terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O PERFECCIONISMO CARINHOSO






“Agradeço: Ao todo que somos nós! À união, ao perfeccionismo carinhoso de cada um dessa equipe (família) maravilhosa! (Maria Gadú) (*)





            Ouvi recentemente em emissora de rádio local entrevista de musicólogo cearense que analisava o cenário musical na contemporaneidade. Na entrevista ele relatou fato muito interessante ocorrido com um amigo, também musicólogo, presente em apresentação de gala no exterior. A apresentação fora brilhante motivando-o a indagar a um monge ao seu lado se havia gostado da apresentação. O monge respondeu que sim, mas gostara realmente do momento da afinação dos instrumentos pelos músicos.
            O momento do afinar o instrumento é solitário para o musicista. Ele busca a perfeição na sonoridade. Acredito que todo musico é perfeccionista ao afinar o seu instrumento. No entanto, em poucos minutos esse perfeccionismo dilui-se pela harmonia que compõe o Ser coletivo: a orquestra ou o grupo. Todos passam ao anonimato. Não mais o violonista, o saxofonista, o clarinetista etc. Esse tipo de perfeccionismo é considerado por alguns estudiosos do comportamento humano como “normal”
            Já há outros que consideram o perfeccionismo como distúrbio neurótico, transtorno da personalidade. Nesse caso, apresenta nuanças que vão desde a pouca autoestima e confiança, com reações terríveis ao erro, bem como o não confiar nas habilidades e potencialidades do restante do grupo de trabalho, exigindo deles um perfeccionismo cobrado de si mesmo.
          Acredito que há uma equivalência vetorial entre esta variável de perfeccionismo e o personalismo que se constata nas relações interpessoais em ambientes grupais, principalmente de natureza religiosa. O personalismo propõe uma visão egocêntrica da vida e exacerbada de si mesmo. O personalista não se permite enriquecer com as diferenças. O Espírito Bezerra de Menezes designa-o de personalismo deprimente.

            Deriva do latim persona, máscara do ator ou personagem teatral. É a valorização de si mesmo, podendo tomar as mais variadas forma de máscaras: vaidade, tirania, vileza, leviandade etc. O personalista é insensível às opiniões alheias.
     Como, de fato, um homem bastante fútil para crer na importância da sua personalidade e na supremacia de suas qualidades, poderia ter, ao mesmo tempo, bastante abnegação para ressaltar nos outros o bem que poderia eclipsá-lo, em lugar do mal que poderia pô-lo em destaque? Assim comenta Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, X:10.
            O personalismo cria obstáculos intransponíveis nas relações interpessoais dificultando a redenção espiritual e o progresso dos integrantes do grupo.
            O “perfeccionismo carinhoso” exaltado no agradecimento de Maria Gadú à sua equipe (família) é o mesmo percebido pelo monge e, surge das emoções mais sutis da alma, que eleva; é metafísico. Como epifenômeno da alma, logo também o “perfeccionismo carinhoso” é Estético, pois se relaciona com o Belo, pela produção e percepção de fenômenos estéticos. Por isso para perceber e vivê-lo, há a necessidade de sensibilidade.
            A sensibilidade consiste na capacidade de perceber como os outros pensam, sentem e tendem a agir, concomitantemente à própria atuação. Somente permitindo a participação plena dos membros de um grupo é que eles passarão a sentir de modo diferente, e não pensar só de modo diferente, e desenvolverão a sua sensibilidade social, pela própria condição de seres sociais que somos, conforme esclarece “O Livro dos Espíritos”, em a Lei de Sociedade.
             A sensibilidade é o entender, mais pelo sentir que pela razão. Ela está viva no “ouvido educado” à sonoridade harmônica do Monge e de Maria Gadú.
           O “perfeccionismo carinhoso” relaciona-se com o humanizar, vértice direito - espiritizar e qualificar, os outros vértices - do triângulo equilátero estabelecido pelo Espírito Joana de Ângelis para o desenvolvimento do movimento espírita brasileiro.           
            O “perfeccionismo carinhoso” é ecológico, quando reconhecido e valorizado na Casa Espírita destrói o personalismo que desfalece todos os esforços de união e unificação entre os espíritas, como bem atesta Francisco Cândico Xavier: “Não entendo unificação sem união... A unificação espírita no Brasil tem esbarrado no personalismo daqueles que se dispõem a promovê-la.”
         O Centro Espírita, portanto, é um laboratório de sensibilidade. Nele é que iremos adquirir a capacidade de percepção e formas mais adequadas de reações em situações interpessoais, ao desenvolvimento de maior flexibilidade de comportamento necessária à vida e à convivência grupal. Há o aprendizado com os erros e acertos.
            A sensibilidade que necessitamos desenvolver nos núcleos espíritas para que eles se tornem laboratórios de sensibilidade está estruturada na recomendação do Mestre Galileu quando diz que: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.” (Mt, 13:16)   É o ouvir e ver não pela razão, mas pelo coração. É ouvir e ver o próximo de forma integral, despojando-nos de crenças, preconceitos e idiossincrasias.
            Desenvolver o “perfeccionismo carinhoso” é tarefa do cotidiano, principalmente dos integrantes de grupo espírita, indistintamente.

(*) extraído da contracapa do seu mais recente álbum “Mais Uma Página.” A frase inspiradora foi enviada por nossa seguidora Luciana Pinheiro.

4 comentários:

  1. Necessitamos de um bom tempo para chegar a este ponto climax. Desenvolver o “perfeccionismo carinhoso” é tarefa do cotidiano, principalmente dos integrantes de grupo espírita, indistintamente.
    Vamos ao trabalho, agradecendo ao nosso amigo Jorge por nos chamarmos a tarefa.
    Helane

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  2. Ligiane Neves - Casa do Caminho de Aquiraz4 de outubro de 2012 às 21:34

    Excelente material, parabéns mais uma vez!
    Sim, é verdade, o perfeccionismo carinhoso, bem definido no texto, só se torna possível quando se abre mão do personalismo, caracteristica muito comum e forte no movimenta espírita.
    Forte abraço Jorge, muito te agradecemos por esse trabalho.
    Luz e inspiração sempre para vc e todos que integram o Canteiro de Ideias!

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    1. Ligiane Neves, concordo com você quando diz "Sim, é verdade, o perfeccionismo carinhoso, bem definido no texto, só se torna possível quando se abre mão do personalismo, caracteristica muito comum e forte no movimenta espírita.", e até estenderia suas palavras dando um sentido mais amplo que seria mais ou menos assim - onde há pessoas há personalismo, na doutrina espírita, nos nossos trabalhos, em casa etc.

      Acredito, que o personalismo está ligado ao egoísmo ou ao orgulho... nós todos ainda carregamos estas duas chagas.

      Porém, nós podemos pensar em Chico Xavier e relembrar os seus exemplos de amor ao próximo totalmente desprendido do egoísmo, sendo depois de Jesus e entre tantos a expressão do carinho ao próximo sem personalismo.

      Sociedade Espírita a Caminho da Luz - Beberibe

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  3. A sensibilidade consiste na capacidade de perceber como os outros pensam, sentem e tendem a agir.Porém no campo da vida,onde mais atuamos e representamos,nos esquecemos deste real e importante ,o sentir.Com isso poderíamos avançar em direção a seres humanos melhores.

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