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COMO SOBREVIVER NA ERA DOS ZUMBIS

 

Por Ana Cláudia Laurindo

A sensação de perda que invade o nosso tempo está cada vez mais abrangente, pois a futilidade mostra que venceu em todas as áreas que tínhamos preservado como importantes, até mesmo na educação com vistas ao futuro profissional, a massa acredita que se tornar um influencer é menos oneroso e pode trazer retorno mais rápido do que o estudo e a qualificação formal.

Alguns ícones provam que dá certo. São heróis sem personalidade, ao gosto do mercado consumidor de gente, com alma e inteligência junto.

Aos poucos estão tirando a importância da educação e da escola. Com mais celeridade estão desativando o modo “leitura e interpretação de mundo” da mente das crianças, adolescentes, jovens e adultos.

O comando vigente é performar.

Talvez consiga um lugar ao sol do capitalismo na aba do entretenimento. Talvez seja mais uma sombra sobre o destino da política e dos políticos, que promovem apenas sensações, enquanto lucram e deturpam o sentido da própria República.

Se isso não for violência, é algo pior que ainda será nomeado.

É o eco do oco do sistema. No interior da bifurcação gemem os pobres e miseráveis, conduzidos a todas as restrições e adoecimentos por falta de nutrição corporal, mental, psicológica e até mesmo espiritual.

O capitalismo come até a fome.

Transforma todas as classes em zumbis de áreas distintas; gente que vaga com uma tela na mão consumindo dopamina barata e fácil, gente que vaga na fissura voraz do craque, gente que esqueceu de ser gente e gravita como dado em torno de políticos medíocres e repulsivos, gente que não sabe mais para onde ir ou voltar…

O sentimento de perda é intrínseco. Real. E a vereda da compreensão está desmoralizada pela maioria viciada em não pensar, não valorizar, não saber mais conviver com outros tipos de conteúdo.

Toda cultura ativa é contra-cultura nesse tempo de maldição. Cultivar o intelecto e ser conservador da essência é uma forma possível de resistência, mas o preço a pagar é alto e pede outro tipo de força, a moral.

Identificar os pares não é egoísmo, é um caminho para a vida em tempo de morte aberta, colorida e destituída de sentido histórico, humano, espiritual.

Encontre sua tábua e invista na salvação, pois não é para desprezar o impacto do tsunami liberal que está levando as referências para o nada. Tudo é barulho, tudo é consumo, nada além da bolha tecnológica existe mais.

Contudo…nós estamos aqui. Ainda feitos de necessidades e ansiosos pela felicidade genuína. Essa pulsão pode nos levar à vida. Quando não há certeza sobre o futuro, algumas boas referências do passado nos alertam. O conhecimento é nosso melhor amigo e conselheiro, por isso não é substituível. Agarre o seu e salve a história.

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