méritos reconhecidamente conquistados colocando-se - por decisão própria - a serviço do Bem, em detrimento de suas aspirações materiais, comuns a qualquer criatura que habita esse mundo. Não deveria ser-nos admirável que tenha conseguido galgar (leia-se ‘conquistar’) degraus tão meritórios na escala de valores morais. A árvore boa se reconhece pelos frutos que produz!

    ResponderExcluir
  2. Usar nosso invólucro d'alma de maneira correta e inerente aos dogmas do espiritismo não é tarefa fácil nesse Mundo de expiações e tentações. Qual de nós, pergunto, nunca cedeu em tentação? Nunca excedeu-se no que sua mente e corpo físico exigiam em determinada situação? Eis aí, o valor dos Médiuns com "M" maiúsculo a que se refere Ana Luíza Costa, ao confirmar a condição de Francisco Cândido Xavier como o maior expoente da doutrina da doutrina de Kardec em nosso País. Parabéns, pela desenvoltura d excelente texto, Ana Luíza. Túlio Monteiro.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...