Pular para o conteúdo principal

CÉREBRO HUMANO PUBLICADO NA REVISTA “ESPIRITISMO E CIÊNCIA”



O cérebro é um complexo órgão composto de ligações, filamentos e redes bem estabelecidas que formam uma conexão transportando informações para todas as partes do corpo físico. Na “massa cinzenta” não há somente uma célula individual que decifra uma função distintiva, mas um grupo admirável delas vinculadas numa “rede neural”. A atividade comum dos múltiplos espaços do cérebro está abrangida com todas as funções cerebrais, incluindo as experiências de consciência, como os pensamentos, a visão, a audição, as destrezas.

A cada dia, a neurociência depara com vastos desafios (expostos ou ocultos) nas entranhas cranianas. “O cérebro assemelha-se a complicado laboratório em que o espírito – prodigioso alquimista – efetua inimagináveis associações atômicas e moleculares, necessárias às exteriorizações inteligentes.” (1) É a máquina (“hardware humano”) que expressa a inteligência no mundo material; por isso, muitos estudiosos da mente humana fazem da inteligência um predicado do cérebro. São fascinantes as transformações encefálicas que sobrevêm diante dos esforços de aprendizagens de idiomas, música, ciências exatas, artes em geral. Até mesmo nos transes mediúnicos há alterações cerebrais. Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Thomas Jefferson, da Filadélfia, EUA, monitorou os fluxos sanguíneos em diferentes regiões do cérebro durante a psicografia, sendo observada a atividade cerebral através de tomografia computadorizada por emissão de fótons únicos a áreas ativas e inativas. Foi constatado que a mediunidade altera a dinâmica cerebral. (2) Contudo, conforme Andrew Newberg, diretor de pesquisa do Myrna Brind Center of Integrative Medicine, “a reação cerebral à mediunidade recebe pouca atenção científica.” (3)

Admirável e insólito conjunto conexo de dezenas de bilhões de neurônios em rede específica e complexa, o cérebro é comparado ao mais extraordinário computador que o homem ainda não pode edificar. Suas secreções governam as reações de todo o cosmo fisiológico, trabalhando pela vida física e psíquica. Há semelhanças notáveis com a cibernética, pois os computadores contemporâneos são legítimos “cérebros artificiais”, conquanto extremamente elementares e restritos em analogia com o encéfalo psicossomático. São simples bancos de dados que resolvem entre duas opções, segundo um código preestabelecido e de acordo com o acervo de dados que têm registrado em suas memórias. É óbvio que não desejamos afirmar que o computador seja inteligente, e muito menos que tenha intuição, porém é exato expor que se aproveita de uma das qualidades da inteligência humana, ou seja, a memória.

Os resultados das pesquisas sobre as reações cerebrais, quando se estuda idiomas por exemplo, apontam para a expansão do hipocampo, dentre outros fenômenos encefálicos. Mas será que da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento do cérebro e o das habilidades e inteligências? Advertem os Benfeitores Espirituais para “não confundirmos o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades [aptidões e inteligências], e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.” (4)

O Espiritismo e a Ciência se completam, os princípios do mundo espiritual e as leis do mundo material são faces de um evento comum. A Ciência necessita do Espiritismo, tanto quanto o Espiritismo precisa da Ciência; isolados, não chegarão a um saldo final e submergirão no labirinto de suposições arriscadas. A neurociência é de viés essencialmente mecanicista, e logicamente, nesse caso, há uma diferença basilar entre uma ciência materialista e a ciência espírita, pois, enquanto a primeira faz do cérebro o excretor da habilidade e inteligência, a segunda faz do encéfalo apenas um instrumento do espírito, que é o ente inteligente individualizado.

Para alguns especialistas, um dos aspectos perturbadores do tema sintetiza-se nas indagações: “Cérebro menor é sinônimo de habilidade e inteligência mínimas?”; “Cérebro grande é garantia de uma inteligência e habilidade maiores?” Entendemos que habilidade (aptidão) e inteligência são atributos essenciais do espírito, portanto o corpo físico é simplesmente um envoltório que serve de instrumento para o exercício das capacidades espirituais. Entretanto, será que a massa cerebral maior realmente pode ser indício de maior aptidão e inteligência? E cérebro menor pode ser indicativo de inteligência e competência menor? As pesquisas de alguns neurocientistas garantem que sim.

