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“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

 



 Por Doris Gandres

Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos.

O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

De acordo com os ensinamentos da nossa Doutrina Espírita, na questão 711 os amigos espirituais nos asseguram que o uso dos bens da terra é um direito de todos e que esse direito é consequente da necessidade de viver. Sem dúvida, entendemos que os bens da terra, sejam quais forem, são preciosos elementos da Criação de Deus, mediante a aplicação de suas leis e a infinita possibilidade de combinação desses elementos, e que aqui estão para nosso uso a fim de nos garantir a vida material.

Nas duas questões seguintes, a 712 e a 712 a, eles explicam que os tantos atrativos que encontramos nesse uso servem para nos instigar ao cumprimento da nossa missão e servem também como objeto de tentação, para nos estimular a desenvolver a nossa razão a fim de nos preservar dos excessos. Mas, lamentavelmente, em geral, a nossa razão, em lugar de nos levar ao bom uso, desenvolveu-se no sentido de buscar meios e condições de angariar todo tipo de excessos, cada vez mais e a qualquer custo.

No entanto, hoje já não podemos alegar desconhecer a lei de causa e efeito, de ação e reação, lei que corresponde claramente à recomendação do Cristo de que “a cada um segundo suas obras”.

Pouco mais adiante, quando Kardec pergunta na questão 717 sobre o que pensar dos que açambarcam os bens da terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário, a resposta é absolutamente clara e incisiva: Desconhecem a lei de Deus e terão que responder pelas privações que ocasionaram. Naturalmente compreendemos que não se trata da lei de talião, nem mais do olho por olho, dente por dente... Trata-se tão somente da lei de reciprocidade, da lei de retorno. Trata-se da lei régia ensinada por Jesus de Nazaré: fazer ao próximo o que desejo ele me faça. E próximo não é somente o que está junto de nós, são todos os seres viventes, é toda a Natureza, toda a Criação. Porque tudo interage, tudo está interligado, tal como nos esclareceram os Espíritos na sua resposta à questão 33, de que a mesma matéria elementar, ou seja o fluido universal, é suscetível de passar por todas as modificações e adquirir todas as propriedades e que é o que devemos entender quando nos dizem que tudo está em tudo.

Desse modo, não podemos mais postergar nossa tomada de posição, não podemos mais adiar realizarmos, cada um, ações e atitudes imprescindivelmente necessárias HOJE para colaborar, cada um, com a melhoria da situação física do nosso planeta. Já sabemos o que podemos fazer, e não devemos achar que é pouco e de nada adianta... Pouco mais pouco, mais pouco aos milhares, aos milhões, torna-se muito!

Vou terminar com a recomendação daquele chefe índio, em 1854: Ensinai também, a vossos filhos, aquilo que ensinamos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei a eles que a respeitem, pois tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles mesmos. Ao menos saibamos isto: a terra não é do homem, o homem pertence à terra. Não foi o homem que teceu a teia da sua vida, ele não passa de um fio dessa teia. Tudo que ele fizer para essa teia, estará fazendo para si mesmo.

 

Bibliografia: O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questões 711, 712, 712 a e 717

Comentários

  1. COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA
    O texto reflete sobre a interconexão entre a humanidade e a natureza, usando a carta do Chefe Seattle de 1854 como ponto de partida atemporal. Critica a depredação ambiental atual e a indiferença de muitos, exemplificando com o problema do plástico nos oceanos.

    Com base na Doutrina Espírita, o artigo reforça que o uso dos bens da Terra é um direito, mas os excessos geram consequências severas, à luz da lei de causa e efeito e da máxima cristã "fazer ao próximo o que desejo para mim". Esta regra se estende a todos os seres vivos e à Criação.

    Conclama à ação individual e urgente para a melhoria do planeta, destacando que pequenas contribuições se somam. Finaliza com a sabedoria de Seattle, reiterando que o homem pertence à Terra e que qualquer dano a ela é um dano a si mesmo, sublinhando a responsabilidade intrínseca de cada um.

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