Pular para o conteúdo principal

MATÉRIA DE PONDÉ NA FOLHA COM GROSSERIAS SOBRE O ESPIRITISMO - DORA INCONTRI RESPONDE

Luiz Felipe Pondé

Por Dora Incontri

Mandei essa carta abaixo para o Ombudsman da Folha. Advinhem se obtive resposta!! 

Prezado colega José Henrique Mariante! 

 

Primeiro me apresento e depois me queixo!

Sou jornalista, mestre, doutora e pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP, tenho mais de 40 livros publicados, dirijo a Editora Comenius e o projeto alternativo de educação Universidade Livre Pampédia. Também tenho sido colaboradora nos últimos anos do Jornal GGN, tendo interrompido por um tempo as minhas contribuições lá, por causa de uma luta contra o câncer.

Sou uma liderança bastante conhecida do espiritismo progressista - porque como em todas as filosofias e religiões há os conservadores, fundamentalistas e há os que pensam e repensam as próprias raízes.

 

Vamos à crítica: Li hoje o texto de Luiz Felipe Pondé: (saiba mais)

 

Cristianismo não sabe responder por que Deus deixa o mal acontecer

Não é a primeira vez que Pondé se refere ao espiritismo com extremo desprezo e grosseria e, o que é pior, revelando um conhecimento raso dessa filosofia, que ele chama de "a mais tosca das religiões". - sendo que até entre os espíritas, discute-se se somos ou não uma religião. 

A questão em pauta hoje é a origem ou a necessidade do mal no mundo e a existência ou não de Deus. Pondé tem completo direito, obviamente, de pensar o que quiser e mesmo de argumentar contra qualquer concepção filosófica e religiosa. Mas o que ele não pode é discriminar, usar de grosseria, destruir um conceito que faz parte de outra visão de mundo, usando esse conceito de maneira reducionista e distorcida. Para ele, o mal para os espíritas é pagar boletos de outra encarnação. Numa visão pequena, sim… mas não é essa a explicação do mal no mundo.

Cometo a falta de modéstia de citar a mim mesma (aliás, um pecadilho de nada, comparado ao tamanho do ego do Sr. Pondé, embora os homens sempre possam ter o ego inchado, na sociedade patriarcal em que vivemos e as mulheres… nem tanto!)

Em meu livro Deus e deus (Editora Comenius) eu discuto isso. De forma reduzida, vou escrever dois parágrafos aqui:

"No campo da filosofia, temos o esquecido Henri Bergson, que também partilhou a ideia de um evolucionismo espiritualista e exerceu influência sobre o grande teólogo católico Teilhard de Chardin, que sofreu por parte dos religiosos quase o mesmo olvido que os cientistas votaram a Russel Wallace. Num sistema de pensamento de grande beleza poética e alto alcance epistemológico, Chardin desvendou Deus como aquele Ser que desencadeia um processo de aperfeiçoamento permanente, desde as formas mais simples de vida até as altas manifestações da inteligência e do amor.

Mas antes de Wallace, Bergson e Chardin, houve outro menosprezado na história das ideias, que defendeu um evolucionismo cósmico, com a ideia de Deus, como criador dos seres em constante aperfeiçoamento e da própria lei da evolução: Allan Kardec.

Em todos esses pensadores, não há a mínima negação de Deus, mas a sua exaltação, a ampliação de seu conceito, um louvor implícito da sua grandeza. Não se trata de um deus que criou do nada um mundo acabado, estático. Trata-se de um Deus que criou um mundo em permanente ascensão, um universo dinâmico, vivo, que Ele sustenta, governa e conduz para sempre maior perfeição. Nesse universo, o mal é temporário, o erro é aprendizagem, a dor é pedagógica e tudo se encaminha para o melhor."

Sinto-me atingida pessoal e coletivamente pela maneira tosca com que Pondé trata o espiritismo. E acho que é parte do jornalismo honesto respeitar as diferentes formas de crença e não crença (que aliás é um dos meus principais trabalhos).

Não sei que providências pretende e pode tomar… se for o caso, posso escrever um artigo em refutação, pode publicar essa carta e, de qualquer maneira, enviar essas considerações ao Sr. Pondé!

 Agradeço a atenção

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

OS FANATISMOS QUE NOS RODEIAM E NOS PERSEGUEM E COMO RESISTIR A ELES: FANATISMO, LINGUAGEM E IMAGINAÇÃO.

  Por Marcelo Henrique Uma mensagem importante para os dias atuais, em que se busca impor uma/algumas ideia(s), filosofia(s) ou crença(s), como se todos devessem entender a realidade e o mundo de uma única maneira. O fanatismo. Inclusive é ainda mais perigoso e com efeitos devastadores quando a imposição de crenças alcança os cenários social e político. Corre-se sérios riscos. De ditaduras: religiosas, políticas, conviviais-sociais. *** Foge no tempo e na memória a primeira vez que ouvi a expressão “todos aprendemos uns com os outros”. Pode ter sido em alguma conversa familiar, naquelas lições que mães ou pais nos legam em conversas “descompromissadas”, entre garfadas ou ações corriqueiras no lar. Ou, então, entre algumas aulas enfadonhas, com a “decoreba” de fórmulas ou conceitos, em que um Mestre se destacava como ouro em meio a bijuterias.

PROGRESSO - LEI FATAL DO UNIVERSO

    Por Doris Gandres Atualmente, caminhamos todos como que receosos, vacilantes, temendo que o próximo passo nos precipite, como indivíduos e como nação, num precipício escuro e profundo, de onde teremos imensa dificuldade de sair, como tantas vezes já aconteceu no decorrer da história da humanidade... A cada conversação, ou se percebe o medo ou a revolta. E ambos são fortes condutores à rebeldia, a reações impulsivas e intempestivas, em muitas ocasiões e em muitos aspectos, em geral, desastrosas...

A PROPÓSITO DO PERISPÍRITO

1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos Há, no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida, gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo, corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao “perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao espírito”, [1] o qual, porque “possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo”, [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso de sua evolução, que “modela”, “aperfeiçoa”, “desenvolve”, “completa” e “talha” o corpo humano.[3] O conceito kardeciano da semimaterialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção mais densa do perispírito viabiliza sua união intramolecular com a matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção menos grosseira conserva mais flexibilidade e, d...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

REENCARNAÇÃO E O MUNDO DE REGENERAÇÃO

“Não te maravilhes de eu te dizer: É-vos necessário nascer de novo.” (Jesus, Jo:3:7) Por Jorge Luiz (*)             As evidências científicas alcançadas nas últimas décadas, no que diz respeito à reencarnação, já são suficientes para atestá-la como lei natural. O dogmatismo de cientistas materialistas vem sendo o grande óbice para a validação desse paradigma.             Indubitavelmente, o mundo de regeneração, como didaticamente classificou Allan Kardec o estágio para as transformações esperadas na Terra, exigirá novas crenças e valores para a Humanidade, radicalmente diferenciada das existentes e que somente a reencarnação poderá ofertar, em face da explosiva diversidade e complexidade da sociedade do mundo inteiro.             O professor, filósofo, jornalista, escritor espírita, J. Herc...