Pular para o conteúdo principal

O FUTURO, FAREMOS NÓS...SOBRE AS RUÍNAS DO QUE SE FOI






 
Os horizontes estão turvos. No Brasil e no mundo. Ameaças à liberdade (a pouca que existe), o capitalismo predatório cada vez mais buscando limitar qualquer poder estatal que lhe controle a sanha devoradora.

Mas nos Estados Unidos, bem onde se radica o império do capital, recente pesquisa mostra que metade dos jovens lá não apoiam o capitalismo. (veja mais)

Por que?


O capitalismo perdeu as máscaras. Ele faz escravos na China, na África, na Índia, no Brasil, numa cidade como Londres ou São Paulo. Ele ataca a natureza e desequilibra o planeta. Ele destrói o solo e cria sementes sem vida. Ele promove guerras para sustentar a indústria de armas e remanejar as peças de xadrez do poder no mundo. Ele submete a Ciência aos seus interesses. Ele invade a religião, tornando-a um negócio rentável. Ele toma conta da grande mídia, para controlar as mentes desavisadas. Ele quer cada vez mais ter nas mãos os sistemas educacionais, para formatar pessoas ajustadas e submissas ao mercado. No sistema capitalista, o ser humano não é fim, mas é meio, é instrumento, é descartável, é escravizável, é manipulável, para o enriquecimento absurdo de uns poucos. Isso não é crítica ideológica: são números. 1% da população mundial detém a mesma riqueza que os 99% restantes. Basta olhar a África, a Índia, basta olhar as periferias violentas de todas as grandes metrópoles, de Nova Iorque a Paris.

E então? Qual a alternativa para esse cenário trágico? É claro que, ao contrário do que pensa uma multidão desinformada, manipulada e que repete chavões da época soterrada da guerra fria, ninguém advoga hoje no mundo (pelo menos não há grupos significativos nessa linha) um socialismo na linha soviética, com um Estado totalitário, centralizador. Quando os defensores do neoliberalismo, sobretudo no Brasil, gritam palavras de ódio para chamar de comunistas os críticos desse sistema, estão pensando nesse modelo stalinista, superado historicamente e que não tem mais o mínimo clima para ressurgir das cinzas. Num cenário em que o presidente dos Estados Unidos visita Cuba, pode-se afirmar que não há mais essa polarização à moda da década de 60 no mundo. Ao contrário, temos um modelo econômico hegemônico, dominado pelos bancos e grandes corporações.

Diante desse modelo, os Estados de bem-estar social estão perdendo rapidamente terreno, tornando-se o que o neoliberalismo mais selvagem prega: o Estado mínimo. O que significa esse Estado mínimo? É aquele que não protege quem trabalha, mas deixa livre o capital para explorar o trabalhador como quiser (vi essa semana um vídeo de Olavo de Carvalho, um dos mentores da direita nacional, defendendo o trabalho infantil!! E estamos agora no Brasil com a ameaça quase concretizada da abolição da CLT). Não protege a natureza, mas deixa livre a exploração (como a que foi feita em Mariana e que redundou na tragédia que conhecemos). Não procura formar cidadãos pensantes através da educação, mas entrega as crianças e os jovens à doutrinação mercadológica de escolas, que tratam o aluno como cliente. A mercantilização da Educação a esvazia de sua essência pedagógica. Alunos são clientes, que estão comprando um produto. Os professores são os empregados da empresa, que vende esse produto.

 Podemos sonhar com a volta de um Estado forte que se oponha a tudo isso? Não creio, porque o Estado já deu mostras de ser um aliado desse capital, mesmo quando subam ao governo pelas vias democráticas, pessoas e grupos que queiram fazer algo pelo social – porque a própria democracia é financiada pelo capital e eis aí a impossibilidade de se avançar muito, mesmo com as melhores intenções. Aliás, o problema também no cenário do capital, é que as melhores intenções na maioria das vezes são compradas. Um Mujica é caso raro no mundo.

 Qual o caminho então? É o que os anarquistas do século XIX já propunham: a autogestão, o cooperativismo, a ajuda mútua, as associações livres… Nem o capital impessoal e internacional, nem os organismos estatais por ele financiados, alimentando políticos desonestos e incompetentes (que não os há só no Brasil, mas em toda parte e também não são necessariamente os 100%, mas quem sabe 90 ou 95% deles!) Mas sim atividades produtivas, educacionais, culturais, tecidas por pessoas livres que cooperam umas com as outras. Um voltar-se para o local, para a associação, para a liberdade de ação e a solidariedade mútua.

Utópico? Já começa a acontecer isso em vários lugares do planeta e a internet facilita essa formação de redes de cooperação.

O próprio capitalismo vai morrer por falta de espaço para mais consumo, como prevê Jeremy Rifkin.

Tudo isso me veio à mente diante da tragédia que está acontecendo com a Educação no Brasil. Há muitas décadas que a Educação pública tem sido sucateada, talvez num projeto pensado de propósito para feri-la de morte. Grupos internacionais estão se apossando de universidades e escolas particulares (e de editoras), submetendo cada vez mais a educação de nossos jovens às frias leis de mercado, que não têm nenhum comprometimento com qualidade, criticidade e… verdadeira educação. Agora, estamos assistindo no próprio Estado de São Paulo, um desmonte sistemático das escolas e das universidades públicas. Nesse futuro (des)governo federal, que nos caiu na cabeça agora, já se anunciam cortes drásticos nesse setor e na Saúde (duas áreas nevrálgicas do bem-estar social e da cidadania).

O cenário pode parecer desesperador. Mas os jovens valentes que estão ocupando as escolas mostram que há cidadania, liderança e indignação suficiente para contarmos com as novas gerações, para um futuro melhor. Esse futuro, penso, não passa mais por uma democracia representativa, financiada por empreiteiras, mineradoras, agronegócios. Esse futuro tem que caminhar para nos libertar do capital acumulado, do Estado que o protege e joga a polícia em cima dos cidadãos que protestam. Esse futuro tem que nos empoderar para construirmos as nossas escolas, as nossas universidades, as nossas linhas de produção e de gestão. Para isso, temos que aprender a renunciar à vontade de poder, aprender a não nos vendermos jamais e a considerarmos o bem-estar de todos, a condição para o nosso próprio bem-estar!

Esse futuro depende do empenho pessoal de cada um e da associação colaborativa, solidária entre os que querem um mundo melhor. Portanto, depende de nós! Não desistamos de construí-lo, por mais nos pareçam turvos os horizontes, pois todos os sistemas injustos, os governos ilegítimos, os opressores do povo, um dia caem. E sobre suas ruínas, hão de brotar as flores do amanhã.

fonte:  https://bloguniversidadelivrepampedia.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.