A alma deve conquistar, um por um, todos os
elementos, todos os atributos de sua grandeza, de seu poder, de sua felicidade,
e, para isso, precisa do obstáculo, da natureza resistente, hostil mesmo, da
matéria adversa, cujas exigências e rudes lições provocam seus esforços e
formam sua experiência. (...). É indispensável a luta para tornar possível o
triunfo e fazer surgir o herói. Sem a iniquidade, a arbitrariedade, a traição,
seria possível sofrer e morrer por amor da Justiça? Cumpre que haja o sofrimento
físico e a angústia moral para que o espírito seja depurado, limpe-se das
partículas grosseiras, para que a débil centelha, que se está elaborando nas
profundezas da inconsciência, se converta em chama pura e ardente, em
consciência radiosa, centro de vontade, energia e virtude.
Verdadeiramente só
se conhecem, saboreiam e apreciam os bens que se adquirem à própria custa,
lentamente, penosamente. A alma, criada perfeita, como o querem certos
pensadores, seria incapaz de aquilatar e até de compreender sua perfeição, sua
felicidade. Sem termos de comparação, sem permutas possíveis com seus
semelhantes, perfeitos quanto ela, sem objetivo para sua atividade, seria
condenada à inação, à inércia, o que seria o. pior dos estados; porque viver,
para o espírito, é agir, é crescer, é conquistar sempre novos títulos, novos
méritos, um lugar cada vez mais elevado na hierarquia luminosa e infinita. E,
para merecer, é necessário ter penado, lutado, sofrido. Para gozar da
abundância, é preciso ter conhecido as privações. Para apreciar a claridade dos
dias é mister haver atravessado a escuridão das noites. A dor é a condição da
alegria e o preço da virtude, e a virtude é o bem mais precioso que há no
Universo. Construir o próprio eu, sua individualidade através de milhares de vidas,
passadas em centenárias de mundos e sob a direção de nossos irmãos mais velhos,
de nossos amigos do Espaço, escalar os caminhos do Céu, arrojarmo-nos cada vez
mais para cima, abrir um campo de ação cada vez mais largo, proporcionado à
obra feita ou sonhada, tornarmo-nos um dos atores do drama divino, um dos
agentes de Deus na Obra Eterna; trabalhar para o Universo, como o Universo
trabalha para nós, tal é o segredo do destino! Assim, a alma sobe de esfera em
esfera, de círculos em círculos, unida aos seres que tem amado; vai continuando
as suas peregrinações, em procura das perfeições divinas. Chegada às regiões
superiores, está livre da lei dos renascimentos; a reencarnação deixa de ser
para ela obrigação para ficar somente ato de sua vontade, o cumprimento de uma
missão, obra de sacrifício. Depois que atingiu as alturas supremas, o Espírito
diz, às vezes, de si para si: "Sou livre; quebrei para sempre os ferros
que me acorrentavam aos mundos materiais. Conquistei a ciência, a energia, o
amor. Mas, o que granjeei, quero reparti-lo com meus irmãos, os homens, e, Para
isso, irei de novo viver entre eles, irei oferecer-lhes o que de melhor há em
mim, retomarei um corpo de carne, descerei outra vez para junto daqueles que
penam, que sofrem, que ignoram, para ajudá-los, consolar, esclarecer". E,
então, temos Lao-Tse, Buda, Sócrates, Cristo, numa palavra, todas as grandes
almas que têm dado sua vida pela Humanidade!
Transcrição
parcial do capítulo XVIII – Justiça e Responsabilidade – O Problema do Mal, do
livro O Problema do Ser, do Destino, da Dor, de Leon Denis.
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