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MÃOS DESARMADAS, MENTE EM PAZ

 


            Os conceitos de segurança e de sobrevivência são de alta importância para a vida das pessoas, em pé de igualdade com outras grandezas tais qual a saúde e a educação. A negligência em alguma dessas providências podem acarretar graves prejuízos à sociedade como um todo e à individualidade em particular. 

            Os conflitos que se repetem em torno da reatividade social, alimentados em parte pelas condições de disputas geopolíticas e de ocupação de espaço, produzem adversidades que interpõem arrazoadas de parte a parte em busca de posição de maior privilégio. As disputas se dão por ideologias de variadas naturezas e envolvem inclusive a busca da hegemonia no âmbito da própria religião. Religião que, aliás, descrita como movimento de “religar a Deus”, logo uma cidadela em que evitar as disputas deveria ser objetivo geral, mas há evidências de que não é assim tão simples o problema. Por essa razão, nós lutamos por muitos motivos. E as lutas que se multiplicam mundo afora vão desde a discussão de torcidas até explosões de bombas e decretação de mortes em frentes de batalha.

            Os perigos reais da vida moderna são manipulados para criar em nossas mentes a necessidade de empunharmos armas para enfrentar a violência dos dias caóticos do presente. O argumento é que, se há malfeitores armados, o cidadão deveria igualmente estar. Infelizmente esse argumento seduz e ganha muitos adeptos, até entre aqueles enfileirados em grupos religiosos. A consequência imediata é a elevação dos crimes por arma de fogo, especialmente dos feminicídios, tornando a violência urbana ainda mais aguda e cruel.    

            Na obra Pensamento e Vida, Emmanuel, pela psicografia de F. C. Xavier (FEB 1983), ensina que o “hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando constante indução à rotina”, pontuando a seguir que “Até agora, no mundo, a nossa justiça cheira a vingança e o nosso amor sabe a egoísmo, pelo reflexo condicionado de nossas atitudes irrefletidas nos milênios que nos precedem o ‘hoje’”.

            No capítulo 12 de O Evangelho Segundo o Espiritismo (Instruções dos Espíritos – O duelo) Allan Kardec, encerrados os testemunhos dos Mensageiros, propõe uma Nota, na qual informa que o hábito social daquele século era que os homens saíssem armados pela proposta de ataque ou defesa diante de qualquer ato julgado ofensivo, quando se travavam lutas provocando a morte de muitas pessoas. Conclui o apontamento com a seguinte reflexão: “O Espiritismo extinguirá esses derradeiros vestígios da barbárie, ao inculcar nos homens o senso da caridade e da fraternidade”.

            Relata Mateus (XXVI; 50 a 53) que Jesus acabara de ser abordado por um servo do sumo sacerdote que o levaria em prisão e um dos que estavam junto ao Mestre pegando sua espada corta a orelha do servo, e escuta de Jesus: “Embainha a tua espada, porque todos os que lançaram mão da espada à espada morrerão”.

            Se a nossa base for Jesus, haveremos de combater a violência do mundo curando-nos da violência. Jesus pregou e vivenciou a maior de todas as filosofias de pacificação do mundo. O seu verbo iluminado era acompanhado de mãos desarmadas e a mente em paz.   

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