segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A MORTE DOS PORCOS









            Ao desembarcarem em Gerasa, cidade grega que fazia parte da Palestina, conforme a divisão administrativa estabelecida por Roma, Jesus e seus discípulos depararam com um homem nu, esquálido, cabelos em desalinho, extremamente agitado. Morava num cemitério, nas proximidades. Dormia nos túmulos. Dia e noite, gritava pelos campos e montes, agredindo-se e ferindo-se com pedras. Era forte e ameaçador. Por vezes arrebentava grilhões e cadeias com as quais o prendiam.
O povo tinha medo dele. Por isso vivia por ali, isolado. Jesus percebeu que seu problema era de ordem espiritual, com a influência de Espíritos. E ordenou:
            Espírito impuro, sai desse homem.
            Falando por intermédio de sua vítima, a entidade bradou:
            Que importa a mim e a ti Jesus, filho de Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes!

            Impressionante a influência que Jesus exercia sobre os perseguidores espirituais. Sentiam sua grandeza moral, seu poder, e logo se aquietavam, submetendo-se às suas ordens.
            – Qual é o teu nome? – perguntou Jesus.
            Legião é meu nome, porque somos muitos.
            Nas proximidades pastava grande vara de porcos. Segundo o evangelista Marcos, que gostava de dar números, seriam dois mil.
Os Espíritos impuros imploraram a Jesus que não os expulsasse dali.  Que lhes permitisse entrar naqueles porcos. O Mestre concordou. Então se deu o inesperado:
Assustados, os animais precipitaram-se num declive, caíram no lago e morreram afogados. Os guarda-porcos, que tudo presenciaram, apressaram-se em informar seus patrões. Em breve havia uma multidão no local. O desvairado homem nu, agora vestido, mostrava-se tranquilo, em perfeito juízo, ele que fora o terror da população.
            Pode parecer estranha a presença dos porcos. Por que tantos, se os judeus eram proibidos de consumir sua carne? É que a população da região era predominantemente pagã ou gentílica, sem disciplinas dessa natureza. Aceitável que houvesse uma suinocultura.
E o estouro da manada, sob influência dos Espíritos? Seriam os animais vulneráveis à sua ação? Não tanto quanto os homens, já que não exercitam o pensamento contínuo e, consequentemente, a possibilidade de sintonia com um perseguidor espiritual.
Porem podem sofrer certa pressão psíquica e até a vampirização, em que suas energias são sugadas por Espíritos primitivos. Proprietários de animais domésticos sabem que, não raro, apresentam problemas de saúde ou variações de humor inexplicáveis. A origem pode estar nessa influência.
Considere-se, porém, que os animais são controlados e conduzidos por espíritos vinculados à Natureza, que os protegem e preservam.
O episódio da morte dos porcos foi algo inusitado. Objetivava ressaltar os poderes de Jesus e que os animais podem, sim, ser afetados por influências espirituais.
Curiosa a reação dos gerasenos. A maioria, certamente composta pelos proprietários dos suínos, desejou que os visitantes se retirassem.  Estavam assustados, talvez… Mais provavelmente, indignados com os prejuízos ocasionados pela morte dos animais.
Seria razoável tal procedimento? Afinal, o episódio ensejara ganhos a todos: Jesus afastara uma legião de Espíritos impuros que perturbavam o lugar. O agressivo doente mental não representava mais perigo, nem voltaria a amedrontar o povo. No entanto, as pessoas pensaram no prejuízo material, sem cogitar do ganho espiritual.
Frequentemente incorremos nesse engano. Ficamos aborrecidos, não raro revoltados, com determinadas situações difíceis e problemáticas que nos afligem. Tempos depois, quando as analisamos sob perspectiva mais realista, constatamos que funcionaram em nosso favor. Aproximaram-nos da religião, sensibilizaram nossas almas, ajudaram-nos a superar tendências vinculadas ao imediatismo terrestre.
Foram-se os porcos… Ficaram valores mais altos… Atendem melhor nossa condição de Espíritos imortais em trânsito pela Terra.






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