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O POTENCIAL FILOSÓFICO DE "O LIVRO DOS ESPÍRITOS"

 

Por Jerri Almeida

Em 2007, ano em que O Livro dos Espíritos comemorou o seu sesquicentenário, naturalmente, eclodiram significativas reflexões sobre o seu conteúdo na cultura contemporânea. Cento e cinquenta anos podem ser enquadrados, historicamente, num tempo de curta duração, o que significa que o potencial filosófico dessa Obra, evidentemente, não esgotou o seu dinamismo essencial. Nosso propósito, com esse artigo, é refletirmos sobre o conjunto dessa Obra Primária do Espiritismo, em especial, sobre a contribuição de sua filosofia para o homem atual.

O Livro dos Espíritos é a obra fundadora da Doutrina Espírita e, portanto, do que chamamos de “filosofia espírita”. A rigor, nos meios intelectuais continua se negando o caráter filosófico dessa Obra codificada por Kardec. Gonzáles Soriano, em seu ensaio intitulado: “El Espiritismo es la Filosofia”, mesmo sem ser espírita, assevera que o Espiritismo é: “...a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade.”[1] Ora, a longa tradição filosófica do Ocidente, buscou na razão as interpretações que se julgavam “lógicas” e “aceitáveis”, para explicar o mundo.

A filosofia, no seu nascedouro, buscou romper com a explicação mitológica da realidade, muito comum nas sociedades agrárias antigas. Embora, ainda hoje, se aceitar a definição de Pitágoras, num sentido mais etimológico, de que a filosofia signifique: “amor à sabedoria”, devemos perceber, num sentido amplo, que o que existe são “filosofias”, ou seja, concepções diferentes sobre a realidade. Nos vinte e cinco séculos de tradição filosófica Ocidental os inúmeros filósofos e suas escolas conceberam filosofias distintas e, muitas, conflitantes.

Quer se afirme que a filosofia seja: um conjunto de saberes, uma visão de mundo ou um modelo explicativo da vida, é importante lembrarmos o pensamento do filósofo Sexto Empírico, do século II-III, ao afirmar que em toda investigação temos três resultados possíveis: acreditamos ter encontrado toda a resposta; acreditamos ser impossível encontrar a resposta, ou continuamos buscando. Para ele, a filosofia deveria repousar nessa última questão, ou seja, de que o conhecimento não é algo pronto, acabado, fechado, mas, sobretudo, progressivo. Nada é sagrado, pois tudo é objeto de crítica e análise.

Allan Kardec, embora não ter sido propriamente um filósofo, teve a grandeza intelectual de jamais “fechar” o pensamento espírita em torno de uma “verdade única” e, filosoficamente, dogmática. Esse é um caráter intrínseco do discurso filosófico: a liberdade de pensamento, aberto à reflexão e ao progresso das ideias.

O Espiritismo, na medida em que busca explicar a realidade através da razão e da lógica, utiliza-se de um discurso filosófico. Todavia, a filosofia espírita, inaugurada em O Livro dos Espíritos, não traduz uma simples reflexão intelectual para criar sentidos ou significados, Ao contrário, a filosofia espírita, é um saber que se justifica com base nos fatos. Ao analisar o conjunto de sua obra, veremos que Kardec não partiu da “crença”, mas da sólida pesquisa científica, no campo da mediunidade, para, num segundo momento, enveredar pelos caminhos da interpretação dos fatos, com base no crivo da razão. Disso surgiu a filosofia espírita inserida, inicialmente, em O Livro dos Espíritos.

Para Marcondes: “A contribuição da filosofia tem sido, portanto, desde o seu nascimento na Grécia antiga, a interrogação, o questionamento, a pergunta. Para a filosofia não há nada que não possa ser posto em questão. Deve ser possível discutir tudo.”[2] Sob esse aspecto, O Livro dos Espíritos, em suas 1019 perguntas ou questionamentos, se afirma no discurso filosófico. Kardec indagou os espíritos sobre um universo de questões que sempre inquietaram o pensamento humano: Deus, a alma, a origem da vida, a morte, os problemas sociais e familiares, a liberdade, o sofrimento, o destino e a felicidade, entre outros. Dessa forma, a Obra Primeira da Doutrina Espírita avança, no seu modelo explicativo da vida, por onde outras filosofias se calaram, vítimas dos preconceitos ou do orgulho de seus formuladores.

