Pular para o conteúdo principal

QUE FAREMOS AGORA, BRASIL?

 


“Mas é infâmia demais… Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!”

Quando vi Caetano num vídeo feito no México, pálido e trêmulo, pedindo para que se tomassem providências para proteger os Wajãpis no Amapá, que estavam sendo atacados… vi que não podia falar de amenidades, hoje, nessa coluna. Aliás, não temos podido mais falar de amenidades, e eu não tenho me eximido de tocar nas feridas abertas. Qualquer pessoa que tenha a oportunidade e a força de escrever, de falar, de gritar, seja na rua, no Face, no Twiter, num blog ou meramente para os amigos, não pode se calar, não pode se isentar diante das calamidades a que estamos assistindo todos os dias.

Sentimos facadas no peitos todos os dias

As facadas que mataram o cacique dos Wajãpis são as mesmas que cortam a floresta. São parentes dos tiros que mataram Marielle, que teria feito 40 anos na semana passada. As facadas estão nas palavras do presidente (sic) que ameaçam um jornalista que está fazendo seu trabalho e mostrando ao mundo a sujeira do judiciário. As facadas não são as que ele supostamente levou, as que o livraram dos debates, as que não o fizeram sangrar e dadas por alguém que já está solto.

As facadas são as que sentimos todos os dias no peito, quando lemos sobre o desmonte do país, quando vemos que há um mês estão presos em São Paulo, por prisão política, Preta Ferreira e companheiros, por lutarem por um teto pelos sem teto…, quando lembramos de Lula preso no frio de Curitiba, quando está público e notório que sua condenação foi fruto de um ato inquisitorial.

[…]

Facadas são as que se afundam em nosso coração, ao vermos a ciência, as universidades, as artes, todo nosso patrimônio cultural, tão duramente construído, estar na mira de terraplanistas, que votam na ONU junto com as ditaduras mais retrógradas do planeta.

Estamos assistindo a um projeto de terra arrasada e a impotência dos que têm lucidez para enxergar isso está levando muito gente à desesperança, ao desespero, à depressão. Sou diariamente procurada por gente, que conheço ou não, para o desabafo do total desencantamento.

Pois aqui evoco Kardec, uma das minhas inspirações. No Livro dos Espíritos, há uma pergunta e uma resposta que se adequam muito bem ao momento presente:

– Por que no mundo, os maus exercem maior influência do que os bons?

– Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos; quando quiserem, terão a preponderância.

Onde estão os brasileiros solidários, os humanistas, os que acreditam que é preciso respeitar a vida, praticar a justiça imparcial e diminuir a miséria, a violência e, acima de tudo, preservar o Brasil como nação soberana e unida? Estão intimidados, paralisados, atônitos? Por que não se faz uma grande frente democrática nacional, unindo políticos suprapartidariamente, artistas, intelectuais, juristas, movimentos sociais, religiosos progressistas e também militares que ainda tenham um pouco de amor à pátria, e se organiza uma resistência contra a barbárie? As diferenças agora não importam. O passado de dissenções agora não importa. É preciso uma ação emergencial, para nos deter à beira do abismo.

Mas para todos nós no dia a dia da desesperança, o que nos cabe fazer? A resistência diária é nos solidarizarmos mutuamente, trabalhar nas bases para socorrer, consolar, ajudar. Não desistirmos da música, da poesia, da arte, da prece, do amor e da companhia das pessoas que nos fazem bem. Porque precisamos reunir forças, permanecermos saudáveis psiquicamente, até que a tempestade passe e enxerguemos a luz no final de não sei quantos anos.”

 

Para o Jornal GGN em 29 de julho de 2019.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

   I Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...