Por Marcelo Henrique
Convivendo a quase três décadas no movimento espírita, volta e meia nos deparamos com situações e posturas um tanto equivocadas, as quais se já não são mais surpreendentes, ainda nos motivam à acurada reflexão. Uma delas diz respeito ao discurso de tribuna acerca da realidade do Mundo Espiritual. Alguns expositores, talvez, maravilhados ante certos relatos contidos em livros psicografados (nem todos submetidos, é bem verdade, ao cotejo com os princípios fundamentais e as orientações contidas nas obras básicas), passam a contar para a plateia “como é” a vida na espiritualidade, descrevendo, até, cenários e contingências “fantásticas” (!), frágeis ante o conteúdo essencial da Doutrina Espírita. Há “modernos" aparelhos e instrumentos, veículos de transporte, alimentos, remédios e outros recursos, que mais parecem a continuidade dos nossos cenários físicos, mesclados com alguns elementos de obras de ficção científica, como os célebres livros de Júlio Verne.
Em paralelo, há muitos espíritas que se julgam mais adiantados que os demais, assumindo atitudes como já estivessem vivendo no Plano Espiritual, tal o “desprendimento” das coisas materiais, que aparentam ter. Ou, então, agem, nas mínimas situações da vida física, sem dar tanta importância àquilo que constitui necessidade para o corpo, morada do ser encarnado. Espiritualização em nenhum momento significa a exclusão, a ojeriza, a abdicação dos meios materiais, ferramentas ou instrumentos colocados à disposição do homem para o progresso e bem-estar. Há uma aparente e descabida confusão entre uso e abuso, portanto, ou entre os conhecidos elementos do texto evangélico, necessário e supérfluo. Você já se imaginou morando numa residência bem rústica, sem energia elétrica, em zona rural? Gostaria de viver numa casa sem água potável ou rede sanitária? Ficaria despreocupado caso sua esposa, em trabalho de parto, tivesse que recorrer à caridade de um vizinho, para ter seu filho numa bacia? Viveria sem creme dental ou desodorante?
Estas situações, verdadeiramente, dão o que pensar... Há companheiros nossos, que, se não chegam a esses cúmulos, parecem viver em pleno século XIX, época em que Kardec rascunhou e publicou a primeira versão da obra pioneira, cujo sesquicentenário, agora, comemoramos (1857-2007). Tentam, a todo custo, interpretar as ideias da Codificação como se elas fossem “a modernidade”, a “última palavra” em tudo e para tudo, por todo o sempre... É claro que não podemos desprezar o contexto sócio-histórico-cultural daquela época; ele é a bússola para entender porque Kardec fez esta ou aquela pergunta, ou, em contraponto, o motivo de não ter, ele, abordado tal ou qual situação (engenharia genética, uniões homossexuais, viagens interplanetárias, televisão digital, etc.). Certas pessoas parecem ter parado no tempo... Ou, aparentam viver em outro século, noutra realidade, em outro planeta... Kardec (nem os Espíritos Superiores) não pôde dizer tudo, porque havia muitos outros horizontes de conhecimento a divisar e descortinar, seja por existir limitações de vocabulário, de entendimento, de cientificidade para os homens de seu tempo, como ficou patente nos textos de origem espiritual.
Nosso contributo à obra kardequiana decorre do estudo constante, da revisão comparativa (com o progresso científico e cultural de nosso tempo), submetendo a produção espírita dos encarnados e dos desencarnados, ao exame criterioso de validade, utilidade e sustentabilidade, nas novas proposições e teorias. A codificação não é tudo, nem poderia ser, a não ser que admitíssemos o estacionamento espiritual, individual e coletivo, ou que fechássemos os olhos ao derredor, dogmatizando o Espiritismo. Como um rio que precisa seguir o curso natural, ou, até, precisando edificar diques, represas ou usinas hidrelétricas, deixemos crescer a doutrina, e, melhor, dando nossa contribuição ativa para tal.
COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL-GEMINI
ResponderExcluirO autor critica duas posturas equivocadas que observa no movimento espírita:
* A visão fantasiosa do mundo espiritual: Ele se opõe à ideia de que o plano espiritual é apenas uma versão aprimorada e moderna do mundo físico, com veículos, tecnologia e cenários semelhantes aos que encontramos em livros de ficção científica. O autor argumenta que essa visão simplista não se alinha com os princípios essenciais da Doutrina Espírita e é resultado da leitura acrítica de certos livros psicografados.
* O desprezo excessivo pelo material: O texto questiona a atitude de alguns espíritas que, em nome da "espiritualização", desprezam as necessidades e os recursos do mundo material, agindo como se já estivessem no plano espiritual. O autor defende que a espiritualização não significa abdicar de ferramentas e confortos materiais que promovem o progresso e o bem-estar, mas sim usar esses recursos de forma consciente, evitando o abuso.
O texto também aborda a necessidade de contextualizar a obra de Allan Kardec, lembrando que a Codificação foi escrita no século XIX e, portanto, não podia abordar todos os temas e avanços que viriam a surgir. O autor defende que o Espiritismo deve ser um rio em constante movimento, aberto ao estudo, à reflexão e ao progresso, e não um dogma estagnado no tempo. Ele conclui que o verdadeiro "contributo" à obra kardequiana é o estudo constante e a comparação com o progresso científico e cultural.