Pular para o conteúdo principal

BENEFÍCIOS DA PANDEMIA



Ao lado dos desastres causados na saúde e na economia (aí incluídos os empregos, naturalmente), pela pandemia do COVID 19, com todos os desdobramentos já conhecidos e aqueles que ainda nem imaginamos e que surgirão pela frente, considerando também os aspectos psicológicos e mentais na vida de muitas famílias – seja pelas dolorosas circunstâncias de morte e sepultamentos ou os impactos emocionais daí decorrentes – há que se buscar também os efeitos positivos da complexa ocorrência:

a)  O vírus nos igualou. Já não é a cultura, nem a posição social, nem a inteligência ou o poder que determina os desdobramentos. Todos a ele estamos sujeitos, se não nos precavermos. Isso disciplina uma nova mentalidade no comportamento social, embora a teimosia de muitos em assimilar tais lições;


b)     Embora aparentemente um paradoxo, nos aproximamos mais, apesar de fisicamente distantes. Fizemos descobertas incríveis com a tecnologia já disponível, embora não a houvéssemos valorizado antes em seu aproveitamento agora largamente utilizado;

c)      Alcançamos mais exata noção de nossa fragilidade e pequenez diante dos poderes que verdadeiramente governam a vida;

d)     Apesar de insistentes e ainda presentes, o vírus concentrou atenções e cuidados, deixando em segundo plano – pelo menos na mídia – os absurdos da corrupção e da criminalidade;

e)      Pais e filhos passaram a conviver mais diretamente, com as lições em casa e convivência mais amiúde;

f)     Casais e profissionais de todas as categorias tiveram que se reinventar suas rotinas, até por questão de sobrevivência.

g)     Largas adaptações em todos os segmentos sinalizam um novo tempo e uma nova forma de conduzir o cotidiano.

Claro que mais itens podem ser acrescidos e as preocupações não se centralizam em tais benefícios, antes buscamos as questões de sobrevivência principalmente e sentimos falta, por ser natural, imensa falta, da convivência social mais intensa, como habituados que estávamos.

A realidade, contudo, apresentou-se, exigindo adaptações. E essa nova realidade pode suscitar uma grande pergunta, entre tantas outras: “Qual nossa tarefa, nossa missão, daqueles que estamos e continuamos, homens e mulheres, em empresas e instituições, considerando a continuidade da vida social, ainda que adaptada?”

Breve reflexão indica que nosso compromisso comum pode ser dividido em três principais itens:

a) Instruir (isso cabe em todos os segmentos) = quem tem mais experiência deve preparar pessoas e transferir conhecimentos e experiências para quem está chegando e vai continuar, já que todos somos gradativamente e continuamente substituídos na sequência natural da vida humana;

b) Auxiliar o progresso = Nosso dever maior é fazer o que precisa ser feito, portanto, oferecer nosso esforço e trabalho em favor do progresso geral de todos;

c) Melhorar as instituições = A evolução da mentalidade humana produziu muitos conhecimentos que se distribuíram em variados segmentos das artes, da cultura, do esporte, da educação, da indústria, etc. E todo esforço de melhora em todos os segmentos deve ser permanente meta a ser perseguida, visando o bem da coletividade, aperfeiçoando métodos e práticas que resultem sempre na melhoria contínua da vida social.

Há um encadeamento natural na vida e seus segmentos. E todos podemos ser úteis de alguma forma, não havendo missão ou tarefa menor ou maior. Todas são importantes.

Mas estávamos excessivamente dominados pelo egoísmo (que ainda teima), iludidos por paixões variadas, seduzidos por posses e posições temporárias, envaidecidos muitas vezes por sonhos impraticáveis e mesmo cegos em situações variadas, gerando aflições e tumultos que nem percebíamos.

A pandemia chacoalhou a vida social, fazendo refletir. Estamos realmente conseguindo retirar lições da finalidade de sua vinda ou será preciso outra? O tempo dirá.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: