segunda-feira, 13 de junho de 2016

HÁ MILAGRES?¹








                As muitas dificuldades enfrentadas pelo ser humano em sua saga de existir num mundo cada dia mais competitivo, e o acirramento das disposições em se alcançar resultados que permitam a cada um lograr saúde e bem estar numa paisagem de profunda desigualdade e ambições superlativas, transportam a pessoa a buscar no transcendental a resposta para diversas demandas. É muito comum ouvirmos frases que delegam a Deus o poder de modificar determinadas circunstâncias do cotidiano, há aqueles que vêem a Sua intervenção até mesmo no resultado final de disputas nos esportes, o que pensar quando alguém desenganado pela Medicina se levanta do leito e retoma as atividades?
            Por conceito (Dicionário Priberam) o milagre significa “fato sobrenatural oposto às leis da natureza”. Se as leis da natureza são a assinatura de Deus, como serem derrogadas? E o sobrenatural representaria além de Deus? Provável que precisamos nos entender quando o assunto deriva para a compreensão de tais temas. Sucede que desconhecemos a totalidade das leis universais, pois toda a nossa ciência ainda é lago raso em relação à profundidade do Universo. Somos verdadeiros ignorantes a respeito da Enciclopédia da Vida, ainda meros iniciantes nas pesquisas que cuidam do que há de mais imediato em torno do cotidiano. Lógico que sejamos surpreendidos com fenômenos que desafiam os patamares de nossas crenças.

            O senso comum vê nas circunstâncias inexplicáveis uma intervenção divina destituindo alguma de suas leis, o que parece em visão mais acurada uma certeza de que conhecemos a totalidade da Lei de Deus e daí decidimos pela Sua intervenção transformando-a. Não é dessa forma que acontece. Allan Kardec em A Gênese (cap XIII – Faz Deus Milagres?) nos apresenta a seguinte convicção: “Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários”.
            Por outro lado haveremos de compreender que a vida está cercada de milagres. O nascer e o pôr do Sol, a beleza da lua e das estrelas, o nascer e o sorriso das crianças, o espetáculo das flores, o congraçamento dos que se amam, os ciclos da natureza, a superação dos obstáculos, os avanços da ciência, a vida em si mesma. Viver pode ser visto como um milagre a cada momento, em qualquer circunstância, porque o que pode parecer desagradável e conflituoso em princípio muitas vezes esconde ganhos que só o tempo permite medir a sua importância na criação de novos rumos e que certamente não o seriam sem aqueles momentos de dificuldades. E para tanto não é preciso que aloquemos a nossa fé na busca de encontrar no diferente ao que sabemos algo que caminhe à margem da Lei de Deus.
            Antes fiquemos atentos para o ciclo que gera o processo de mudança que tanto esperamos quando um obstáculo de dispõe a frente: justiça, merecimento, necessidade, desejo e ação. Esse ciclo faz a roda girar, não exatamente para subverter, mas pela absoluta admissão de que Deus nos segue sem cessar e que as Suas Leis são Inexoráveis e Imutáveis concedendo-nos o direito inalienável de construirmos os nossos milagres todos os dias, eternamente, à medida que vamos conhecendo e reconhecendo o Seu Poder sobre nossas vidas.  

¹ editorial do programa Antena Espírita de 05.06.2016.

Roberto Caldas é escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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