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MULHER, ONDE ESTAVAM OS QUE TE ACUSAVAM?







Conta o fato que uma mulher fora encontrada em adultério. Um grupo de fariseus e escribas a apresentaram a Jesus enquanto expunham o seu pecado em meio à multidão que se manifestava. Questionam o que fazer com ela, pois Moisés mandava apedrejar toda mulher dita adúltera. Dizem que Jesus escrevia no chão, certamente rabiscava, enquanto ouvia as insistentes solicitações de punições àquela que caíra em desgraça de um tribunal de rua composto por pessoas ensandecidas e quem sabe cruéis. Não há relato se ela pedia pela própria vida ou se chorava. O Mestre, como se olhasse o infinito diz para que todos possam ouvir: “quem dentre vós estiver sem pecados que seja o primeiro a atirar-lhe a primeira pedra” e continuou a rabiscar com o dedo na terra. Ao levantar a cabeça viu apenas naquela arena apenas a acusada, de pé a sua frente. Ele, então lhe perguntou, “mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” e ao saber que a turba condenatória havia saído cabisbaixa, um a um a partir dos mais idosos, Ele faz valer o Seu julgamento: “nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar” (João VIII; 08 a 11).

          O indivíduo contemporâneo vive assediado por milhares de informações que, de tantas e tamanhas, se perde na reflexão que lhes dão origem. Nem sempre dá para saber. Os meios de comunicação tratam de servir quente e mal assado os horrores do que gira no mundo como se fossem verdadeiros tiros de canhão a atingirem a fronte de cada pessoa que lhes empresta os ouvidos no afã de se tornaram bem informados. No relato acima expresso podemos refletir a atitude nossa cotidiana ante a exigência que a civilização nos impõe, que é a de adquirirmos a capacidade de filtrar e refletir antes de considerar o que haverá de sair de nossas bocas ou ser disparado de nossas mãos, pois palavras e pedras podem significar a mesma coisa dependendo do momento.
          Na qualidade de Judeu, Jesus deveria observar o que dizia Moisés, uma advertência velada dos que exigiam a mulher punida ou quem sabe morta. Queriam saber se Ele seria fiel à lei. Mal sabiam que o Galileu estava disposto a “não destruir a lei, mas a dar-lhe cumprimento” (Mateus V; 17). Havia apenas uma diferença, a lei que Ele defendia era a do amor, não a da vingança e não estava disposto a entregar à turba o direito de julgamento de outrem sem que fizessem o apanhado de suas deficiências morais, tendo se referido a isso quando falou sobre a trave e o argueiro (Mateus VII; 05). Libertar a mulher dos seus raivosos algozes, quem sabe entre eles até o próprio com quem ela fora encontrada, era uma questão de Justiça. E a justiça está acima das leis, essas mutáveis segundo o tempo e as transformações sociais. Apontar o caminho da reconstrução foi a maior sacada do mestre.
          Jesus apontava naquela absolvição que a vida continua. Chama a atenção para a mudança dos hábitos e a necessidade de aprender com os erros. Diante da falha, naquela ocasião representada pelo delito ali considerado, deve ter viajado, enquanto rabiscava no solo, ao seu período milenar de aprendizados e certamente terá recordado dos erros que deixara para trás. Como o maior vencedor que trazia ao planeta a sua saga de vitórias sobre si mesmo, a sua atitude foi apontar que a vida se transforma quando paramos de apontar o dedo em riste para os outros e aprendemos a ouvir a voz interior que nos convida à reflexão quando confrontados com os julgamentos nossos de cada dia.  

editorial do programa Antena Espírita de 28.01.2018

 

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