Por Ana Cláudia Laurindo
A vida das mulheres foi tratada como propriedade do homem desde os primevos tempos, formadores da base social patriarcal, sob o alvará das religiões e as justificativas de posses materiais em suas amarras reprodutivas. A negação dos direitos civis era apenas um dos aspectos da opressão que domesticava o feminino para servir ao homem e à família.
A coroação da rainha do lar fez parte da encenação formal que aprisionou a mulher de “vergonha” no papel de matriz e destituiu a mulher de “uso” de qualquer condição de dignidade social, fazendo de ambos os papéis algo extremamente útil aos interesses machistas.
Quando alguma mulher “infringia” essa lei, a morte como punição servia para intimidar as outras. Negar sexo ao homem animalesco também era “inaceitável”. Assim foi criada a ideia de honra masculina, sobre cadáveres de mulheres rebeladas.
O advento do feminismo não foi apenas uma ocorrência de intenções econômicas, mas uma muralha de enfrentamentos ao mal “aceito” pela sociedade, em muitos casos, até mesmo pela família da vítima.
O feminicídio tem raiz ideológica. Em muitas sociedades, é justificado pela fé, pela crença religiosa. Deste modo, há um vácuo na civilidade planetária com relação ao respeito pelo sagrado direito à vida das mulheres.
No Brasil, após a derrocada civilizatória de 2018, o índice de feminicídio ganhou destaque, e nas redes sociais os comentários delituosos também cresceram, amealhando uma camada de fanáticos ao louvor da misoginia.
Sim, em tudo existe política.
No crime e na justiça, podemos encontrar elementos próprios dos direcionamentos políticos de um país, de um povo, ou parte da nação.
Todos os que zombaram publicamente da morte de Marielle Franco assinaram um contrato com o feminicídio.
Todos os que sorriem das violências praticadas contra mulheres no Brasil revelam que o crime mora ao lado, com possibilidade de rastreio, e por isso mesmo, podendo ser combatido com mais seriedade.
A luta pela vida das mulheres não começou agora e não pode parar nunca, até que o respeito por nossos corpos e liberdades se tornem marca de evolução humano/espiritual/societária deste século.

COMENTÁRIO ELABORADO POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA (GEMINI)
ResponderExcluirO artigo aborda de forma contundente e histórica a raiz do feminicídio, localizando-a na estrutura social patriarcal que, desde tempos remotos, tratou a vida e o corpo das mulheres como propriedade masculina, sob justificação religiosa e material.
O texto destaca que a opressão feminina, formalizada na dicotomia entre a "rainha do lar" (mulher domesticada) e a mulher de "uso", é uma encenação útil aos interesses machistas, na qual a punição (inclusive a morte) serve como intimidação.
O autor argumenta que o feminicídio tem uma raiz ideológica e é, muitas vezes, justificado pela crença, criando um "vácuo na civilidade planetária". No contexto brasileiro, o artigo faz uma crítica à ascensão da misoginia e dos comentários delituosos em redes sociais após 2018, ligando o escárnio público a casos como o de Marielle Franco a um "contrato com o feminicídio".
Em suma, o texto é um manifesto político-social que conclama à seriedade no combate ao crime, ressaltando que a luta pela vida, corpo e liberdade das mulheres é um imperativo para a evolução humana e social.