Pular para o conteúdo principal

PENA DE MORTE OU TOLERÂNCIA?



  

“O que escandalizar, porém, a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de atafona, e o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é necessário que sucedam escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo....”(Mt. XVIII: 6-11).
A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem (Epicuro).

Por Francisco Barbosa (*)

          É sabido que ao tempo do Profeta Moisés, a sua legislação prescrevia o “olho por olho, dente por dente”, significando que a todo delito, igual resposta tinha o amparo legal. A desforra havia que ser, invariavelmente, proporcional ao cometimento que lhe deu causa. Não queria isto dizer, que assim prescrevia a Lei de Deus, aquela recebida por inspiração, no Monte Sinai e que se constituiu nos Dez Mandamentos. Como condutor do povo hebreu, houve Moisés por também legislar, a fim de exercer autoridade sobre os desvios dos seus liderados.

Jesus de Nazaré, cerca de doze e meio séculos depois, veio anunciar uma Boa Nova sem, contudo, preconizar a destruição da Lei, pelo contrario, esclareceu: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para dar-lhes cumprimento. ...”(Mt. V: 17 e 18). E aduziu, logo a seguir, entre as Bem-Aventuranças: “Bem-Aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra”(Mt: V, 4). Bem-Aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”(Mt: V,9).

A verdade, no entanto, é que alheio a todos esses preceitos, o homem, embora dotado da essência divina, em geral não a tem desenvolvido a contento dentro de si e continua matando o seu semelhante, como o fazia em seu primitivismo, como o fez nos circos romanos, já na nossa era, seja individualmente, seja como parte de uma Instituição ou Nação.
Aprendemos que “o homem se desenvolve, ele mesmo, naturalmente. Mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma forma; é então que os mais avançados ajudam o progresso dos outros, pelo contato social. O progresso moral é consequência do progresso intelectual, todavia, não o segue sempre imediatamente. É fazendo compreender o bem e o mal, que o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral.
O progresso completo é o objetivo, mas os povos, como os indivíduos, não o alcançam senão passo a passo. Até que o senso moral se tenha neles desenvolvido, eles podem mesmo se servir de sua inteligência para fazer o mal. O moral e inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo. É o que explica que povos mais esclarecidos sejam, frequentemente, os mais pervertidos.
Se não tem o poder de deter a marcha do progresso, é dado ao homem, no entanto, o de entravá-lo, muitas vezes.
O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não sufocar. Quando essas leis se lhe tornam incompatíveis, ele as afasta com todos aqueles que tentam mantê-las, e assim o será até que o homem tenha colocado suas leis em conformidade com a justiça divina, que quer o bem para todos, e não leis feitas para o forte, em prejuízo do fraco.
Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas. Mas quando um povo não avança muito depressa, Deus lhe suscita, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral, que o transforma.
O homem não pode ficar, perpetuamente, na ignorância, porque deve atingir o fim marcado pela Providência: ele se esclarece pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias e germinam durante os séculos; de repente, estouram e fazem ruir o edifício carcomido do passado, que não está mais em harmonia com as necessidades novas e as novas aspirações.
O homem não percebe, frequentemente, nessas comoções, senão a desordem e a confusão momentâneas que o atingem nos seus interesses materiais. Aquele que eleva seu pensamento acima da personalidade, admira os desígnios da Providência, que do mal faz surgir o bem. A tempestade e agitação saneiam a atmosfera depois de a ter perturbado.
O maior obstáculo ao progresso é o orgulho e o egoísmo, isto em se falando do progresso moral, porque o progresso intelectual caminha sempre e, à primeira vista, parece dar a esses vícios um redobramento de atividade, desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas que, a seu turno, excitam o homem às procuras que esclarecem o seu Espírito.
Ao contrário do que afirmam alguns filósofos, a civilização é um progresso, embora incompleto, da Humanidade. O homem não passa subitamente da infância à idade madura. Não é racional condenar a civilização, antes condene-se os que abusam dela, e não a obra de Deus.
Quando o moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência, a civilização se depurará, de maneira a fazer desaparecer os males que ela tenha produzido. O fruto não pode vir antes da flor.
A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais, se os homens as compreendessem bem, e seriam suficientes se houvesse vontade de as praticar. Mas a sociedade tem suas exigências, e precisa de leis particulares.
A causa da instabilidade das leis humanas está em que, nos tempos de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis, e as fazem para eles. Foi preciso modificá-las, à medida que os homens compreenderam melhor a justiça. As leis humanas são mais estáveis, à medida que se aproximam da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que elas são feitas para todos e se identificam com a lei natural.
Uma sociedade depravada tem, certamente, necessidade de leis mais severas. Infelizmente, essas leis se interessam mais em punir o mal, quando já feito, do que secar a fonte do mal. Não há senão a educação para reformar os homens. Então, eles não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.
Seriam depravadas as sociedades que ainda mantém os vícios das drogas em geral, e que se matam por isto e ainda pela posse de tudo o que é material, ou que ainda têm institucionalizada a pena de morte ?. Que nação estaria excluída desse perfil, a que combate o crime com a pena de morte, como faz a Indonésia no meio oriente do Globo ou a que o tolera, sobretudo pela ineficiência de suas leis, impotência dos governantes em criar mecanismos eficientes de educação capazes de reformar as sociedades ou pela corrupção que graça nos meios administrativos das diversas sociedades ?
Reflitamos !


