quarta-feira, 26 de outubro de 2016

FELICIDADE E PAZ








Felicidade, do latim felicitate, de acordo com os dicionaristas, “é o estado de quem é feliz”, ”é uma sensação real de satisfação plena”, “é ventura”, ´”é bem estar” e ainda que “é um sentimento passageiro”. Já a Paz, que deriva do latim “pacem” seria, segundo as mesmas fontes, “calma”, “sossego”, “tranquilidade”, “repouso”,” harmonia,” “ausência de conflitos”, “estado de calmaria”, um “estado de espírito”.
Consta que o homem não pode gozar, na Terra, de uma felicidade completa, visto que a vida lhe foi dada como prova ou expiação, mas que depende dele amenizar seus males e ser tão feliz quanto se pode ser sobre a Terra. Depreende-se, portanto, que se pode ser relativamente feliz.

Mas como alcançar essa relativa felicidade, diante das tribulações, conflitos, perdas, decepções, frustrações, crises, violência e tantas outras ocorrências a nos atingir durante as curtas existências que nos são dadas ?
Atribui-se, comumente, a saúde, a juventude, a posse de bens ou riqueza, a harmonia familiar, a paz, a religião e outros, como elementos necessários à felicidade. Assim entendendo, já um grande número entre nós estaria excluído, senão a maioria, desde que elementos contrários àqueles, como doença, senilidade, pobreza, conflitos familiares, vício e tantos outros, atingem um imenso número dentro das sociedades.
É possível viver feliz sem saúde, sem dinheiro, sem harmonia familiar ? Poderá reinar a paz em um lar desarmonioso, pobre ou acometido por doença ? Por outro lado, pode o indivíduo de boa condição econômica, jovem, em família harmoniosa, queixar-se da sorte ?
Quantos depoimentos reais o têm confirmado e através da via mediúnica  François –Nicolas- Madelaine assim exemplifica, em Paris, 1863: “Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim ! Exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isto prova, meus caros filhos, melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade da máxima do Eclesiastes: A felicidade não é deste mundo”
Se raciocinarmos no sentido coletivo, o mais provável é que no lar em conflito, onde tudo falta ou há moléstia entre os seus membros, não reine a relativa felicidade ou paz. Sim, porque estes sentimentos são individuais e cada ser tem a sua sensibilidade própria, no sentido de compreender, aceitar ou resignar-se. E estes atributos não resultam da educação, familiar ou escolar, mas do desenvolvimento interior de cada um, do espírito que é a individualidade humana. Cada ser é independente e reage conforme lhe inspira e orienta o mais recôndito da Alma. E é aí que se revelam os humildes. E embora “a felicidade não seja deste mundo”, depende de cada um “amenizar os seus males e ser tão feliz quanto se pode ser sobre a Terra”, como acima referido.
A felicidade, portanto, é construção individual. Pela intuição, o homem compreende que os reveses da vida não são impedimento para a paz e para a felicidade, mesmo que limitada, se ele é consciente de que é o artífice de tudo o que lhe ocorre, de bem ou de mal, como relatado em “Esperanças e Consolações”, Livro quarto, da Obra Original Básica do Espiritismo, onde Kardec colheu que: “o mais frequentemente, o homem é o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele se poupa dos males e chega a uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência grosseira”. E ainda comenta que: “o homem bem compenetrado de sua destinação futura não vê na vida corporal senão uma estada passageira. É para ele uma parada momentânea em má hospedaria. Ele se consola facilmente de alguns desgostos passageiros, de uma viagem que deve conduzi-lo a uma posição tanto melhor quanto melhor tenha se preparado”.
O sentimento de rebeldia, o desespero, a revolta, são manifestações de orgulho que denotam inferioridade espiritual, estágio em que o ser a tudo vê com desconfiança e rejeita se não satisfaz o seu interesse egoístico, tornando-se infeliz e fazendo a outros também infelizes. E isto não depende de categoria social, mas do desenvolvimento espiritual e moral, que leva à compreensão e à humildade.
Se alimentarmos a crença em uma vida futura, aceitaremos também, por intuição, as leis de Deus e se a praticarmos em toda a sua extensão, acabaremos por entender que temos uma destinação que depende das nossas ações de hoje. Se agirmos com humildade diante dos infortúnios, se nos resignarmos ante as decisões Divinas, alcançaremos a consolação e com ela a paz interior, definida como “calma”, “sossego”, “tranquilidade”, portanto, a felicidade possível, definida como “ventura”, “bem estar”, “contentamento”.
É pelo conhecimento pleno da nossa origem, da missão a que nos submetemos e destinação, que lograremos atingir a necessária reforma íntima, extirpando o orgulho e o egoísmo que o nosso atavismo moral há alimentado há séculos e motivado ao longo destes o sofrimento e o inconformismo.
E o Mestre Maior, através dos luminares da espiritualidade, nos tem instruído ao longo dos tempos, como o fez “Lacordaire”, em Havre, 1863, ao nos falar sobre o Bem Sofrer e Mal Sofrer, reproduzindo as suas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque deles é o Reino dos Céus”, aduzindo, ainda, que ele não se referia aos sofredores em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam num trono ou na miséria extrema. E logo a seguir esclarece que “poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao Reino de Deus”.
Concluímos, pois, com a sabedoria espiritual, que “para a vida moral, é a consciência tranquila e a fé no futuro, a medida da felicidade”.

Referências Bibliográficas:
O Livro dos Espíritos – Tradução Salvador Gentile – 104ª edição – IDE 1974 – Outubro 1996.
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução J. Herculano Pires – Capivari – SP – 1996.



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