Um estudo atento de O Livro dos Espíritos, evidencia a busca constante de Kardec, por explicações plausíveis, que possam atender à coerência e ao bom senso. Ele interroga os espíritos com firmeza, cercado de boa argumentação, mas – ao mesmo tempo – buscando libertar-se de preconceitos e atavismos culturais de sua época, muito embora, seria ingenuidade pensar numa “neutralidade absoluta”.

Há, naturalmente, uma “busca incessante” de conhecimentos e reflexões, iniciadas em O Livro dos Espíritos e que, evidentemente, não para com ele, nem mesmo o esgota em todo o seu potencial doutrinário. Isso oferece, ao conjunto das Obras Básicas, um dinamismo inesgotável, uma vez que a experiência da evolução espiritual vai oportunizando, ao Ser, uma ampliação de seus horizontes intelectuais.

Portanto, uma vez estabelecida a base estrutural do conhecimento espírita, em 18 de abril de 1857, o seu núcleo passa a ser a análise do homem na condição de espírito imortal e pluriexistencial. Define-se uma ontologia integrando a filosofia espírita no conjunto da tradição filosófica dualista: pitagórica, socrática, platônica, entre outras. Mas o espiritismo vai além do dualismo filosófico, estudando o Ser numa dimensão tríplice: espírito, perispírito e corpo. A partir dessas informações, buscamos aprimorar instrumentos de investigação que nos permitam compreender ou desvendar melhor essa realidade espiritual.

As obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, em especial as de André Luiz, ofereceram inestimáveis enfoques, descortinando, ainda mais, o conteúdo de O Livro dos Espíritos. Os estudiosos da Doutrina Espírita, utilizando-se dos recursos da hermenêutica, empenham esforços para aproximarem-se, o máximo possível, da essência dos conhecimentos transmitidos pelos espíritos à Kardec. Não se trata de caminharmos pelo território livre da “opinião”, representada nos famosos “achismos”, mas nos referimos à análise responsável, fundamentada e comprometida com a Causa.

Sendo que o conhecimento espírita é dinâmico, ele não foi dado por completo ou “acabado”, cabe ao ser humano, à luz da lei do trabalho[3], buscar compreendê-lo sem deturpá-lo. Interpretar não significa modificar os seus fundamentos. Na verdade, a “interpretação” é um esforço da inteligência por “encontrar um sentido escondido”, que não está, necessariamente, claro. Ora, em nossa condição de espíritos em evolução, não podemos depreender que já esteja tudo “claro”, em termos de entendimento sobre a vida e seus mecanismos. Logo, a capacidade de interpretação é inerente ao ser humano.

É preciso considerar, também, que O Livro dos Espíritos apresenta dois outros componentes importantes da reflexão filosófica: o diálogo e a dialética. Kardec, em todo o conjunto da Obra, dialoga com os espíritos através de inúmeros médiuns. Esse diálogo é uma relação dialética, de um conhecimento que não é uma simples “revelação” hierarquicamente estabelecida, mas que se opera pela via do debate e da discussão. A partir de uma pergunta, e de sua resposta, surgem outras perguntas e outras respostas que, ao longo do trabalho, são sistematicamente ordenadas.

Essa relação dialética se processa também no diálogo crítico do leitor com a obra. Mas é preciso que esse diálogo se distancie das leituras simplistas onde, muitas vezes, se busca afirmar o conteúdo doutrinário através de posturas acríticas, influenciadas pela teologia tradicional. Através de sua metodologia, Kardec nos ensinou, por óbvias razões, a dialogar com a fonte das informações, os espíritos, de forma racionalista sem, no entanto, perder o viés dos sentimentos. A racionalidade empregada aos estudos deve servir para que os seus conteúdos nos levem a um encantamento, no bom sentido do termo, pela vida.