            Referências Bibliográficas:
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução J. Herculano Pires – EME Editora – Capivari – SP – 1996.
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Tradução Salvador Gentile – 104ª edição –outubro 1996.




(*) poeta, escritor, membro da Academia Maçônica de Letras do Estado do Ceará, e voluntário do Grupo Espírita Casa do Caminho, em Aquiraz, Ceará.

Comentários

  1. O Canteiro de Ideias dá boas vindas ao confrade e amigo Barbosa, como novo colaborador desse espaço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

PROGRESSO - LEI FATAL DO UNIVERSO

    Por Doris Gandres Atualmente, caminhamos todos como que receosos, vacilantes, temendo que o próximo passo nos precipite, como indivíduos e como nação, num precipício escuro e profundo, de onde teremos imensa dificuldade de sair, como tantas vezes já aconteceu no decorrer da história da humanidade... A cada conversação, ou se percebe o medo ou a revolta. E ambos são fortes condutores à rebeldia, a reações impulsivas e intempestivas, em muitas ocasiões e em muitos aspectos, em geral, desastrosas...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ESPÍRITAS: PENSAR? PRA QUÊ?

           Por Marcelo Henrique O que o movimento espírita precisa, urgentemente, constatar e vivenciar é a diversidade de pensamento, a pluralidade de opiniões e a alteridade na convivência entre os que pensam – ainda que em pequenos pontos – diferentemente. Não há uma única “forma” de pensar espírita, tampouco uma única maneira de “ver e entender” o Espiritismo. *** Você pensa? A pergunta pode soar curiosa e provocar certa repulsa, de início. Afinal, nosso cérebro trabalha o tempo todo, envolto das pequenas às grandes realizações do dia a dia. Mesmo nas questões mais rotineiras, como cuidar da higiene pessoal, alimentar-se, percorrer o caminho da casa para o trabalho e vice-versa, dizemos que nossa inteligência se manifesta, pois a máquina cerebral está em constante atividade. E, ao que parece, quando surgem situações imprevistas ou adversas, é justamente neste momento em que os nossos neurônios são fortemente provocados e a nossa bagagem espiri...

A PROPÓSITO DO PERISPÍRITO

1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos Há, no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida, gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo, corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao “perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao espírito”, [1] o qual, porque “possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo”, [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso de sua evolução, que “modela”, “aperfeiçoa”, “desenvolve”, “completa” e “talha” o corpo humano.[3] O conceito kardeciano da semimaterialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção mais densa do perispírito viabiliza sua união intramolecular com a matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção menos grosseira conserva mais flexibilidade e, d...

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

REENCARNAÇÃO E O MUNDO DE REGENERAÇÃO

“Não te maravilhes de eu te dizer: É-vos necessário nascer de novo.” (Jesus, Jo:3:7) Por Jorge Luiz (*)             As evidências científicas alcançadas nas últimas décadas, no que diz respeito à reencarnação, já são suficientes para atestá-la como lei natural. O dogmatismo de cientistas materialistas vem sendo o grande óbice para a validação desse paradigma.             Indubitavelmente, o mundo de regeneração, como didaticamente classificou Allan Kardec o estágio para as transformações esperadas na Terra, exigirá novas crenças e valores para a Humanidade, radicalmente diferenciada das existentes e que somente a reencarnação poderá ofertar, em face da explosiva diversidade e complexidade da sociedade do mundo inteiro.             O professor, filósofo, jornalista, escritor espírita, J. Herc...