segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O VERNIZ SOCIAL (*)




               


               Diógenes, o filósofo, o mendigo e o cínico (412 – 323 A.C) foi descrito como alguém que carregava uma lamparina em pleno dia à procura de um homem honesto. Acreditava que uma virtude teria que forçosamente constituir-se em uma prática de vida e criticava com extrema veemência o verniz social com que a sociedade se vestia. Viveu a sua história com a simplicidade daqueles que sabem exatamente o que querem para si durante uma existência.

            Passado tanto tempo de proferidas as suas sentenças e alcançadas tantas novas lições de convivência social-escritas e pactuadas leis e constituições - e o homem ainda se vê incapaz de acreditar nas palavras dos seus semelhantes. Continuamos a exercitar a virtude das palavras e deixamos que a atitude se permita cobrir com os vernizes da desfaçatez diante das experiências do outro. O interesse pessoal sobrepuja as fórmulas da convivência compartilhada e mergulhamos na piscina do próprio umbigo, completamente embriagados pelo devaneio do querermos nos provar em posse da razão. Estamos em grupo e conseguimos viver numa condição de solidão demasiado dolorosa. Vivemos uma realidade ditada pelos princípios da vida material e se exibimos crenças religiosas, as mesmas nem sempre se revestem com os princípios da espiritualidade. 


Vencer os ranços do personalismo se constitui num dos mais poderosos obstáculos a serem vencidos na trajetória do homem comum. Na pergunta 914 de O Livro dos Espíritos (“Parece bem difícil extinguir inteiramente o egoísmo do coração do homem se ele estiver baseado no interesse pessoal; pode-se conseguir isso?”) os amigos da espiritualidade  propõem uma fórmula para o verdadeiro encontro com a própria essência ao nos ensinarem que “à medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, dão menos valor às materiais. É preciso reformar as instituições humanas que estimulam e mantêm o egoísmo. Isso depende da educação”.

Ralph Emerson, filósofo do transcendentalismo nos convida à reflexão superior quando sentencia que “a única recompensa da virtude é a própria virtude. O único modo de ter um amigo é ser um”. Jesus nos ensina no Sermão do Monte a lição da convivência ao asseverar: Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. (Mateus 5:39 a 41). 

Se é realmente nosso propósito tornarmos a atual existência proveitosa à finalidade educativa, o que haverá de nos permitir um caminho de autosuperação, tenhamos firmeza de espírito na conquista desses três passos: O desafio de tornar-nos aquele homem a quem Diógenes acharia em plena manhã, no meio da multidão. A aquisição da virtude da amizade que exigimos no outro como o maior presente descrito por Emerson. A capacidade de superarmos sem reatividade as exigências dos nossos pares ao largo do caminho como proposto por Jesus.

6 comentários:

  1. Taí... que eu gostei da passagem "Viveu a sua história com a simplicidade daqueles que sabem exatamente o que querem para si durante uma existência.", poucos sabem....

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  2. Bem pensado...!!!! Parabéns, otima provocação pra reflexão💓💓

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  3. Passados quase 7 anos dessa publicação, eis que me encontro surpreendido pela necessidade da luta diária para a aquisição de tais virtudes sem que deixe de provar muitas derrotas ainda. Roberto Caldas

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  4. Um calunga sabe mais que um sapien.

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