Pular para o conteúdo principal

MODISMOS E POSTURAS DISPENSÁVEIS


  
Estouram periodicamente no movimento espírita, numa alternância facilmente observável de um planejamento perverso muitas vezes nem percebido, ações e posturas – que em muitos casos viram modismos – que são plenamente dispensáveis, pois que inúteis.

São sugestionadas as censuras, as discriminações, as disputas. São escolhidos alguns tópicos ou temas – escolhidos os polêmicos, claro –, e até mesmo alguns livros ou pontos de vistas, que são alimentados pela presunção da sabedoria ou pela pretensão de denegrir. Elegem-se ídolos, constroem-se padrões planejados ou diretrizes como essenciais para direcionar a objetivos nem sempre claros, seguidos por desatentos, desinformados ou seduzidos.


Disputas, ídolos construídos, censuras, discriminações, polêmicas desnecessárias que só desviam do objetivo maior, egos buscados ou alimentados, são modismos. Igualmente são posturas dispensáveis. A nada servem. Na verdade, só desviam do objetivo essencial. Objetivo bem definido por Kardec.
Em “O Espiritismo em sua mais simples expressão”, encontramos:
“(...) 35 – O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso procurar nele senão o que pode ajudar no progresso moral e intelectual. (...)”

E mais adiante, nos itens 36 e 37 da mesma obra:
“(...) De nada adianta crer, se a crença não faz com que dê um passo adiante na via do progresso, e não o torne melhor para seu próximo. (...) O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência, são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como antídoto: a caridade e a humildade. (...)”

Muitas outras transcrições, decorrentes de pesquisas na mesa direção em toda a obra de Kardec, levam à mesma conclusão: o objetivo do Espiritismo é nosso melhoramento moral. Desviar-se desse objetivo é distorcer a prática espírita. Portanto, as situações acima citadas, onde podem também incluir-se a imposição de ideias e mesmo a inclusão de práticas estranhas, são fruto da imaturidade humana, acionada especialmente pelo egoísmo que ainda nos caracteriza as ações.

Então, ficamos a dizer que isso pode, aquilo não pode. Ficamos a distorcer a credibilidade construída sobre a lógica e o bom senso, qualificamos experiências e ensinos valorosos como ultrapassados, entre outras situações que a imaginação, a memória ou a constatação do leitor já identificou em seu cotidiano nas instituições.

Pois isso é incompatível com o Espiritismo. Isso é prática deturpada de espíritas desatentos e sem a conexão do conhecimento aliado à prática. Portanto, dispensáveis. Até porque os prejuízos gerados nos que se aproximam e encontram tais situações, ou mesmo a veteranos que se deixam contagiar ou se deixam conduzir, interrompem ou paralisam em definitivo iniciativas de inúmeros benefícios para muitos. Por força do egoísmo que impõe, que inclui na argumentação ilusória, que manipula buscando outros interesses ou que estabelece padrões de comportamento que nada tem a ver com a genuína prática espírita.

Isso tudo é fruto do egoísmo, é resultado da imaturidade, para os quais devemos estar atentos, para também não nos deixarmos levar, desviando ou desvalorizando nobres esforços consolidados ou em andamento.

Cuidado com os modismos. Eles passam e se ficarmos prestando atenção neles, deixamos de fazer aquilo que precisa ser feito, deixamos de cumprir o dever que nos cabe. Como identifica-los? Ah, isso é muito fácil! Basta observar a autopromoção, observar a ausência do bom senso e da lógica e também ver a presença do fanatismo. Também estão na inclusão de verdadeiros rituais, na imposição de modelos prontos e até mesmo na prevalência dos interesses pessoais, ao invés do interesse coletivo. Está também na manipulação das ideias e mesmo na mais fácil indicação que você pode observar: na pretensão da verdade e na preocupação constante da demonstração de infalibilidade.

Nesses casos, inclusive, seus protagonistas fogem do objetivo essencial da Doutrina Espírita, procurando impressionar os desprevenidos, com posturas e modismo plenamente dispensáveis, totalmente desconectados com o Espiritismo.

Por isso voltemos a Kardec: o objetivo essencial do Espiritismo é nossa melhora moral.

Comentários

  1. Concordo plenamente com a essência do pensamento transcrito no texto, mas quando se fala é para falar. Quais modismos? Sei que há muitos, mas seria interessante que o articulista dispusesse quais o induziram a trazer à baila comentário extremamente interessantes e pertinentes. Roberto Caldas

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: