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RETORNO AO MUNDO








“O interlocutor tomou expressão de sincera fraternidade e acrescentou, estimulando-a:
- Espero, entretanto, que se encontre animada para a luta. É uma glória seguir para o mundo, nas suas condições. Milhares e milhares de horas de serviço a seu favor, perante a comunidade de mais de um milhão de companheiros” ( Nosso Lar – André Luiz – F.C. Xavier – FEB 47ª edição, pag. 260).

Daí a instantes, sensações de leveza invadiram-me a alma toda e tive a impressão de ser arrebatado em pequenino barco, rumando a regiões desconhecidas. Para onde me dirigia ? Impossível responder. A meu lado, um homem silencioso sustinha o leme. E qual criança que não pode enumerar nem definir as belezas do caminho, deixava-me conduzir sem exclamações de qualquer natureza, extasiado embora com as magnificências da paisagem. Parecia-me que a embarcação seguia célere, não obstante os movimentos de ascensão.
Decorridos minutos, vi-me à frente de um porto maravilhoso, onde alguém me chamou com especial carinho: - André!...André!...”(Nosso Lar – André Luiz – F. C. Xavier - FEB 47ª edição, pag. 196).
A partir do momento em que é recepcionado no edifício de entrada, tem os sentidos submetidos a uma série de imagens, visuais e auditivas, inéditas, que o transportam para um mundo particular e especial, sensibilizando-o e até assustando-o, por vezes, mas, sobretudo impressionando-o.
Embora tratado com especial cortesia pelos que o conduzem aos diversos ambientes, sempre com a consoladora frase “tenha confiança”, em cada um destes lugares os olhos e ouvidos são propositadamente despertados para imagens e sons até então desconhecidos. A cada passo uma expectativa nova, inesperada, chama a atenção. Há que firmar uma declaração inicial, enquanto é advertido por estranhas sentenças diante de si expostas. A seguir, em ambiente contíguo, sombrio e diferentemente decorado, novas advertências, imagens simbólicas e curioso questionário lhe são apresentados.
É chegada, finalmente, a hora de avançar, e depois de aleatoriamente perambular, eis que se lhe defronta o primeiro obstáculo físico. “Batei e abrir-se-vos-á”, Pedi e dar-se-vos-á”, lembra.
Interpelado, ajudam-no na própria identificação e propósito, até que após uma confirmação mais íntima do interior, é-lhe franqueada a possibilidade de seguir. Novamente questionado, enquanto caminha é levado a sérias reflexões e definições precisas, sob pena de não poder seguir o caminho pretendido e pelo qual almeja atingir o mais alto patamar de sua própria consciência.
Os caminhos são pedregosos, a definição há que ser somente vossa, advertem-no. Mas segue imperturbável. “Ora essa ! não se deixe levar por conjecturas – precisamos confiar na Providência Divina e em nós mesmos”, lembrou de como diria o sábio Ministro Genésio.
Ora, reconhecem-lhe qualidades e é autorizado a seguir. Mas tem que mais uma vez reafirmar as suas verdadeiras intenções e como não sabe por onde anda, dão-lhe companhia e instrumentos hábeis a lhe chamar a atenção.  Sente que o observam atentamente e se sente alienado e fraco, mas persiste. A viagem é obscura, mas almeja e espera que ao final tudo se esclareça e prossegue, indiferente às advertências e recomendações, mas fiel ao seu orientador e companheiro.
Eis que, vendo que não desiste, dão-lhe uma esperança. E dão-lhe também outros seguidores. E consultam as suas convicções, das quais não abre mão e as aceitam, mas impõem-lhe obrigações.
É então solenemente ungido, durante longo relatório compromisso, respeitosamente apresentado e ao final do qual é instado a submeter-se honrosamente.
Aceitam-lhe, finalmente, e levantam-lhe o ânimo. De volta à penumbra, agora como parte de uma longa e firme corrente, fazem-lhe vislumbrar um mundo iluminado, onde a sonoridade é harmoniosa. Agora tudo é novidade. Vê e não reconhece nada do que o cerca, mas em seguida lhe são dados a conhecer muitos e interessantes significados. Autorizam-no a recompor-se da desorganização física e psicológica.
Agora, então, recomposto, simpaticamente observado, é instruído e mais, familiarizado com procedimentos particulares e especiais, além de presenteado com belas peças ornamentais. Aplaudido efusivamente, sente-se um daqueles a quem há tempos admirava e ansiava por tornar-se igual. Ocorre-lhe agradecer àquele que o conduziu a este Novo Mundo.
Considerando-lhe membro de um seleto grupo, explicam sobre aquela Fraternidade e sobre a simbologia daquele Orbe para si desconhecido, mas que continua sendo humano, aduzem. É levado a pensamentos nobres e a imbuir-se o seu coração da dignidade humana. Ensinam-lhe sobre a necessidade de despir-se de todas as vaidades e de tudo o que representa valor material, a fim de alcançar a plenitude transcendental.
Levam-no, finalmente, a recordar toda a trajetória humana de busca da reforma interior, culminando com a demonstração de deveres e direitos e a reafirmação do aprendizado.
Recorda, agora, as palavras de Laura que, encorajada, asseverou: “tenho solicitado o socorro espiritual de todos os companheiros, a fim de manter-me vigilante nas lições aqui recebidas. Bem sei que o Orbe está cheio da grandeza divina. Basta recordar que o nosso Sol é o mesmo que alimenta os homens; no entanto, meu caro Ministro, tenho receio daquele olvido temporário em que nos precipitamos....”(Nosso Lar – André Luiz – F.C.Xavier – FEB 47ª edição, pag. 261).
E mais adiante, ainda lembra, ouvidas compreensivas palavras do Ministro, quanto à sua alegação, tornou Laura sensatamente: “contamos com as vibrações espirituais da maioria dos habitantes educados, quase todos, nas luzes do Evangelho Redentor; e ainda que velhas fraquezas subam à tona de nossos pensamentos, encontramos defesa natural no próprio ambiente”(Nosso Lar – André Luiz – F. C. Xavier – FEB 47ª edição, pag. 261).
Estou convencida agora... Precisava levantar energias. Faltava-me essa exortação. É verdade: nossa zona mental é campo de batalha incessante. É preciso aniquilar o mal e a treva dentro de nós mesmos, surpreendê-los no reduto a que se recolhem, sem lhes dar a importância que exigem. Sim, agora compreendo”(Nosso Lar – André Luiz – F. C. Xavier, pag. 262).
É então que o sonho chega ao fim, mas é imenso o seu contentamento.
“Qual menino que adormece após a lição, perdi a consciência de mim mesmo, para despertar mais tarde nas Câmaras de Retificação, experimentando vigorosas sensações de alegria”(Nosso Lar – André Luiz – FEB 47ª edição, pag. 199).



Referências Bibliográficas:
Nosso Lar (André Luiz) – psicografia de Fco. Cândido Xavier, FEB – 47ª edição – Rio-RJ;
O Evangelho Segundo o Espiritismo (Alan Kardec) – Tradução J. Herculano Pires – Capivari – SP – 1996; 
Ritual Apr. M. R. Schroder(Gr. Loj. Maç. do Estado do Ceará - 2{ edição - outubro de 2008

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