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ALLAN KARDEC - "O SOLITÁRIO DA RUA DOS MÁRTIRES"





“Graças à sua visão genial, o solitário da Rua dos Mártires¹ conseguiu despertar os maiores cientistas do tempo para a realidade dos fenômenos espíritas, hoje estrategicamente chamados paranormais.”
(Ciência Espírita, J. Herculano Pires)



Solitário diante da ideia que defendia, mas amparado por uma plêiade de Espíritos Bem-Aventurados e ancorado em fé inquebrantável, Allan Kardec verga as mentes mais brilhantes do seu tempo, afirmando que os mortos estão vivos e inaugura assim a ciência espírita, que vem revelar ao mundo, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, bem como suas relações com o mundo corpóreo.
Analogamente, Allan Kardec é um solitário no contexto do movimento espírita brasileiro, por ser pouco estudado e conhecido por algumas centenas de adeptos.
Faz-se solitário quando se introduz na casa espírita terapias alternativas (florais de bach, cromoterapia, cristalterapia, etc.), como se fossem práticas espíritas.

Solitário é quanto à atitude mística adotada, em detrimento da fé raciocinada que enfrenta a razão face a face em todas as épocas da Humanidade.
A solidão que se colapsa quando se permite invadir pelo melindre, ferindo a tolerância que caracterizava a sua personalidade, cravada como lema em sua bandeira, sob a tríade Trabalho, Solidariedade e Tolerância.
Faze-o solitário, quando se opta por um Espiritismo religioso-igrejeiro, com cânticos, incensos, rituais, escapulários espíritas, sufocando suas dimensões de ciência de observação e doutrina-filosófica e moral.
Solitário o é, quando grupos cindem-se, criando-se outro à parte, por se pensar de forma diferente.
A mesma solidão é causada quando adeptos desertam por motivos banais.
Solitário se faz Kardec, quando seguidores da Doutrina Espírita silenciam diante da necessidade de serem críticos, pois a doutrina assim exige.
A mesma solidão se observa, quando se coloca a instituição espírita a serviço de privilégios pessoais, perdendo seu sentido original, passando a ser um instrumento destruidor de liberdades participativas.
É solitário, Allan Kardec, quando seus discípulos buscam se entronizar no poder institucional, ou quando não, em sistemas de revezamento dentro de um grupo/família, em estilo gerencial-diretivo ad eternum...
Solidão que se repete na medida que se constrói processos que dificultam o encaminhamento da unidade de princípios nas instituições espíritas, tão desejada por Kardec.
Não muito diferente, isso ocorre, quando se institui na casa espírita assistencialismo acrítico, segmentando-o entre assistentes e assistidos.
Ainda solitário, Kardec está, quando se exulta a mediunidade com a idolatria mediúnica, ou quando se a vilipendia, através do mercado editorial abarrotado de obras mediúnicas que chocam o bom senso, a razão e as conveniências doutrinárias.
A solidão de Kardec é a solidão do Espírito da Verdade, quando adeptos da Doutrina adotam posturas infladas pelo egoísmo, personalistas, que atravancam a sua marcha progressiva, contrariando os dois principais ensinamentos: “Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; Instruí-vos, eis o segundo ensinamento.”


¹ Rua dos Mártires nº 8, segundo andar, fundo do pátio -, residência particular de Allan Kardec em Paris, e onde ocorriam as reuniões por durante seis meses, antes da fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 01.04.1858.



Referências:

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo. EME. 1996;
PIRES, J. Herculano. Ciência espírita. São Paulo. USE. 1995.

Comentários

  1. Francisco Castro de Sousa31 de outubro de 2015 às 18:20

    Jorge Luiz gostei do seu texto, embora com um tom meio azedo, mas verdadeiro porque essa é a realidade que se observa no Movimento Espírita como um todo. Infelizmente Kardec hoje é o grande ausente de grande parte das instituições espíritas, não só do Ceará. Essa é uma grande verdade, o que se vê em grande parte das instituições que conhecemos: Atitude mística adotada, em detrimento da fé raciocinada!

    ResponderExcluir
  2. Castro,
    Leia o artigo do confrade Madson Góis, excepcionalmente reproduzido, por sugestão sua, em 03.11.2015.
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Caro Jorge, ponderações coerente sobre todos os aspectos,quer doutrinários, quer em avaliação crítica. Parabéns,o CANTEIRO DE IDÉIAS está nos levando a ótimas reflexões.

    ResponderExcluir
  4. Olá, meu amigo Raul!
    Que bom te ver participativo em nosso blog. Que outros se inspirem em você, e façamos desse espaço um fórum de ideias que nos elevem na convicção e vivência espíritas, que possibilita a ascensão da Terra a um mundo regenerado, conforme a definição de Kardec..
    Obrigado pelas palavras.

    ResponderExcluir

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