Nesse momento, entramos num outro aspecto dessa reflexão que, para alguns poderia parecer óbvio e para outros nem tanto: Qual o dinamismo essencial do conteúdo de O Livro dos Espíritos? O que a sua filosofia nos oferece, além dos referenciais já conhecidos? Kardec afirmou que: “... o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós.” [4] Sabidamente, essa Obra Primeira oferece-nos uma cosmovisão da vida e sua significação profunda na ordem do Universo, motivando, a partir disso, uma mudança, no comportamento humano.

Na Introdução de O Livro dos Espíritos, item XVII, Allan Kardec informa sobre o sentido pragmático dessa obra: “Esperamos (...) guiar os homens que desejem esclarecer-se, mostrando-lhes, nestes estudos, um fim grande e sublime: o do progresso individual e social e o de lhes indicar o caminho que conduz a esse fim.” Entretanto, Kardec advertiu: “Fora presumir demais da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por efeito das ideias espíritas. A ação que estas exercem não é certamente idêntica, nem do mesmo grau em todos os que as professam. Mas o resultado dessa ação, qualquer que seja, ainda que extremamente fraco, representa sempre uma melhora.”[5]

Karl Marx afirmou, por volta de 1845, que: “Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diferentes maneiras; trata-se, agora, de transformá-lo.” Doze anos após, com o surgimento de O Livro dos Espíritos, temos a proposta de uma filosofia transformadora e, de certa forma, revolucionária, ao propor uma nova reflexão sobre os fundamentos da existência de Deus, do Ser, do destino e da dor. Ao iniciar o seu diálogo com as entidades espirituais, Kardec parte, justamente de Deus: “Inteligência suprema e a Causa primária de todas as coisas.” Ora, esse “ponto de partida” recolocava Deus, novamente, no centro do debate filosófico, não de forma teológica, mas pela força dos argumentos.

Dessa forma, a filosofia espírita estabelece uma reconciliação entre a fé e a razão, entre a religião e a ciência. Um dos grandes problemas intelectuais do século XIX era a validade da fé. Sob essa discussão, Kardec, ao final de um interessante artigo sobre “A Religião e o Progresso”, enfatiza que: “É pela concordância da fé e da razão que diariamente tantos incrédulos são trazidos a Deus.” [6]

O codificador, ainda referindo-se ao “Espiritismo filosófico”, resume três de seus efeitos: a) desenvolver o sentimento religioso; b) desenvolver a resignação nas vicissitudes da vida; c) estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. [7] Bem se percebe, por isso, que o conteúdo de O Livro dos Espíritos não se limita, simplesmente, a produzir um conjunto de reflexões teóricas ou um novo saber. Seu foco é tornar-se uma filosofia prática, capaz de contribuir para uma melhora do espírito humano, individual e coletivamente.

É compreensível que a elucidação dos problemas da existência e da vida, quer seja no âmbito individual ou social, permite ao ser humano aproximar-se melhor de uma compreensão sobre a Justiça Divina e sua Providência. O ateísmo é produto da ignorância em relação a antigas crenças sobre Deus alimentadas, ao longo do tempo, pela imaginação humana. Por isso, o Espiritismo nos convida à “fé raciocinada”, a estudarmos com maior profundidade as Leis Morais que regem e que orientam a nossa evolução espiritual.

Na medida em que passamos a compreender e a correlacionar a: Justiça Divina, a Imortalidade da alma, a reencarnação, o livre-arbítrio e a lei de ação e reação, passamos, naturalmente, a perceber com maior nitidez os mecanismos existenciais, a felicidade e os sofrimentos humanos. No centro desse processo evolutivo está o espírito, ser inteligente da criação que, no corpo ou fora dele, realiza as suas múltiplas experiências de crescimento ético-moral. Deus é amor. Ele não nos perdoa porque não se magoa, nem se melindra. A divindade não se zanga e nem sente ódio, pois esses são qualificativos humanos. Deus, na sua magnitude, nos “compreende”, oportunizando-nos o exercício pessoal da liberdade associada às Leis Morais.