Mas não podemos prever categoricamente a habilidade e inteligência de uma pessoa medindo o tamanho do seu cérebro. “Um dos alunos que estuda na universidade (Sheffield University) tem um QI de 126, ganhou prêmios como melhor aluno de matemática e tem uma vida social normal. Mas não tem cérebro, literalmente falando… Quando foi submetido a um exame, verificou-se que em vez de um cérebro normal de espessura de 4,5 centímetros entre os ventrículos e a superfície cortical, havia apenas uma fina camada de tecido de pouco mais de um milímetro de espessura. Seu crânio é preenchido apenas com fluido cerebrospinal.” (5)

É bastante difícil explanar sobre esses curiosos elementos a fim de apreciar a função desempenhada pelo cérebro; ir mais adiante, visando levantar pontos para melhor compreensão do assunto é desafiador. É interessante indagar aos neurocientistas: onde a sede da consciência e do pensamento? Do que são feitas as “vozes” e imagens da lembrança? Onde enxergamos as imagens produzidas pela imaginação? O que é o inconsciente e de onde brotam as lembranças antes de as termos conscientemente? O que é a mente e o que anima o corpo? São pontos que a neurociência não dá conta de explicar.

Conforme o Espírito André Luiz, o cérebro “se divide em três regiões distintas, onde, na primeira região, situamos a “residência de nossos impulsos automáticos”, simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados; na segunda, localizamos o “domicílio das conquistas atuais”, onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando; na terceira, temos a “casa das noções superiores”, indicando as eminências que nos cumpre atingir. Numa delas, moram o hábito e o automatismo. Na outra, residem o esforço e a vontade; e, na última, moram o ideal e a meta superior a ser alcançada. E assim distribuímos o subconsciente, o consciente e o superconsciente. Como vemos, possuímos em nós mesmos o passado, o presente e o futuro.” (6)

Mesmo que permaneça aparentemente estacionária, a mente (espírito) prossegue seu caminho, sem recuos, sob atuação das forças visíveis ou invisíveis. Na vontade, “temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino. Sem ela, o desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento; a inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade; a imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.” (7)

Ainda sob o enfoque espírita, “o cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria. A mente (espírito) é a mestra desse mundo microscópico, em que bilhões de corpúsculos e energias multiformes se aplicam a seu serviço. Dela procedem os fluxos da vontade, produzindo vasta rede de estímulos, reagindo ante as exigências da paisagem externa, ou atendendo às sugestões das zonas interiores. Posta entre objetivo e subjetivo, é coagida, pela lei divina, a aprender, verificar, escolher, repelir, aceitar, recolher, guardar, enriquecer-se, iluminar-se, progredir sempre.


 

Referência bibliográfica:

(1)    Xavier, Francisco Cândido. “Emmanuel”, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1938

(2)    As áreas do lóbulo frontal estão ligadas ao raciocínio, ao planejamento, à geração de linguagem, aos movimentos e à solução de problemas, pelo que os pesquisadores acreditam que durante a psicografia “mecânica” ocorre uma ausência de percepção de si mesmo e de consciência.

(3)    Artigo divulgado pela revista Public Library of Sciences, dezembro de 2012, disponível em http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/efe/2012/11/17/cientistas-estudam-o-cerebro-de-mediuns-brasileiros-em-transe.htm , acessado em 07/02/2013

(4)    Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, questão 370.

(5)    Bruce H. Lipton. A biologia da crença – Ciência e espiritualidade na mesma sintonia, (os  estudos pioneiros de Lipton sobre a membrana celular foram os precursores de uma nova ciência, a epigenética, da qual se tornou fundador e um dos seus maiores especialistas). Disponível em http://www.guia.heu.nom.br/cerebro.htm , acessado em 06/03/2013

(6)    Xavier, Francisco Cândido. No mundo maior, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1947.

(7)    Xavier, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1999.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: