A poesia descreve o ciclo, o tempo estabelece as regras, a estrada manobra o passo a passo. O enredo apresenta alguém de calças curtas, joelhos ralados e uma incansável sede de sorver toda a alegria que possa ser extraída das peraltices da infância.
“Eu vi um menino correndo/Eu vi o tempo brincando ao redor/Do caminho daquele menino”, diria Caetano Veloso (Força Estranha). “Ontem um menino que brincava me falou/Hoje é semente do amanhã”, retrucaria Gonzaguinha (Semente do Amanhã). A metamorfose do menino em adulto não deveria apagar os sonhos da criança que amadurece para embalar outras crianças quando deixa de apenas ser filho e se torna um pai.
Ser pai supõe ter sido filho um dia e ter um mapa especial que terá sido urdido nas paisagens de sua infância para, de forma lúdica e responsável, ter a coragem de entregar a porção mais substancial de sua vida na construção dos caminhos dos pequenos que brincam e se alvoroçam em seu entorno.
Diversas as armadilhas que podem impedir o bom desempenho da tarefa paternal. A maior, esquecer como funciona a cabeça de uma criança impondo-lhe uma visão cartesiana, real demais, pelo risco de destruir as estrelas imaginárias dos sonhos. Inegável que o mundo das pessoas grandes é exigente e até cruel, mas o coração paterno sempre haverá de produzir molas e colchões para imprimir suavidade e leveza aos passos dos filhos.
Mais especial ainda a função da paternidade quando as relações afetivas se ampliam para aquém do nascimento e além da morte. Circunstância que vincula Espíritos em processo de contínuo aprendizado com permuta de papéis entre si na fortificação dos laços de amor que a transitoriedade do corpo não impede a transcendentalidade. Tamanha felicidade nesses reencontros está descrita em O Livro dos Espíritos (q. 207 – a): “De onde vêm as semelhanças morais que existem às vezes entre os pais e os filhos? – São Espíritos simpáticos, atraídos pela afinidade de suas inclinações”.
Aos pais do presente cabe uma divagação que os faça buscar a energia da criança que traz consigo, quando olhando a figura de seus pais se percebia amparado por alguém que muito mais que saciar-lhes as necessidades da sobrevivência construía uma ponte para o futuro, uma mensagem viva de terem alguém que estaria ali incondicionalmente. Provavelmente muitos desses pais já se despediram dos seus pais, viajores da eternidade agora, mas é possível reconstruir em suas mentes, as crianças que foram enquanto degustam, embalados pela saudade e a felicidade das lembranças, aquela convivência que ficou num tempo que as memórias guardaram.
Antena Espírita tem a honra de parabenizar todos os pais do planeta na figura daqueles que embalam os seus filhos permitindo que os meninos que foram um dia falem aos seus corações, ora representados pelos meninos-pais aqui citados: Jean, Cid, Castro, Clélio, Paulo Vale, Paulo Eduardo e Roberto, adultos/crianças que reverenciam os seus pais. Nossa gratidão aos velhos amigos que nos deram a oportunidade dessa encarnação.
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