sábado, 9 de janeiro de 2021

CONQUISTAR O MUNDO SEM PERDER A ALMA

 


           Nada sem custo na existência. Há quem julgue que Deus faz favores. Não faz. Há quem julgue que acontecem milagres. Não acontecem. O fio da vida é um novelo de consequências que o Espírito imortal manipula para o bem ou para o mal, cuja seta de direção aponta para a consciência de quem o desfia. Vivemos numa odisseia particular, enredados aos vínculos coletivos de convivências obrigatórias quando se ocupa um espaço na sociedade, numa teia complexa de relacionamentos.

            Muito natural que a pessoa busque, no decorrer de sua trajetória, as condições de bem estar e abastança, além do que signifique apenas a sobrevivência. Na via dessas necessidades do ser humano, em 1987 os Titãs (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Brito) compõem a canção Comida (“... A gente não quer só comer/ A gente quer comer/E quer fazer amor/ A gente não quer só comer/ A gente quer prazer/ Prá aliviar a dor...”). Um manifesto às necessidades mais amplas experimentadas pelo indivíduo em sua luta terrena.

            As conquistas humanas, mercê do processo de educação e do trabalho continuados, representam a remuneração do esforço, daí a exigência humanitária e inconteste que clama em favor de uma justiça social que assegure oportunidades amplas de inserção na escola e no mercado de trabalho como dispositivo de assegurar dignidade aos cidadãos, sem que a absolutamente ninguém seja vedada a entrada nesse ciclo virtuoso. Admitida a hipótese de viver-se num mundo necessariamente desigual, porque desigual é cada um em relação ao seu semelhante, não é difícil entender que haja diferentes status e condições pecuniárias, uma vez que essas também dependem dos pendores e qualidades individuais. Porém é inconcebível, e precisamos ter a grandeza de perceber, que no mundo desenvolvido tecnológica e socialmente em que estagiamos, haja um muro que separa os afortunados e os miseráveis, muro esse constituído pela hegemonia dos poderes econômico e político.

            Allan Kardec (LE – q. 717) tratando da Lei de Conservação (Das Leis Morais), manteve o seguinte diálogo com os Espíritos Superiores: “Que pensar dos que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário? – Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que ocasionaram”. Jesus em ensinando postura aos seus discípulos adverte (Marcos VIII, 36 e 37): “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?”.  

            O planeta pertence ao sistema solar, o qual gira em gigantescos eixos pelas via láctea. Somos apenas usuários de suas benesses. No fundo, a Terra é de ninguém em especial e de todos em geral. A única propriedade do Espírito encarnado é a sua própria existência, representado pelo corpo físico, que o reveste, tanto quanto as oportunidades de resgate dos males cometidos no passado. Associar a inteligência ao senso de amor ao próximo são os corrimões da escada evolucional que importa escalar. Os bens da vida são aqueles que carregamos dentro da consciência. O usufruto dos valores temporários da existência enobrece aos que consigam entender que a partilha é verbo que transforma o mundo e substantivo que nos torna uma só família sob as bênçãos de Deus.

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