Pular para o conteúdo principal

O SALÁRIO DA ALEGRIA


Rosália deixou o hospital três dias após o parto, trazendo um tesouro, o filho Tiago, e uma enorme frustração: a impossibilidade de amamen­tá-lo. Inteligente e esclarecida, conhecia a impor­tância do aleitamento em favor do desenvolvimento infantil. Queria o menino resistente e saudável, sus­tentado por nutrientes adequados, em perfeito ba­lanceamento, como só o leite materno pode ofere­cer. Mais que isso, concebia o ato de ama­mentar como sublime exercício de doação, algo de seu próprio ser a sustentar uma vida inician­te.
Apesar de seus esforços, não conseguiu fa­zê-lo. Tiago tivera dificuldade para se adaptar. Logo em seguida, os seios incharam muito, as mamas ficaram inflamadas. Para não deixar o recém-nascido à míngua, deram-lhe a mamadeira.
          Ainda assim, Rosália alimentava esperan­ças. Espírita fervorosa orou, emocionada, rogando a Jesus e aos bons Espíritos que a ajudassem. Como sempre ocorre quando o coração participa de nossos apelos, o Céu enviou alguém.

Simpática jovem a procurou. Após cumpri­mentá-la, apresentou-se:

       —   Meu nome é Tina. Sou enfermeira; soube que você está com dificuldade para amamentar. Vim ajudá-la. Há anos oriento mães a esse respei­to. Podemos começar agora mesmo.
         —  Bem, não sei... Preciso consultar meu ma­rido.
         Não se preocupe. Não custará dinheiro al­gum. O que vou lhe cobrar exigirá apenas um pou­co de boa vontade de sua parte.
         —  Como pagarei?
        Direi depois. Primeiro o serviço.
         —  Tem certeza de que dará certo? No hospi­tal, desiludiram-me...
        É a lei do menor esforço. Não obstante as campanhas sobre os benefícios da amamentação, poucos se conscientizam de seus benefícios.
           Mas Tiago não pega o seio e as mamas estão doloridas.
          Cuidaremos disso. Anime-se! Garanto-lhe que conseguiremos!
          Deus a ouça!...
        
        Vacilante a princípio, depois francamente empolgada, Rosália recebeu as instruções de Tina, que a assistiu durante três dias, mostrando-lhe co­mo superar a inflamação e preparar as mamas. Pa­cientemente favoreceu a adaptação entre o recém-nascido e sua mãe no processo de aleitamento. Em breve o menino sugava com vigor o seio materno, colhendo o precioso alimento que descia fácil. Ro­sália exultava.

         —   Não imagina como estou feliz. Não sei como lhe agradecer. Na verdade, vou saber agora. Você disse que haveria um pagamento. Estou pron­ta. Qual é?
         —   Meu salário, Rosália, é o da alegria. Nada se compara à satisfação de ajudar alguém. Isso me faz muito feliz!...

Fitando-a agora com expressão séria, Tina continua:

           —   Mas é justo que pague pelo benefício re­cebido. Aqui está a conta...
Rosália recebeu um papel onde estava escrito: Passar a outras gestantes a técnica da amamentação.
            A enfermeira sorria.
           Está bem assim?
      Claro! Quem não se habilitaria a serviço que oferece tal recompensa! Conte comigo! Quero acumular muitos salários de alegria, para um tesou­ro de felicidade!...

A experiência de Rosália sugere uma Cor­rente da Felicidade diferente dessas que pululam por aí, envolvendo quiméricas vantagens pecuniá­rias.

            Uma única exigência: que seus participantes se disponham a be­neficiar quem estiver em situação difícil, no lar, no templo religioso, na atividade profissional, na vida social, utilizando-se de seus conhecimentos.

            Uma única cobrança: que os beneficiários repassem a ajuda rece­bida a outras pessoas necessitadas, com as possi­bilidades que lhes são próprias, cultivando o recur­so fundamental, ao alcance de todos: boa vontade.

           Expandindo-se sempre, esta Corrente da Felicidade apressaria a instalação do Reino de Deus na Terra, cuja pedra fundamental foi lançada por Jesus, quando ensinou, no capítulo sétimo das anotações de Mateus:
Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles.

(*) participa do movimento espírita desde 1957, quando integrou-se no Centro Espírita "Amor e Caridade", que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário de assistência e promoção social.
É colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente "O Reformador", "O Clarim" e "Folha Espírita".
Algumas de suas obras:   Abaixo a Depressão!,  Antes que o Galo Cante, Mediunidade - Tudo o que Você Precisa Saber, Para Rir e Refletir, Quem Tem Medo da Morte? Reencarnação, Tudo o que Você Precisa Saber, Rindo e Refletindo com Chico Xavier, Setenta Vezes Sete, Suicídio Tudo o Que Você Precisa Saber!,Trinta Segundos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.