Pular para o conteúdo principal

A LEI DO TRABALHO - ENTREVISTANDO UM JUIZ DO TRABALHO


 


Natural de Araraquara, no interior paulista, onde também reside, ALAN CEZAR RUNHO é formado em Direito (1996) pela USP e Juiz do Trabalho desde 1998. Entrevistamo-lo sobre a legislação trabalhista e as Leis Divinas.

1 - Como conciliar a imperfeição das leis humanas, concernentes às leis trabalhistas e a sabedoria das Leis Divinas quanto ao trabalho?
As leis humanas existem porque o homem ainda não aprendeu amar. Quando praticarmos a lei do amor em toda sua essência, querendo para os outros o que queremos para nós mesmos, constataremos o quanto as leis humanas são supérfluas. Ao nos pautarmos pela ética do Cristo nos relacionamentos humanos, a imperfeição das leis humanas deixará de ser um obstáculo.


2 - Da legislação humana específica do trabalho, em sua opinião, quais aspectos mais progrediram de forma a se aproximarem dos objetivos da Providência Divina com relação ao bem dos seres humanos no planeta?
Ao longo dos anos, destaco como os maiores progressos da legislação trabalhista: 1) o aumento da proteção do trabalhador em relação à duração da jornada e às condições de higiene e segurança do trabalho, evitando a prematura degradação física e psíquica do ser humano; 2) a proibição contra qualquer tipo de discriminação por motivo de sexo, idade, cor, crença religiosa ou estado civil, evidenciando o conceito da fraternidade; e 3) recentemente, o reconhecimento da identidade de direitos do trabalhador doméstico, tido por alguns como o segundo estágio da Lei Áurea.

3 - O que nos falta ainda aperfeiçoar na legislação trabalhista humana para maior proximidade com as Leis Divinas?
Assim como a dor nos alerta quanto à necessidade de retomar o caminho das leis divinas, penso que a legislação ainda é carente de mecanismos eficazes de persuasão ao cumprimento das obrigações legais. Embora o arcabouço jurídico seja bastante robusto na previsão de direitos e garantias, o empenho Estatal para o seu respeito ainda é deficiente. Nesse estado de coisas, muitos se sentem tentados ao desrespeito a direitos fundamentais dos trabalhadores, aumentando as tensões e conflitos.

4 - Nos embates jurídicos trabalhistas, o que é mais expressivo? Por quê?
Infelizmente, a ganância e a incapacidade de exercer a alteridade, de colocar-se no lugar do outro na relação. De um lado, empregadores que escolhem descumprir obrigações básicas para auferirem maior lucro, apostando na impunidade; de outro, trabalhadores que vêm nas demandas judiciais uma chance de enriquecimento; de ambos os lados, representantes que esqueceram, ou não conheceram, o verdadeiro objetivo da Justiça e enxergam o processo apenas como uma fonte de renda. Isso acontece porque ainda somos materialistas e imediatistas. O orgulho ainda é traço marcante em nós e não compreendemos a lição do Cristo quando nos ensinou que a bem-aventurança está na brandura e na pacificidade.

5 - O egoísmo e o orgulho ainda têm sido grandes obstáculos nas conciliações trabalhistas? Um juiz consegue atenuar esses quadros?
Penso que já adiantei tal convicção nas perguntas anteriores e respondo afirmativamente. A postura materialista advinda do egoísmo e do orgulho é o maior entrave à conciliação. O juiz consegue atenuar esse quadro quando age com serenidade e domina a arte da persuasão, como Jesus no episódio da mulher adúltera. Não foi com o emprego de força ou argumentação sólida, tampouco com a exibição de seu título de autoridade que Jesus fez cessar a agressão àquela mulher, mas com a persuasão.

6 - Suas palavras finais
Que possamos compreender o trabalho como uma ferramenta de evolução moral, e não como um meio de acumulação de riquezas materiais, tampouco como uma punição, como na interpretação precipitada da alegoria bíblica.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.