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MANTENDO OS VALORES DO CRISTO¹




Por Roberto Caldas (*)



        No belíssimo musical A Ópera do Malandro, o brilhante compositor numa de suas canções assinala: “vai trabalhar vagabundo, vai trabalhar criatura Deus permite a tudo mundo uma loucura”, traduzindo uma incongruente associação entre o termo vagabundo e a expressão trabalho, duas grandezas que ocupam espaços diferentes no ideário humano. Curiosamente aquilo que parecia uma advertência ao menos habilitado para pensar a sua vida sob a luz do esforço produtivo ganhou uma interpretação, aos olhos daqueles que se enfurnaram pelas cavernas da delinquência, quando o desafortunado que recolhe o resultado do suor do próximo lhe retira a condição de dignidade ao apontar-lhe uma arma chamando-o de vagabundo, numa absoluta inversão de papéis.

            Tal ocorrência, cada vez mais temida e presente nas estatísticas policiais, escancara uma chaga pestilenta que consome o direito à liberdade do ir e vir nas cidades brasileiras pondo em alerta os segmentos da Segurança Pública que oscilam entre o pasmo e a incompetência na busca das respostas para a violência humana nossa de cada dia. Questiona-se nas ruas e nos gabinetes quando perdemos a noção exata da convivência respeitosa para afundarmos no lamaçal do binômio caça/caçador entre seres da mesma espécie, a humana. O discernimento nos diz que o problema passa longe da sabida condição social do país, mergulhado ainda na pobreza da imensa maioria de sua população, pois em hipótese alguma a pobreza é sinônimo de criminalidade.
            O espetáculo de horrores é conseqüência de engendrado plano de destruição da família, mercê da ambição absolutamente vampiresca de uma arremetida capitalista que afundou a sociedade humana numa guerra de valores equivocados, na qual se determinou que para se alcançar a vitória se impõe que haja derrotados do outro lado. A ausência da educação formal e da educação espiritual, aliada às desigualdades de oportunidades, se apresentam como os fatores precipitantes do drama que vivemos em nossas ruas.
            Fundamental sabermos que o Espírito evolui obrigatoriamente passando pela fieira da ignorância, o trajeto pela maldade é uma atitude não natural e que compromete a consciência (LE, q. 120), condição que produz pela lei de Ação e Reação a necessidade de ressarcimento. A imperfeição da ignorância não gera a insensatez da maldade no Espírito, a última resultante do nosso descompromisso com a dignidade e a ética, disposições que precisamos exercitar sob quaisquer desafios de dor e desconforto que o mundo contemporâneo nos imponha.

            É imperioso que não percamos a fé no futuro nem permitamos que os estertores do desamor que passeiam pelas nossas cidades nos atinjam a certeza quanto às promessas de Jesus que insistem em augurar o nosso planeta como a grande herança aos mansos e aos pacíficos. Façamos o esforço necessário para que a transformação que esperamos aconteça ao mundo inicie na autotransformação, como assim assinalava Gandhi ao aconselhar que resistíssemos ao mal e buscássemos estabelecer uma atitude de Paz diante dos atos de maldade que testemunhamos no mundo. Gandhi apenas refletia Jesus. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 04.05.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.                 

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