Compreendendo essas estruturas da vida, o ser humano passa a enfrentar melhor, e mais conscientemente, as vicissitudes, as adversidades, percebendo nelas, de um lado, o reflexo natural daquilo que ele pode estar semeando e, de outro, os desafios evolutivos que lhe cumpre enfrentar. Compreende que esses desafios predispõem, ao indivíduo, o desenvolvimento de forças insuspeitadas, desconhecidas, que nele estavam latentes. Ao mesmo tempo, o conteúdo exarado em O Livro dos Espíritos propõe uma filosofia da convivência pautada, essencialmente, na moral cristã, sob a ótica do Amor. Logo, amar ao próximo é, também, ser indulgente com suas limitações, uma vez que todos vivemos na órbita de nossa incompletude.

Sendo a única obra da codificação totalmente ditada pelos espíritos orientadores, O Livro dos Espíritos inaugurou, sem nenhum ufanismo, uma nova fase do pensamento humano. É, sem dúvida, um novo paradigma do conhecimento, possuindo um sólido alicerce doutrinário, sem se tornar, no entanto, temporalizado, fechado, pois que acompanha o avançar das novas informações e saberes.

Portanto, O Livro dos Espíritos veio para ficar! Todo o seu potencial filosófico, como buscamos refletir até agora, enseja uma revisão do existencialismo e do materialismo. Seus argumentos são intelectualmente bem fundados, e sua essência restaura uma visão otimista da vida, situando-a no contexto da evolução ético-espiritual do homem, ser imortal e pluriexistencial, criado por Deus, para lograr a plenitude.

 

 

 

NOTAS

[1] Citado por Herculano Pires. Introdução à Filosofia Espírita. 2ª. ed. São Paulo: FEESP, 1993. P. 20.

[2] MARCONDES, Danilo. Para que serve a filosofia? (Prefácio) In. Café Philo: As grandes indagações da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

[3] Kardec nos oferece o seu próprio depoimento: “Eu precisei mais de um ano de trabalho para ficar convencido.” In. O Que é o Espiritismo. 32ª. ed. FEB. Cap. 1. Pág. 52. .

[4] O Livro dos Espíritos. Introdução, item XIII.

[5] Idem. Conclusão, item VII.

[6] Revista Espírita, julho 1864 (“A Religião e o progresso”)

[7] O Livro dos Espíritos. Conclusão, item VII.

Comentários

  1. COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL- IA
    O texto apresenta O Livro dos Espíritos como uma filosofia transformadora e revolucionária, que vai além da mera interpretação do mundo. Diferente das filosofias anteriores, a proposta espírita recoloca Deus no centro do debate, não por dogmas teológicos, mas pela força da razão e dos argumentos.
    Essa abordagem promove uma reconciliação entre fé e razão, religião e ciência, combatendo o ateísmo pela "fé raciocinada" e o estudo das Leis Morais. O espiritismo filosófico visa desenvolver o sentimento religioso, a resignação e a indulgência, focando na melhora do espírito humano, individual e coletivamente.
    Ao elucidar conceitos como Justiça Divina, imortalidade da alma, reencarnação e lei de causa e efeito, a doutrina espírita permite uma compreensão mais profunda da existência e dos desafios da vida. O espírito é o protagonista desse processo evolutivo, experimentando o crescimento ético-moral. A visão de Deus é de um ser amoroso e compreensivo, que oportuniza a liberdade associada às Leis Morais.
    O Livro dos Espíritos, ditado por espíritos, inaugurou um novo paradigma do conhecimento, oferecendo uma filosofia da convivência baseada no amor cristão e na indulgência. É uma obra atemporal que desafia o existencialismo e o materialismo, restaurando uma visão otimista da vida e da evolução ético-espiritual do homem como ser imortal.

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