quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O DIA É HOJE¹







Há um anseio de eternidade permeando a nossa certeza de temporalidade. A inegável concretude da ocorrência da morte estabelecendo um ponto final em qualquer fase do ciclo humano não nos permite duvidar da fluidez da existência. O nosso período de tempo de vida na Terra não parece obedecer a qualquer regra estatística, apesar de se poder estimar a média de vida de uma população, tal não se aplica à individualidade.  Inclusive a Genética, ciência que joga luz a certos mistérios dos mecanismos celulares, não está absolutamente capacitada para estabelecer quantos anos haveremos de permanecer em posse do corpo físico.

            Significa que não temos senão a opção de tornar pleno o dia de hoje, pois esse dia passa a ser o nosso instrumento de ação para encarar os desafios naturais do ato de viver. Quando Jesus, no Sermão do Monte, aconselha a não “ocupar-se com o dia de amanhã”, Ele estabelece a conexão da existência com o momento que passa na vida de cada um, mostra a importância da atenção à ocasião que se tem em mãos sem adiamentos. A atitude de deixar para amanhã atrasa o passo e dispõe aos enganos, nos quais derrapamos com muita frequência. O principal deles é ter deixado passar as circunstâncias favoráveis que se apresentaram a nossa frente e foi postergada.
            O princípio da Reencarnação, defendido filosófica e cientificamente pela Doutrina Espírita, repõe o ciclo do nascer/morrer numa espiral de repetições que possibilitam aos seres espirituais refazer ou completar um aprendizado que deixaram escapar numa determinada encarnação. Ao contrário do que alguns adversários dessa idéia intentam referir, não há nessa lógica uma justificativa à inércia de uma existência pelo aguardo de outra oportunidade. A roda da vida se baseia no aprendizado que conduz à evolução. Cada situação que se apresenta no presente é passiva de aproveitada. Se não o fizermos, a lei indica retorno para repetir a experiência. Jamais nos veremos exatamente em uma situação idêntica a essa que experimentamos agora. Tratados de forma igual pela Justiça Divina, não temos senão que aproveitar as circunstâncias para fazer o melhor ao nosso alcance. Amanhã ou numa outra existência é uma dependência de como se responde à prova de agora, sem previsão da forma como vai se apresentar a nova experiência.
            Compreender que a eternidade é o dia de hoje, com todas as suas disposições e lutas, permite dar um passo muito amplo no alcance das nossas prerrogativas de progresso espiritual. A realização do exercício de estar atentos a nos transformar na melhor pessoa que conseguirmos ser, durante as 24 horas vividas, é o degrau que precisamos se quisermos galgar a escadaria da evolução. Não adianta contar com o tempo que não temos e com as disposições que não conquistamos se a verdadeira intenção é a aquisição dos valores superiores da existência. Reclamar e desculpar-nos pela reconhecida inferioridade individual é uma das piores atitudes, que tantas vezes repetimos. Cuide de zerar o seu dia de todas as coisas que não queira para si nem para os outros e a cada noite, antes de dormir, sinta-se feliz por ter utilizado o fragmento de eternidade que Deus lhe deu, da forma mais apropriada. Amanhã é um reflexo das atitudes decididas hoje. Reflita sobre as próprias necessidades e aja na solução, sem deixar para amanhã.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 16.10.2016

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